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    Lava Jato

    PF interceptou conversa telefônica de Temer com Rodrigo Loures

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    19/05/2017 13h53 - Atualizado às 15h06

    Ueslei Marcelino/Reuters
    Brazil's President Michel Temer reacts as he speaks at the Planalto Palace in Brasilia, Brazil, May 18, 2017. REUTERS/Ueslei Marcelino ORG XMIT: BRA103
    O presidente Michel Temer durante o discurso em que disse que não renunciará ao cargo

    Com ordens judiciais emitidas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na Operação Patmos, a Polícia Federal interceptou pelo menos uma conversa telefônica entre o presidente Michel Temer e seu ex-assessor e homem de confiança, o atual deputado federal Rodrigo Loures (PMDB-PR).

    No diálogo, Temer conversa com Loures sobre de uma expectativa que o deputado federal tinha a respeito de novas regras para o setor de portos.

    A conversa, ocorrida no último dia 4, foi transcrita pela Polícia Federal nos autos da Patmos. Loures consegue falar com Temer a partir de um telefone celular em poder de um assessor de Temer. Ele repassa o aparelho para o presidente da República.

    Loures disse que pretendia "só fazer uma consulta". Segundo o deputado, havia chegado a informação do senador Wellington Fagundes que "já teria sido assinado o decreto dos Portos, não sei se é verdade ou não". O senador estava preocupado pois teria agendado uma reunião sobre o assunto com o ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS).

    Temer corrigiu: "Não foi não". O presidente o orientou a falar com o Padilha e confidenciou: "Aquela coisa dos setenta anos lá para todo mundo parece que está acertando aquilo lá".

    Na semana da interceptação, o governo federal estudava conceder, por meio de um decreto, um prazo de 70 para empresas arrendatárias de áreas de portos.

    GILMAR E AÉCIO

    Outra ligação interceptada ocorreu entre o ministro do STF Gilmar Mendes e o senador Aécio Neves (PSDB).

    Segundo o relatório policial sobre essa conversa, ocorrida no dia 26 de abril, Aécio "pediu ao ministro [Mendes] para que telefonasse para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-AM). Neste diálogo, o senador investigado [Aécio] pede que o magistrado converse com Flexa Ribeiro para que este siga a orientação de voto proposta por Aécio". A referência é a votação do projeto que tratava de "abuso de autoridade" em discussão no Congresso Nacional.

    Em resposta ao pedido de Aécio, o ministro do STF respondeu: "O Flexa, tá bom, eu falo com ele". Aécio explica que Flexa "é o outro titular da comissão, somos três, sabe?"

    Mendes confirma que falou sobre o assunto com outro senador, Anastasia (PSDB-MG). "Eu falei... eu falei com o Anastasia e falei com o Tasso. Tasso não é da comissão, mas o Anastasia..."

    Aécio pede que o ministro do STF fale com Flexa sobre "a importância disso". O senador mineiro disse que o ministro do STF deveria afirmar a Flexa para "acompanhar a posição do Aécio porque eu acho que é mais serena".

    "Eu falo com ele... eu ligo pra ele... eu ligo para ele agora", respondeu o ministro do STF.

    Segundo a Polícia Federal, no mesmo dia da ligação telefônica o plenário do Senado aprovou o substitutivo do senador Roberto Requião (PMDB-PR) ao projeto que altera a definição dos crimes de abuso de autoridade.

    A investigação também interceptou duas ligações telefônicas entre Aécio e o próprio diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Na primeira conversa, Aécio fala sobre o depoimento dele que estava marcado na Operação Lava Jato, e que depois seria adiado por decisão do ministro do STF Gilmar Mendes.

    Numa segunda ligação, Aécio pede um espaço na agenda de Daiello para "falar sobre a previdência", assunto em discussão no Congresso.

    Os documentos revelam que os aparelhos telefônicos de Aécio e de Loures estavam sob interceptação judicial -ou seja, os grampos não ocorreram nos telefones de Gilmar Mendes e de Michel Temer. No juridiquês, são provas coletadas de "forma fortuita".

    O mesmo ocorreu no caso da ligação para Daiello.

    Relatórios sobre essas ligações constam de documentos liberados por ordem do ministro do STF Edson Fachin nesta sexta-feira (19).

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