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    Lava Jato

    Temer diz que gravação é 'fraudulenta' e que Joesley cometeu 'crime perfeito'

    GUSTAVO URIBE
    BRUNO BOGHOSSIAN
    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA

    20/05/2017 14h58 - Atualizado às 18h52

    Folhapress
    BRASÍLIA, DF, 20.05.2017: O presidente Michel Temer durante pronunciamento no Palácio do Planalto a respeito das denúncias e áudios da delação da JBS. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
    Michel Temer em seu segundo pronunciamento no Palácio do Planalto sobre as delações da JBS

    Em pronunciamento na tarde deste sábado (20), o presidente Michel Temer afirmou que a gravação de que foi alvo foi "fraudulenta e manipulada" e atacou o delator Joesley Batista, da JBS.

    "Ele cometeu o crime perfeito. Enganou os brasileiros e agora mora nos Estados Unidos. Quero observar a todos vocês as incoerências entre o áudio e o teor do depoimento. Isso compromete a lisura de todo o processo por ele desencadeado" (leia a íntegra).

    A defesa do presidente pediu ao Supremo a suspensão do inquérito até que sejam avaliadas as gravações.

    Temer, trajando camisa social e sem gravata, também citou as reformas em curso e a melhoria em indicadores econômicos. "Meu governo tem rumo. O Brasil não sairá dos trilhos, eu continuarei à frente do governo."

    Temer chamou de "pífia" a acusação de corrupção pela qual é investigado no STF (Supremo Tribunal Federal), a partir de delação de Joesley, e disse que continuará à frente do governo.

    "O Cade não decidiu a questão solicitada por ele. O governo não atendeu a seus pedidos. Portanto, naõ se sustenta a acusação pífia de corrupção passiva."

    O presidente também citou o BNDES e disse que a presidente do banco, Maria Silvia Bastos Marques, "moralizou o BNDES, colocou ordem na casa, e tem meu respeito e meu respaldo para fazê-lo".

    Em seu segundo pronunciamento desde o início da crise aberta pela delação premiada da empresa, o presidente atacou o executivo da JBS e tentou de desqualificar as suspeitas levantadas pela delação. Temer declarou que Batista cometeu "falso testemunho".

    Íntegra do pronunciamento de Temer

    A defesa de Temer, comandada pelo advogado criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, argumenta que a investigação não pode prosseguir enquanto não for analisada a validade da gravação de uma conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista, que embasou a abertura do inquérito.

    A estratégia de Temer é contestar a legalidade da gravação, atacando falhas no áudio entregue à PGR (Procuradoria-Geral da República), para tentar postergar o avanço da investigação.

    Temer iniciou a sua fala citando reportagem da Folha em que Ricardo Caires dos Santos, perito judicial pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, aponta em laudo que a conversa entre Temer e Joesley sofreu mais de 50 edições.

    "E registro que eu li hoje notícia do jornal Folha de S.Paulo de que a perícia constatou que houve edição do áudio de minha conversa com o senhor Joesley Batista. Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos", disse Temer em discurso lido por meio de teleprompter.

    A avaliação do Planalto é de que há caminhos para salvar Temer das acusações feitas contra ele no âmbito jurídico, mas a suspensão do inquérito seria importante para reduzir o peso político que a condição de investigado confere ao presidente.

    No pedido de abertura de investigação feito ao STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vê indícios da existência de três crimes : obstrução de Justiça, corrupção passiva e organização criminosa.

    "Importante registrar que um dos delitos em tese cometidos é o de corrupção passiva, o qual, como é sabido, pressupõe justamente o exercício de cargo, emprego ou função pública por parte do agente", disse Janot para justificar a necessidade de inquérito.

    Os empresários Wesley e Joesley Batista entregaram aos procuradores uma gravação em que Temer dá aval a um pagamento para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio Funaro, informou reportagem do jornal "O Globo". Os dois já estavam presos pela Lava Jato.

    As revelações levaram o governo a sua maior crise no pouco mais de um ano desde que Temer assumiu o Planalto, em maio de 2016.

    Na quinta-feira (18), Temer fez um rápido pronunciamento para rebater as acusações de Joesley Batista de que deu aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na fala em tom duro, o presidente disse que não renunciaria ao mandato.

    Na sexta-feira (19), porém, novas acusações surgiram contra Temer e o agravamento da crise fez com que aliados o pressionassem a deixar o cargo.

    REAÇÕES

    A J&F, controladora do grupo JBS, divulgou nota neste sábado (20) em que nega que o material da delação de Joesley Batista tenha sido editado.

    "Não há chance alguma de ter havido qualquer edição do material original, porque ele jamais foi exposto a qualquer tipo de intervenção", indica a nota.

    A controladora ainda enalteceu as delações, afirmando que permitem que o "Brasil mude para melhor".

    Em resposta ao discurso de Temer, a Associação de Funcionários do BNDES afirmou que a presidente do banco, Maria Silvia Bastos Marques, não poderia ter 'moralizado' o BNDES.

    "Não se 'moraliza' uma instituição que, desde a sua fundação em 1952, sempre atuou com ética, espírito público, excelência e compromisso com o desenvolvimento", indica a nota.

    Usuários de redes sociais relataram panelaços em diferentes pontos do país durante o pronunciamento do presidente. Em São Paulo, há relatos de protestos ouvidos em bairros da zona oeste, como Pompeia e Vila Madalena. No Rio, usuários do Twitter falam em panelaços em bairros da zona sul, como o Catete. Diversos perfis, no entanto, questionaram a ausência de manifestações do tipo ou a sua curta duração.

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