• Poder

    Thursday, 25-Apr-2024 14:07:34 -03

    ANÁLISE

    Temer atacou o delator, mas não esclareceu suspeitas

    BERNARDO MELLO FRANCO
    COLUNISTA DA FOLHA

    20/05/2017 18h10

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, 20.05.2017: O presidente Michel Temer durante pronunciamento no Palácio do Planalto a respeito das denúncias e áudios da delação da JBS. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
    Michel Temer durante pronunciamento no Palácio do Planalto sobre a delação da JBS

    A estratégia de Michel Temer é clara. Ao pedir a suspensão do inquérito no Supremo Tribunal Federal, ele tenta ganhar tempo para estancar a sangria política que ameaça sua sobrevivência no cargo.

    Os sinais de anemia têm se multiplicado desde o início da crise. No sábado (20), o presidente foi abandonado pelo PSB, que anunciou o rompimento com o governo. Se o movimento se alastrar, ficará claro que ele perdeu as condições de se sustentar no Planalto.

    Temer parecia abatido quando começou a ler seu segundo pronunciamento em três dias. Aos poucos, elevou o tom e passou a atacar o empresário Joesley Batista, dono da JBS e autor da delação-bomba à Lava Jato.

    Acusado, o presidente buscou desqualificar o acusador. Disse que ele praticou um "crime perfeito", "prejudicou o Brasil" e agora está "livre e solto em Nova York".

    Sem citar o nome de Rodrigo Janot, Temer também mirou o procurador-geral da República ao se dizer alvo de uma "acusação pífia" de corrupção. O ministro Edson Fachin parece discordar, já que autorizou a abertura do inquérito no STF.

    O presidente se agarrou à tese, levantada por peritos, de que o áudio da conversa com Joesley teria sofrido edições. "Essa gravação clandestina foi adulterada e manipulada com objetivos subterrâneos", acusou.

    A polêmica é útil a Temer porque permite que ele direcione o foco para a fita, deixando de esclarecer outras suspeitas graves. Sobre elas, continuam a faltar explicações convincentes. O presidente disse que indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures para "ouvir as lamúrias" do dono da JBS. No entanto, a PF o filmou fazendo outra coisa: recebendo uma mala de dinheiro de um lobista enviado por Joesley.

    Temer também disse que "não acreditou" quando o empresário contou ter subornado dois juízes. A lei obriga o servidor que ouve o relato de um crime a comunicá-lo às autoridades competentes. O presidente não poderia silenciar sobre a confissão por considerar que seu autor é um "falastrão".

    Outras acusações de Joesley, como as cobranças de propina e mensalinho para aliados, foram solenemente ignoradas no pronunciamento.

    Por fim, Temer entrou em contradição com seu próprio discurso inicial. Na quinta-feira, ele defendeu uma investigação "muito rápida" e disse que o desfecho do caso "não poderia tardar". Agora, recorre ao STF para tentar paralisar o inquérito em sua fase inicial.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024