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    Lava Jato

    Manifestações impedem 'clima de normalidade' desejado por governo

    DANIEL CARVALHO
    LAÍS ALEGRETTI
    TALITA FERNANDES
    DE BRASÍLIA

    24/05/2017 19h17 - Atualizado às 20h51

    Daniel Carvalho/Folhapress
    Deputados da oposição estendem faixa em sessão na Câmara
    Deputados da oposição estendem faixa em sessão na Câmara

    O caos que se instalou na Esplanada dos Ministérios com as manifestações contra o presidente Michel Temer teve consequências diretas do lado de dentro do Congresso, anulando, nesta quarta-feira (24), ao menos até o início da noite desta quarta-feira (24), qualquer possibilidade de se dar o "clima de normalidade" que o governo havia cobrado de aliados para minimizar os efeitos da crise política.

    Deputados chegaram a se agredir fisicamente e, somente quando partidos de oposição resolveram abandonar o plenário, o governo começou a aprovar na Câmara Medidas Provisórias que caducariam na semana que vem.

    Sob gritos de "fora, Temer!" e "Diretas Já!", deputados da oposição ocuparam a Mesa Diretora, quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deixou a sessão para conversar com Temer.

    Diante da mesa, oposicionistas abriram uma faixa onde se lia "#FORATEMER". O deputado Mauro Pereira (PMDB-RS) arrancou a faixa, dando início a um pequeno tumulto. Deputados chegaram a se empurrar.

    Maia reassumiu o comando da sessão e tentou conduzir a votação de uma Medida Provisória mesmo cercado por deputados de oposição com cartazes.

    Foi questionado sobre sua participação na edição dodecreto do presidente Michel Temer que autoriza a atuação das Forças Armadas nas ruas do Distrito Federal.

    O governo atribuiu a medida a uma solicitação de Maia, que negou. "Afirmo e reafirmo que não é verdade", disse o presidente da Câmara, que pediu para o ministro da Defesa, Raul Jungmann, "restabelecer a verdade".

    Maia também divulgou à imprensa o ofício em que solicita apenas o uso da Força Nacional, formada por policiais militares e civis e integrantes das Forças Armadas na reserva.

    No Senado, também houve bate-boca e o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), usou a convocação do Exército para criticar o governo.

    "Beira a insensatez fazer isso num momento em que o país pega fogo", disse o peemedebista. "Se esse governo não se sustenta, é verdade, não serão as Forças Armadas que vão fazê-lo", afirmou Renan Calheiros.

    O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), rebateu, afirmando que o governo não está caindo", que "não está vago", e que ninguém pode falar que o PMDB não apoia mais Michel Temer.

    Aliados de Michel Temer procuraram minimizar o desgaste de todas as confusões ao longo do dia.

    "A manifestação que tem aí fora é uma manifestação até pequena pelas informações da internet. Não tem impacto nenhum [para a imagem do governo]. A população não gosta de ver depredação. Isso denigre a imagem de quem faz manifestação", disse o deputado Beto Mansur (PRB-SP).

    A oposição reagiu. "O governo sai mais fragilizado. Isso aprofunda a crise e revela a fragilidade de Temer em permanecer à frente do governo", disse o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), antes de deixar o plenário junto com os outros oposicionistas.

    Logo após o decreto do presidente Michel Temer, autorizando o uso de Forças Armadas na rua, senadores de oposição também reagiram no plenário.

    A ordem do dia foi encerrada e uma questão de ordem foi apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), questionando o decreto presidencial.

    O pedido de Randolfe foi rejeitado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que encerrou a ordem do dia. A partir de então, o decreto tomou conta do debate no plenário.

    Randolfe criticou a decisão do presidente Michel Temer de recorrer aos militares e comparou a situação atual à ditadura militar.

    "Não tem cabimento chamar as Forças Armadas. O presidente está querendo romper o nosso frágil tecido constitucional", disse. "O uso das Forças Armadas cabe quando todos os mecanismos polícias de segurança tiverem sido esgotados. Mas não é o caso, não foram esgotados."

    A líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR) disse que o decreto presidencial "é muito grave". "O que nós estamos e o que nós pudemos vivenciar aqui agora é uma situação que ofende a democracia", disse.

    Ela e o senador Humberto Costa (PT-PE) pediram a convocação do colégio de líderes para debater o assunto.

    "O presidente da República extrapolou as suas competências e tomou uma decisão que compromete a democracia brasileira", afirmou o senador petista.

    Humberto Costa escreveu no Twitter que o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), continua "sentado na cadeira, alheio a tudo, conduzindo uma sessão, como se nada tivesse acontecido". E concluiu: "Um escárnio!"

    Eunício Oliveira mencionou a mensagem no plenário da Casa e esclareceu que a ordem do dia do Senado já estava encerrada e que ele manteve a sessão para dar a palavra aos senadores.

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