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    Lava Jato

    Propina da JBS foi distribuída até na presença de criança de quatro anos

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    19/05/2017 18h10 - Atualizado às 19h40

    O lobista Ricardo Saud, que operava para JBS, foi surpreendido quando a irmã do doleiro Lúcio Funaro, Roberta Funaro, apareceu junto com uma criança de quatro anos de idade para buscar uma mala com R$ 400 mil em dinheiro.

    A situação deixou Saud inicialmente constrangido, mas o mal-estar foi rapidamente desfeito, já que Roberta lidou com a questão de maneira natural, relatou o lobista em depoimento prestado em 10 de maio deste ano, que faz parte da delação dos executivos da JBS.

    Roberta foi presa em São Paulo na última quinta-feira (18) pela Operação Patmos.

    O dinheiro era para comprar o silêncio de Funaro na cadeia. O ex-deputado Eduardo Cunha e o doleiro, que atuavam em conjunto, recebiam mesadas de R$ 400 mil para não delatar o esquema de propina a autoridades pago pela empresa.

    O acordo de delação da JBS não guarda relação com outros firmados na Lava Jato. Nele, os procuradores arranjaram para que integrantes da empresa continuassem operando o esquema como se nada tivesse acontecido.

    As entregas de dinheiro e encontros com agentes públicos ou emissários eram monitorados pela Polícia Federal, em operações chamadas "ações controladas".

    Saud disse em depoimento que quando Roberta apareceu com uma criança no colo, houve constrangimento. Ele chegou a hesitar, mas prosseguiu na operação. O encontro teria ocorrido, segundo ele, ocorreu em abril passado.

    "Ela chegou lá as 15h e por surpresa, foi buscar a mala com uma criança de quatro anos de idade no colo. A criança tinha saído da escola... Aquilo foi um pouco constrangedor, mas a gente tinha feito acordo, não podia parar, nós demos sequência, preservando sempre a criança", relatou Saud.

    Segundo Saud, a mala de dinheiro estava em um carro estacionado próximo à escola que a empresa mantém ao lado de seu escritório, na zona norte de São Paulo.

    Os três entraram num carro blindado da empresa. Roberta sentou na frente com a criança no colo. A mala estaria no chão do banco de trás. Saud guiou o veículo um estacionamento próximo, onde um táxi esperava Roberta.

    "Eu desci, abri a porta, educadamente, desci a criança e falei 'vamos contar o dinheiro?'", disse ele. Ela teria respondido, segundo Saud: "Não, não. Não precisa contar, aqui nunca sumiu dinheiro". "Ela pegou a mala, entrou no carro, passou a cancela e dali seguiu na marginal", afirmou.

    A Polícia Federal fez o vídeo do momento em que os três entram no carro da JBS. Um outro vídeo mostra o momento em que Roberta salta do táxi e embarca em um terceiro carro, particular, no estacionamento de um shopping, a dez quilômetros do local da reunião.

    A polícia fez diversos vídeos com pessoas carregando malas de dinheiro. Em um deles, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) aparece deixando um restaurante em São Paulo correndo com uma mala de dinheiro na mão.

    Reprodução
    O deputado rodrigo Rocha Loures (de paletó) e Ricardo Saud, diretor da JBS, se encontram na cafeteria Santo Grão, em São Paulo, em abril deste ano
    O deputado Rodrigo Rocha Loures (à esq.) e Ricardo Saud se encontram em cafeteria, em São Paulo

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