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    Lava Jato

    Temer quer pulverizar crise política com aprovação de pacote econômico

    GUSTAVO URIBE
    BRUNO BOGHOSSIAN
    DANIEL CARVALHO
    DE BRASÍLIA

    22/05/2017 16h54

    Com a desistência de suspender o inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) contra ele, o presidente Michel Temer iniciou estratégia para tentar recuperar fôlego junto à base aliada e pulverizar a atual crise política.

    Nesta segunda-feira (22), o peemedebista mobilizou líderes de partidos governistas a aprovarem nas próximas duas semanas um pacote econômico que consiga reverter o mau humor contra a gestão peemedebista e recuperar o apoio de setores da sociedade civil e do mercado financeiro, um dos principais pilares de seu mandato.

    A defesa do presidente decidiu retirar nesta segunda-feira (22) o pedido de suspensão do inquérito aberto contra o presidente após a delação de Joesley Batista.

    Esse julgamento era visto na base aliada como um termômetro da força do peemedebista após as acusações. O governo peemedebista, no entanto, avaliou que as chances de derrota eram grandes e passou a ter o receio de que os partidos de sua coalizão o abandonasse.

    Nesta segunda-feira (22), Temer atendeu a uma demanda da base aliada e irá elaborar uma versão mais generosa do PRT (Programa de Regularização Tributária), que institui uma nova regra de refinanciamento de dívidas com a Receita Federal, o chamado Refis.

    Em reunião com a equipe econômica nesta segunda-feira (22), ele determinou que fosse redigida uma emenda que proponha uma nova versão do programa, mais favorável aos devedores do que a proposta original do governo, editada em medida provisória em janeiro.

    O peemedebista também tentará dar uma demonstração de força com a aprovação do projeto de convalidação de incentivos fiscais, além das medidas provisórias de reajuste para auditores da Receita Federal, de regularização fundiária e de retomada no pente-fino sobre benefícios do INSS.

    Nesse esforço, o peemedebista também se reuniu nesta segunda-feira (22) com parlamentares governistas e com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

    A estratégia do presidente, contudo, pode se tornar um tiro no pé na avaliação de parlamentares aliados. Isso porque, caso ele tenha dificuldades ou seja derrotado, significará uma derrota pessoal e poderá fragilizar de vez a gestão peemedebista, demonstrando que não conta mais com apoio no Congresso Nacional.

    Em outra frente, o presidente se reunirá com as bancadas de legendas que têm ensaiado o desembarque do governo, como PSDB, DEM e PPS. A avaliação é que, com a desistência, o peemedebista deixa de estar em compasso de espera e ganha mais tempo de negociação com as siglas aliadas.

    No PSDB, a impressão é que a decisão ampliou as incertezas no governo peemedebista. Os tucanos estavam dispostos a esperar a Suprema Corte antes de reavaliar seu apoio ao presidente, mas agora acreditam que a retirada pode gerar um clima de instabilidade e aumentar as pressões para que a sigla defina seu caminho.

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    Os possíveis crimes de Temer

    Outras acusações contra Temer na delação

    Menções ao presidente no acordo de colaboração da JBS

    Pagamentos a partir de 2010
    O empresário Joesley Batista, da JBS, diz que fez pagamentos de R$ 4,7 milhões a pedido de Temer de 2010 a março deste ano. Na conta, diz, há um 'mensalinho' de R$ 100 mil e um repasse de R$ 300 mil, em dinheiro vivo, a um marqueteiro da confiança do presidente, Elsinho Mouco

    R$ 1 milhão embolsado
    O delator da JBS Ricardo Saud disse que a empresaria pagaria R$ 15 milhões ao PMDB, a pedido do PT, na campanha de 2014. Saud disse que Temer "guardou para ele, no bolso dele", R$ 1 milhão, que o atual presidente teria indicado para entrega em um endereço do coronel aposentado da PM de São Paulo João Baptista Lima Filho

