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    Deputado teria sido filmado pela PF com mala de R$ 500 mil

    DE SÃO PAULO

    17/05/2017 22h32

    Bruno Poletti - 7.abr.2016/Folhapress
    O deputado Rodrigo Rocha Loures, em 2016; ele teria sido filmado pela PF com mala de R$ 500 mil
    O deputado Rodrigo Rocha Loures, em 2016; ele teria sido filmado pela PF com mala de R$ 500 mil

    A Polícia Federal filmou o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, segundo delações de executivos do grupo.

    Loures teria sido o indicado pelo presidente Temer para resolver uma questão de interesse do grupo, segundo Joesley.

    A afirmação, publicada pelo jornal "O Globo", foi confirmada pela Folha.

    O Planalto divulgou nota negando. Procurado em seus dois telefones celulares, o deputado não foi encontrado. Sua secretária também não atendeu a reportagem.

    Segundo a delação de Joesley, ele pediu ao presidente Temer uma ajuda para resolver uma pendência de seu grupo no Cade, órgão de controle da liberdade de concorrência.

    O empresário disse à Procuradoria que Temer lhe sugeriu procurar Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

    Loures foi assessor especial da Presidência até março, quando voltou à Câmara no lugar do ministro da Justiça, Osmar Serraglio. No governo Dilma Rousseff, foi chefe de Relações Institucionais da Vice-Presidência quando o cargo era ocupado por Temer.

    Segundo o jornal "O Globo", Joesley se encontrou com Loures e pediu ajuda em questão que envolve o preço do gás fornecido pela Petrobras à termelétrica EPE, usina do grupo J&F.

    O empresário afirma na delação que Loures ligou para o presidente em exercício do Cade e pediu solução para o caso, em troca de R$ 500 mil semanais por 20 anos.

    A entrega do dinheiro, feita por Ricardo Saud, diretor da JBS e um dos sete delatores, foi filmada pela PF.

    AÇÃO CONTROLADA

    A filmagem do pagamento de propina faz parte do que se costuma chamar de ação controlada, forma excepcional de investigação policial.

    Esse tipo de ação ocorre quando um criminoso, réu ou mero suspeito aceita coletar provas para a polícia, com a supervisão direta, apoio tecnológico e eventual intervenção das autoridades policiais no processo.

    A coleta de provas faz parte de um acordo de delação no qual o investigado terá benefícios, como um tempo menor de prisão ou mesmo a extinção da pena.

    A ação controlada está prevista na nova lei de organização criminosa, a de número 12.850 de 2013. É a mesma lei que criou regras mais bem definidas para os acordos de delação premiada.

    A ação controlada é pouco utilizada pela polícia porque há riscos óbvios para o investigado, há temor de que a prova seja anulada pela Justiça e exige um aparato tecnológico e um grau de conhecimento que, talvez, só a Polícia Federal tenha no Brasil.

    No caso da JBS, a Polícia Federal colocou chip no pacote de cédulas que integravam o pacote dos R$ 2 milhões supostamente pedidos pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) para pagar seu advogado e seguiu as notas eletronicamente.

    Como os chips emitem sinais, a PF conseguiu monitorar o caminho das malas de São Paulo até Belo Horizonte, onde as cédulas foram depositados em uma empresa do senador Zezé Perrela (PMDB-MG), aliado político e amigo de Aécio.

    É a primeira vez que a Operação Lava Jato recorre a esse tipo de ação para produzir provas.

    Já ocorreram outras gravações, como as feitas pelo filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, e pelo ex-senador Delcídio do Amaral, mas não havia a participação da polícia que caracteriza o controle sobre a ação.

    Também foi ação controlada a gravação de conversa entre Joesley e o presidente Michel Temer, na qual se discute o pagamento de suborno ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, segundo executivos da JBS.

    Em sua delação, Joesley também envolve o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Guido Mantega, que seria o interlocutor para entrega de recursos ao PT.

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