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    Lava Jato

    Assessor de ministério recebeu para fiscalizar rivais da JBS, diz delator

    ITALO NOGUEIRA
    DO RIO

    20/05/2017 13h09 - Atualizado às 14h25

    Reprodução
    Rocha Loures (de paletó) e Ricardo Saud, diretor da JBS, se encontram no café Santo Grão, em abril, em SP
    Rocha Loures (de paletó) e Ricardo Saud, diretor da JBS, se encontram no café Santo Grão, em abril, em SP

    O diretor de relações institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud, afirmou em delação premiada que pagou ao menos R$ 2,5 milhões ao jornalista Luiz Fernando Emediato, quando trabalhava como assessor especial do Ministério do Trabalho, para aumentar a fiscalização de frigoríficos concorrentes da JBS.

    O alvo, disse Saud, eram os frigoríficos pequenos, que tinham pouca fiscalização. O diretor da J&F disse que o pagamento foi feito por meio de notas frias emitidas em nome da Geração Editorial, de propriedade do jornalista.

    "Contratamos o Emediato para ele fiscalizar os pequenos que nunca tinham fiscalizado. A gente sabia que se fizessem o que fazem conosco iam fechar todos os outros frigoríficos. Eles não aguentam fiscalização", afirmou Saud ao Ministério Público Federal.

    O lobista diz que Emediato chegou a apresentá-lo ao então ministro do Trabalho Brizola Neto (PDT), mas afirmou que o então titular da pasta não tinha conhecimento do pagamento.

    Delação de Ricardo Saud

    Saud disse que gastou "entre R$ 2,5 milhões e R$ 2,8 milhões" com o esquema, sendo pago R$ 20 mil por frigorífico concorrente fiscalizado. De acordo com o relato, os fiscais começaram a atuar atendendo ao acordo em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

    "Eu disse para ele: 'Eu sei que as pessoas aí ganham pouco e tal. Vê quem você quer colocar em Minas e no Rio e a gente ajuda a pagar aí'. Dá uma propina, resumindo. [...] Era uma fiscalização que eles já tinham que fazer, igual ao que eles fazem no nosso todo dia", afirmou o diretor.

    O depoimento não determina em que data ocorreram os pagamentos. Brizola Neto foi titular da pasta entre 2012 e 2013.

    Procurado pela reportagem, Emediato afirmou que o diretor da J&F "é um criminoso confesso que tenta se livrar da prisão".

    "Fui um mero assessor ministerial no breve período em que aceitei participar do governo Dilma e não tinha poder para fazer o que esse Saud de fato pediu. Basta ir ao Ministério e verificar que essa 'fiscalização' maluca jamais foi feita", afirmou o jornalista.

    Emediato disse que firmou um contrato com a JBS, empresa do grupo J&F, de assessoria de comunicação "sobre o mercado de carne podre".

    "Isso é algo que Saud provavelmente ignora e a empresa não pode negar. Estou à disposição para explicar isso às autoridades. E provavelmente terei mover ação contra esse delator criminoso e irresponsável", declarou ele.

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