O empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, diz em um dos depoimentos que integra o acordo de delação premiada que, o depoimento em que afirmou ter dito a Michel Temer como estava influenciando na Operação Greenfield era uma "bravata" que depois se mostrou real. A operação investiga a JBS e subsidiárias em esquema de uso irregular de dinheiro de fundos de pensão.
"Eu disse pro presidente Michel que eu tinha comprado um procurador por R$ 50 mil, que eu tinha acertado o juiz e que eu estava vendo uma forma de substituir o Anselmo [Lopes, procurador responsável pela força-tarefa da Greenfield]. Isso jamais aconteceu, substituir o Anselmo. E em relação ao juiz, eu usei esse caso, mas não posso dizer que fui eu, por isso que eu disse que era bravata. Porque quando eu faço, eu faço eu mesmo. Tanto é que não sei se ele deu R$ 50 mil pro Ângelo [Vilella, procurador da força-tarefa preso na quinta-feira, 18]. Hoje eu tenho esse conjunto de evidências de que não era bravata".
Danilo Verpa - 13.fev.2017/Folhapress | ||
Empresário Joesley Batista, dono da JBS, na sede da empresa, em São Paulo |
Joesley diz ainda que, após a primeira visita para depoimentos da delação à Procuradoria-Geral da República, Vilella de alguma forma ficou sabendo da decisão da delação. "Logo depois da nossa visita, o Willer Tomaz [advogado contratado para defender subsidiária do grupo na Greenfield e que tinha dito pagar a mesada ao procurador preso] ligou para o nosso advogado bastante nervoso, bastante preocupado, e falou 'olha, tô sabendo que vocês tão fazendo a delação. Não vai prejudicar os meus amigos'".
O empresário afirma que, no dia seguinte, diversos políticos ligados a Tomaz começaram a se afastar. "Eu tinha pedido pra falar com o senador Renan (Calheiros) e não consegui. Em situação normal, eu sempre tive ótima relação com o senador Renan. Ele não me atendeu, mas também não disse o porquê", conta o dono da JBS.
Além de Renan, Joesley cita também o distanciamento de Romero Jucá. "O senador Jucá, que eu também tenho ótima relação, mandei mensagem dizendo que precisava falar com ele, ele não me respondeu, sumiu. Eu percebi um certo movimento", diz.
MESADA PARA VAZAMENTO
No depoimento, dado à Procuradoria-Geral da República no dia 27 de abril, Joesley Batista afirma ainda ter ouvido uma gravação de audiência da Operação Greenfield vazada pelo Procurador da República Ângelo Goulart Vilella.
Segundo Joesley, o advogado Willer Tomaz o encontrou em um hangar no aeroporto de Brasília e mostrou a gravação, enviada por Vilella, presente na audiência. Joesley diz que Tomaz mostrou o histórico da conversa com o procurador em seu celular e disse que apagaria a gravação depois –mas Joesley gravou.
Conforme o empresário, o vazamento era parte do acordo de Tomaz com o procurador para o repasse de informações, pelo qual Vilella recebia uma mesada de R$ 50 mil. Joesley diz, no entanto, não ter "contratado" o serviço, e que Willer Tomaz fazia os pagamentos por conta própria.
O empresário afirma que, nas tratativas de contratação para defender a Eldorado subsidiária do grupo, Tomaz mencionou ser próximo a um dos juízes da vara em que corria o caso, Ricardo Soares Leite.
De acordo com Joesley, Tomaz deixou claro que não havia propina para o juiz, mas que poderia exercer influência. "Ele foi muito claro: 'Com o Ricardo não tenho negócio nenhum financeiro. Eu sou amigo dele, a gente janta junto, tem ótima relação, nossas mulheres se conhecem. E eu acho que posso influenciar'", diz o empresário à Procuradoria-Geral da República.
Joesley teria então pedido um encontro com o juiz, que nunca ocorreu. Após Tomaz ser contratado –conforme a delação, o escritório recebeu R$ 4 milhões pela causa, e receberia mais R$ 4 milhões caso houvesse êxito e o inquérito fosse arquivado–, comentou que seria um amigo dele do Rio de Janeiro que se juntaria à força-tarefa do Procurador da República Anselmo Lopes, responsável pela Greenfield. O amigo se provou ser o procurador Vilella.