    O dinheiro recebido por Rodrigo Rocha Loures
    Um dos principais aliados do presidente, o deputado federal pelo PMDB do Paraná foi flagrado recebendo mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, da JBS, em São Paulo. Existe a suspeita de que Temer seria o beneficiário

    Senha para repasses a Cunha
    Segundo Ricardo Saud, Temer sempre pedia para pagar Eduardo Cunha e o operador Lúcio Funaro mesmo na cadeia. "O código era 'tá dando alpiste pros passarinhos? Os passarinhos tão tranquilos na gaiola?", disse

    Pedido a favor de Gabriel Chalita
    Joesley diz que pagou caixa dois de R$ 3 milhões a Chalita, candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo em 2012, após Temer pedir os valores

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    Perguntas e respostas sobre o áudio de Temer

    Ouça

    As gravações de Joesley são legais?
    O STF tem decidido pela legalidade de gravações feitas pelo próprio participante de uma conversa. A dúvida sobre a legalidade surge quando uma pessoa grava, sem ordem judicial, conversas de terceiros, o que não foi o caso de Joesley.

    O STF sabia que as gravações haviam sido feitas por Joesley sem acompanhamento judicial?
    Sim. Quando o ministro Edson Fachin ordenou a abertura dos inquéritos, verificou a origem das gravações, relatada pela PGR (Procuradoria Geral da República) logo nos primeiros parágrafos do pedido de abertura da investigação. Caso houvesse ilegalidade, o ministro poderia ter ordenado a retirada dos arquivos dos autos

    As gravações passaram por edição?
    Setor técnico da Procuradoria não encontrou sinais de fraude ou adulteração. Porém perícia feita a pedido da Folha aponta que o material sofreu mais de 50 edições. A JBS não comentou o assunto. No momento mais polêmico do diálogo, sobre a mesada de Joesley a Cunha, a perícia não encontrou edições.

    Havia "ação controlada", monitorada pelo Judiciário, para acompanhar as gravações de Joesley?
    Não. A "ação controlada" começou depois da entrega dos áudios

    Na conversa com Michel Temer, há interrupções bruscas na gravação, o que levou advogados de defesa alegarem edição ou fraude. O que houve?
    Segundo a PGR, houve atritos entre o equipamento e a roupa de Joesley, o que pode ter causado interrupção das gravações, mas não edição ou fraude

    Qual o equipamento usado nas gravações?
    Os investigadores não sabem, pois Joesley Batista entregou os arquivos em pendrive. Ele colocou o equipamento no bolso do paletó. Isso explica a baixa qualidade em diversos momentos do áudio

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    Hipóteses para saída de Temer

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    A defesa de Temer

    O presidente sustenta que o áudio é clandestino e foi "manipulado e adulterado, com objetivos nitidamente subterrâneos". Ele tenta suspender o inquérito até que a autenticidade seja verificada

    Encontro
    O presidente diz que trabalha rotineiramente até meia-noite ou mais e que costuma "ouvir à noite" empresários, políticos, trabalhadores e pessoas de diversos setores da sociedade.

    Rodrigo Rocha Loures
    Temer afirma que apenas indicou o deputado para "ouvir as lamúrias" e se "livrar" da visita de Joesley

    "Tem que manter isso"
    Temer diz que sugeriu apenas que o empresário permanecesse com uma boa relação. "A conexão é com a frase: eu me dou muito bem com o ex-deputado, mantenho uma boa relação. E eu digo: mantenha isso", falou o presidente, em depoimento. Afirma que não comprou o silêncio de ninguém porque não tem o que esconder

    Cade
    O peemedebista diz que as reclamações de Joesley, expostas na conversa, mostram que o governo não estava aberto para ele. Afirma que o Cade não decidiu nada a favor do empresário

    Prevaricação
    Temer diz que não levou a sério a história contada por Joesley e argumenta que o próprio empresário disse posteriormente que inventou o relato de que tinha comprado juízes. "Ele é um conhecido falastrão, exagerado."

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