• Poder

    Friday, 03-May-2024 13:36:51 -03

    Lava Jato

    Executivo da JBS detalha R$ 175 mi em propina à coligação de Dilma e Temer

    RAFAEL GREGORIO
    DE SÃO PAULO

    20/05/2017 09h07

    Daniel Marenco - 24.jul.2014/Folhapress
    SAO JOAO DE MERITI, RJ, BRASIL, 24-07-2014, 20h30: A presidente Dilma Roussef participa de encontro de campanha do governador do Rio, Luiz Fernando Pezao, o vice-presidente da republica, Michel Temer, o prefeito do Rio, Eduardo Paes e outras liderancas politicas na churrascaria Oasis, em Sao Joao de Meriti. (Foto: Daniel Marenco/Folhapress, PODER)
    Dilma Rousseff e Michel Temer durante evento de campanha no Rio de Janeiro em 2014

    Diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud detalhou, em delação premiada, valores pagos pela empresa para comprar os partidos da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer na eleição presidencial de 2014.

    Conhecido como "o homem da mala", pelo papel protagonista na articulação das propinas, Saud teria destinado em nome da empresa cerca de R$ 175 milhões às legendas.

    Para se ter ideia, foram cerca de R$ 5,1 bilhões em gastos oficiais e declarados nas eleições de 2014, incluindo os pleitos para a Presidência da República e também para os governos estaduais.

    O delator deixa claro que o valor não corresponde ao total pago pela empresa a título de propinas, mas sim a um movimento no início da campanha.

    A maior parte, diz, foi paga mediante notas fiscais falsas para simular serviços prestados. "No final, vamos ter citado mais de cem escritórios de advocacia, tudo notas falsas", diz.

    Segundo o relato de Saud, "todos os partidos tinham consciência de que isso [os valores repassados] era propina paga pelo PT" em retribuição ao suporte do partido ao grupo de Joesley Batista.

    O presidente da República, Michel Temer (PMDB), então candidato a vice-presidente com Dilma, era o maior articulador desses repasses ilegais, diz Saud.

    "Com relação à Dilma [Rousseff], não posso afirmar [que ela tinha conhecimento], porque nunca estive com ela, graças a Deus", respondeu o executivo quando perguntado se a ex-presidente petista tinha consciência desses pagamentos.

    "Já com Michel Temer", ele completa, "tenho certeza que sabia de todos [os acertos financeiros], porque eu mesmo o comuniquei. Estive com ele muitas vezes, não foram poucas".

    Veja a delação

    Saud detalhou uma das "muitas" oportunidades em que esteve com Temer: "era na Copa do Mundo, um jogo da Holanda que eu vi com o Michel Temer na casa dele, lá na praça, alto de Pinheiros [em São Paulo]. Fui lá com o bilhete que está nos anexos, detalhando os R$ 35 milhões que estavam sendo doados ao senadores", afirmou.

    "Falei: 'ó Temer, tá iniciando a campanha, Joesley [Batista, dono da empresa] achou por bem avisar que está doando R$ 35 milhões que não estão passando pelo senhor".

    A quantia, ele afirma, se destinava a comprar líderes do PMDB no Senado e na Câmara: Eduardo Braga, Jader Barbalho, Vital do Rêgo, Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Valdir Raupp e Henrique Alves são alguns dos citados.

    Devido à insistência dos políticos, o valor teria sido ampliado para R$ 46 milhões.

    "Naquele momento havia uma sensação de que o Aécio [Neves] tinha chances reais de ganhar a eleição. Então o PT tentou trazer os caciques do PMDB pra eles", explicou Saud.

    Segundo ele, havia resistência entre a cúpula peemedebista ao nome de Michel Temer, e por isso foi preciso investir em comprar essa dissidência.

    "O PMDB é o partido hoje no país que tem a maior militância: organização em todos os Estados e quase todas as cidades. Isso barateia demais uma campanha".

    O executivo afirma ainda que pagou R$ 36 milhões ao PR, R$ 42 milhões ao PT, R$ 4 milhões para o PDT e R$ 10 milhões para o PCdoB.

    O PSD, do então senador e hoje ministro Gilberto Kassab, teria ficado com R$ 40 milhões, negociados pelo próprio Kassab.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024