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    Lava Jato

    Temer tem desafios em série para dar sobrevida a governo

    BRUNO BOGHOSSIAN
    GUSTAVO URIBE
    DE BRASÍLIA

    22/05/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, 20.05.2017: O presidente Michel Temer durante pronunciamento no Palácio do Planalto a respeito das denúncias e áudios da delação da JBS. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
    O presidente Michel Temer durante pronunciamento a respeito das denúncias da delação da JBS

    Sob ameaça de perder os pilares de sustentação de seu mandato, Michel Temer tentará evitar o esfacelamento da base aliada e reconquistar o apoio de parcela da sociedade civil, fatores que podem selar seu futuro na Presidência da República.

    Em uma semana decisiva, o peemedebista tenta conter o desembarque de partidos governistas e recompor seu apoio no Congresso, que será testado nas primeiras votações desde que foi acusado em delação do grupo JBS.

    O PSDB e o DEM, dois dos principais partidos da aliança de Temer, convocaram conversas para discutir a crise que enfraqueceu Temer e reavaliar o apoio das siglas ao presidente. Caciques tucanos querem evitar rompimento brusco, mas abriram discussões reservadas sobre cenários de substituição de Temer.

    O presidente tenta evitar a debandada e chamou caciques do PSDB ao Palácio da Alvorada neste domingo (21).

    A avaliação é de que um rompimento dos tucanos provocaria um efeito cascata que acabaria com a sustentação do governo.

    Em telefonema a Temer neste sábado (20), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lembrou de crises que enfrentou durante seus mandatos e defendeu a necessidade de um presidente resistir a momentos de instabilidade.

    Impopular e acuado pela delação, o peemedebista reforçou suas articulações para transmitir sinais de que tem apoio. Neste fim de semana, preencheu a agenda com conversas com líderes e ministros. Alguns convites foram feitos às pressas. No domingo pela manhã, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apareceu de bermuda e camiseta na residência de Temer.

    O governo tentou ainda convocar um grande jantar. com parlamentares para demonstrar força, mas muitos dos convidados não conseguiram chegar a Brasília. O evento foi substituído por uma reunião informal –e menor.

    O Planalto pede coesão da base para enfrentar a oposição no plenário da Câmara, que deve votar medidas provisórias e um projeto de convalidação de incentivos fiscais.

    O presidente se esforça, principalmente, para dar sinais de que mantém musculatura política suficiente para fazer avançar a agenda de reformas –uma exigência de empresários e siglas como o PSDB, que condicionam o apoio ao peemedebista ao sucesso desses projetos.

    Temer procurou tucanos para articular a retomada das discussões da reforma trabalhista no Senado.

    Nos bastidores, dirigentes de PSDB, DEM e até do PMDB apontam que o apoio da base aliada ao presidente será fortemente influenciado pela decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido de Temer para suspender o inquérito aberto contra ele a partir da delação da JBS.

    Na quarta (24), o plenário da Corte decide se a investigação interrompida até a conclusão da perícia sobre a gravação em que, segundo a Procuradoria-Geral da República, Temer dá aval ao empresário Joesley Batista para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

    A incerteza sobre a gravação permitiu ao peemedebista segurar até agora três auxiliares: Bruno Araújo (Cidades), Raul Jungmann (Defesa) e Fernando Coelho (Minas e Energia). O último informou ao presidente, no mesmo dia em que o PSB anunciou apoio ao impeachment, que seguirá no cargo.

    Caso o laudo não aponte cortes, avaliam auxiliares de Temer, dificilmente será possível evitar fragmentação da base e o desembarque de ministros do governo.

    Temer também deve enfrentar esta semana a apresentação de um pedido de impeachment feito pela Ordem dos Advogados do Brasil.

    A equipe presidencial tenta atrair o apoio de outras entidades civis para neutralizar esse episódio, que o Planalto reconhece que fragiliza Temer. No radar, estão a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

    No fim de semana, o presidente recebeu telefonema de do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, filiado ao PMDB. Temer quer que a Fiesp o defenda publicamente.

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    Semana decisiva

    Temer enfrentará testes à sustentação de seu governo no Congresso, no Supremo e nas ruas

    Segunda-feira (22)
    - Desembarque de aliados
    Os partidos da base governista começam a discutir seu apoio a Temer. PSDB, DEM e PPS vão retomar discussões sobre a permanência na coalizão.

    Terça-feira (23)
    - Reforma trabalhista
    O governo vai testar sua força para avançar sua agenda de reformas com a tentativa de votação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O relator, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), disse que suspenderia a discussão.

    Terça e quarta-feira (23 e 24)
    - Votações na Câmara
    Temer medirá seu apoio na Câmara em votações de medidas provisórias e do projeto de convalidação de incentivos fiscais.

    Impeachment da OAB
    A Ordem dos Advogados do Brasil anunciou que deve protocolar na terça ou na quarta um pedido de impeachment de Temer por crime de responsabilidade. O presidente vai procurar outras entidades, como CNA, CNI e AMB, para tentar neutralizar essa ação.

    Quarta-feira (24)
    - Julgamento no STF
    O plenário do Supremo Tribunal Federal vai decidir se atende ao pedido de Temer para suspender o inquérito aberto contra ele por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.

    Centrais sindicais
    Sindicalistas convocaram uma marcha que pretende levar 80 mil pessoas a Brasília para protestar contra as reformas trabalhista e previdenciária, e contra o governo Temer.

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