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    Lava Jato

    'Que se ferrem todos os que têm de pagar', diz Ciro sobre Palocci delatar

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A OXFORD

    14/05/2017 17h27

    Cynthia Vanzella / Divulgação Brazil Forum
    O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), em evento sobre o Brasil em Oxford
    O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), em evento sobre o Brasil em Oxford

    O ex-governador Ciro Gomes, pré-candidato às eleições presidenciais pelo PDT, comentou neste domingo (14) as perspectivas de que Antonio Palocci faça sua delação premiada, como anunciado recentemente. Não se diz ansioso: "Quero que se ferrem todos".

    "Todos. Quem deve tem que pagar", afirmou a jornalistas após discursar em Oxford no Brazil Forum, um evento voltado a estudantes brasileiros que moram no Reino Unido.

    O ex-governador criticou, no entanto, a maneira com que a delação premiada tem sido utilizada nas investigações da Lava Jato. Disse, por exemplo, que as declarações dadas não têm valor sem provas -e, no meio-tempo, destroem reputações.

    "Um dos maiores interessados em que a Lava Jato tenha êxito sou eu. Não estou em lista nenhuma", Ciro disse. "Se os caras forem culpados, fico provavelmente sozinho na área. Mas isso não me permite violentar minha consciência jurídica."

    Ciro havia participado de um debate na mesma mesa do ex-ministro Jaques Wagner, que disse à Folha que tampouco se preocupa com a delação de Palocci.

    "Eu não sei o que ele vai falar. Se alguém pode estar tenso, é quem teve relacionamento com ele", disse. "É difícil que o Lula tenha preocupação. O Lula e a Dilma."

    "A coisa do Lula não é o patrimônio. É muito mais fazer política. Inventaram um triplex, um sítio. Dizem que há milhões em uma conta no exterior. Cadê a conta?".

    Questionado sobre as razões que levaram Palocci -ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil- à delação, Wagner disse não existir surpresa. "No sistema jurídico que vivemos, a delação virou a única saída para não ficar preso por muito tempo."

    Réu em dois processos em Curitiba, Palocci teme que suas penas possam ultrapassar os 30 anos de prisão. A negociação do acordo será feita pelos advogados Adriano Bretas e Tracy Reinaldet.

    INTRIGA

    O tema do debate entre Ciro e Wagner era o futuro da política após o impeachment e a Lava Jato. No sábado, o juiz Sergio Moro e o ex-ministro José Eduardo Cardozo, do PT, haviam falado entre vaias e aplausos.

    "Querem transformar a política em uma torcida organizada de futebol", disse Wagner, criticando a crescente polarização brasileira.

    Wagner criticou também a existência do cargo de vice-presidente, que descreveu como "gasto de dinheiro" e "fórum de intriga". No caso do afastamento de Dilma, ele disse que teria sido melhor haver eleições antecipadas.

    "Vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito só servem para tramar", disse. "Com a rapidez em que a gente chega de avião, não tem sentido ter um vice."

    O debate entre Wagner e Ciro não teve grandes demonstrações políticas da plateia, ao contrário do dia anterior, quando Moro e Cardozo causaram comoção. Em outra mesa, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso foi chamado de "golpista".

    Já o ex-ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, foi chamado de "demagogo".

    Ananias havia feito duras críticas às reformas implementadas pela gestão do presidente Michel Temer. "Do que Karl Marx e Rosa Luxemburgo não conseguiram me convencer, esse governo golpista conseguiu.

    O Brazil Forum, que neste final de semana reuniu em uma mesa o juiz Sergio Moro e o ex-ministro petista José Eduardo Cardozo, foi organizado por um time de 18 estudantes brasileiros no Reino Unido, todos voluntários.

    Foi a segunda edição do evento, que também trouxe neste ano nomes como os ex-governadores Ciro Gomes (PDT) e Jaques Wagner (PT), que dividiram um painel sobre a política nacional.

    Os debates do primeiro dia foram realizados na capital britânica, na London School of Economics. O encerramento, neste domingo, ocorreu na Universidade Oxford.

    A advogada Fernanda Farina, uma das organizadoras do fórum, diz que o evento foi criado "em um país pré-impeachment, completamente dividido". "Nós queríamos ser parte do debate."

    O Brazil Forum é financiado por uma série de parcerias, incluindo as universidades, a embaixada brasileira, a Fundação Lemann e empresas como a Latam e o Uber. Não há fim lucrativo.

    ELETRICIDADE

    As mesas, em ambos os dias, opuseram palestrantes de visões distintas. Em um debate sobre economia, por exemplo, discordava-se sobre as reformas previdenciárias e tributárias. Sobre geopolítica, havia divergência sobre a real dimensão da política externa brasileira.

    Encontros como o do juiz Moro e do ex-ministro Cardozo, que defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff durante seu processo de impeachment, eletrizaram a audiência -que vaiava e aplaudia ambos simultaneamente.

    O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso foi chamado de "golpista". O ex-ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, foi por outro lado chamado de "demagogo".

    "Mostramos que é possível, sim, Moro sentar ao lado de Cardozo para discutir a reforma do Judiciário", disse Farina. Com a vantagem de que, no exterior, tanto palestrantes quanto público pareciam mais à vontade para debater. "Tiramos a discussão do olho do furacão."

    Os estudantes brasileiros que organizaram o fórum esperam, agora, que o evento entre para o calendário britânico e se propague em outros paineis durante o ano.

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