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    Lava Jato

    Joesley Batista diz que pagou R$ 4,7 mi desde 2010 a pedido de Temer

    RUBENS VALENTE
    LAÍS ALEGRETTI
    ANGELA BOLDRINI
    DE BRASÍLIA

    19/05/2017 13h02 - Atualizado às 18h02

    Evaristo Sá/AFP
    Brazil's President Michel Temer speaks during a press conference following allegations that he gave his blessing to payment of hush money to a politician convicted of corruption, on May 18, 2017 in Brasilia. Temer faced growing pressure to resign Thursday after the Supreme Court gave its green light to the investigation over allegations that he authorized paying hush money to already jailed Eduardo Cunha, the disgraced former speaker of the lower house of Congress. / AFP PHOTO / EVARISTO SA ORG XMIT: ESA098
    O presidente Michel Temer durante discurso em que negou ter intenção de renunciar

    No acordo de delação premiada homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, afirmou que a pedido do presidente Michel Temer aceitou fazer pagamentos totais de R$ 4,7 milhões, de 2010 a março de 2017.

    O empresário afirmou ainda que no acordo incluiu um "mensalinho" de R$ 100 mil e um repasse, em espécie, de R$ 300 mil para as mãos do marqueteiro de confiança de Temer, Elsinho Mouco.

    Os dados constam de um "anexo" entregue por Joesley à PGR (Procuradoria-Geral da República), segundo revelou nesta sexta-feira (19) o site "O Antagonista". O "anexo" é um roteiro do que o empresário pretendia contar ao Judiciário caso tivesse aprovado o acordo de delação premiada com a PGR. A segunda etapa é a confirmação desses dados, em depoimentos.

    No "anexo", Joesley descreve que o seu relacionamento com Temer começou em 2010, quando foi apresentado ao peemedebista pelo ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi. Segundo Joesley, Rossi lhe disse "que era afilhado político de Michel Temer e operava com ele no Porto de Santos".

    Durante a campanha eleitoral de 2010, na qual Temer era o vice na chapa de Dilma Rousseff (PT), segundo Joesley, o atual presidente pediu que ele pagasse R$ 3 milhões "em propinas", que foram divididas da seguinte forma: R$ 1 milhão "através de doação oficial" e R$ 2 milhões para a empresa Pública Comunicações por meio de duas notas fiscais.

    A Folha apurou que há uma empresa com nome semelhante, Pública Comunicação, em nome do marqueteiro. Nos registros da TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não existem contratações da Pública

    Na mesma época, Joesley "concordou com o pagamento de uma propina" de R$ 240 mil à empresa Ilha Produções. Segundo Joesley, após a eleição de Temer na campanha de 2010, o empresário esteve com o vice-presidente "em múltiplas ocasiões, não menos que 20 vezes, ora em seu escritório de advocacia ora na residência de Temer e ora ainda no Palácio do Jaburu", em Brasília.

    Nesse período, segundo Joesley, Temer "pediu que pagasse a ele mensalinho de R$ 100 mil", além de mais R$ 20 mil ao então secretário-executivo do ministério, Milton Ortolan. Joesley disse que "aquiesceu e determinou o pagamento, que foi feito dissimuladamente por cerca de um ano".

    CAMPANHA DE CHALITA

    Durante a campanha eleitoral de 2012 para a Prefeitura de São Paulo, segundo Joesley, "Temer voltou a solicitar o pagamento de R$ 3 milhões para a campanha do então candidato Gabriel Chalita", do PMDB. "Os valores foram pagos por meio de caixa 2, mediante diversas notas fiscais, conforme planilhas a serem anexadas."

    Segundo Joesley, seu relacionamento com Temer "se estreitou". Durante o processo de impeachment contra Dilma Rousseff, Joesley disse que Temer o convidou "para uma reunião no escritório jurídico" do então vice, nos Jardins, em São Paulo.

    "[Temer] pediu a JB [Joesley] propina no valor de R$ 300 mil para pagar despesas de marketing político pela internet, pois o mesmo estava sendo duramente atacado no ambiente virtual", diz o "anexo" entregue por Joesley.

    O empresário disse que "prometeu pagar a propina e Temer orientou JB [Joesley] fazê-lo a 'Elcinho' [Elsinho] marqueteiro de sua confiança. JB [Joesley] chamou então 'Elcinho' em sua casa e lhe entregou os 300 mil em espécie", afirma o "anexo".

    OUTRO LADO

    A Folha procurou as pessoas citadas por Joesley. O Palácio do Planalto pediu que as perguntas fossem encaminhadas por escrito e respondeu que as informações "não procedem". A reportagem não conseguiu contato com Gabriel Chalita e com Milton Ortolan.

    O marqueteiro do presidente Michel Temer (PMDB), Elsinho Mouco, confirmou, em nota divulgada nesta sexta-feira (19), ter conversado com o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, sobre um trabalho de "defesa digital" para o então vice-presidente no ano passado.

    Em sua delação, Joesley afirmou ter pago R$ 300 mil "em espécie" para Mouco a pedido de Michel Temer, que estaria incomodado com as críticas que vinha sofrendo na internet durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Na nota, Mouco confirmou as conversas, mas não deixa claro se e quando recebeu o dinheiro de Joesley.

    Já o ex-ministro Wagner Rossi informou, por email, que conheceu o empresário Joesley Batista quando foi ministro da Agricultura e disse que não participou de reuniões que tivessem tratado de qualquer ilícito. Informou que encerrou a atividade pública e que está aposentado há quase seis anos.

    "[Josley] Era um grande empresário do setor, de trato cordial, que demonstrou interesse em conhecer o então deputado Michel Temer, presidente do meu partido. Não vi problema nisso. É importante ressaltar, aliás, que o próprio texto da delação não diz que eu tenha participado de reunião para tratar de qualquer ilícito."

    Rossi diz, ainda, que recebeu oferta de trabalho de Joesley após deixar o ministério e que declinou porque estava cumprindo quarentena. Depois do prazo, diz que prestou "colaboração remunerada" a uma empresa do Grupo JBS.

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