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    Governo encurralado

    Lucro de donos da JBS foi de R$ 163 mi em 2016; 74% corresponde a multa

    RUBENS VALENTE
    ANGELA BOLDRINI
    DE BRASÍLIA

    25/05/2017 02h00

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Os irmãos Wesley Batista (esq.) e Joesley Batista (dir.), donos da JBS
    Os irmãos Wesley Batista (esq.) e Joesley Batista (dir.), donos da JBS

    Os irmãos Joesley, 45, e Wesley Batista, 47, donos da empresa JBS, conseguiram um lucro pessoal de R$ 163 milhões somente em 2016, valor que corresponde a 74% da multa que deverão pagar no acordo de delação premiada fechado com a PGR (Procuradoria Geral da República).

    Os valores constam das declarações de Imposto de Renda de pessoas físicas –que não incluem os ganhos do grupo empresarial como pessoa jurídica– entregues à PGR como parte do acordo de delação premiada.

    Pelo acordo, os irmãos deverão pagar em multas R$ 220 milhões até junho de 2028, em prestações anuais. A julgar pela declaração ao IR, Joesley não terá muita dificuldade para pagar a sua parte, que é de R$ 110 milhões. Em apenas um ano de atividade, ele lucrou R$ 103 milhões. Wesley ganhou R$ 60 milhões no mesmo período.

    Segundo as declarações, os irmãos tinham, até 2015, o hábito, inexplicável do ponto de vista financeiro, de guardar dinheiro em casa. Joesley mantinha "em espécie" R$ 5 milhões, e seu irmão, mais R$ 3,5 milhões. No decorrer de apenas um ano, e considerando apenas a rentabilidade média de uma caderneta de poupança, os irmãos perderam cerca de R$ 612 mil.

    O cenário mudou um pouco em 2016. Joesley guardou em espécie, no período, R$ 1 milhão e Wesley, R$ 100 mil.

    Nas declarações do IR, os irmãos são de fato bilionários. Em um salto espetacular em seus bens e direitos na virada de 2015 para 2016, o patrimônio pessoal de Joesley pulou de R$ 525 milhões para R$ 1,3 bilhão, enquanto o de Wesley passou de R$ 410 milhões para R$ 1,4 bilhão.

    É preciso notar, porém, que as dívidas e ônus também cresceram na mesma proporção, de R$ 320 milhões para R$ 1,3 bilhão no caso de Joesley, e de R$ 300 milhões para R$ 1,3 bilhão no caso de Wesley. Os bens e direitos cresceram porque os irmãos se comprometeram com operações comerciais que estavam pagando até, pelo menos, dezembro passado.

    Na lista dos bens declarados não consta um amplo e luxuoso apartamento em Nova York que, segundo o programa "Fantástico", da Rede Globo, é a residência de Joesley nos Estados Unidos. Segundo a TV, o valor do imóvel é estimado em R$ 30 milhões.

    O empreendimento Baccarat Residences é localizado na rua 53, entre a Quinta e a Sexta Avenida, a poucos metros do MoMA, um dos principais museus do país, e a seis quadras do Central Park.

    A Folha indagou à JBS o motivo pelo qual o imóvel não aparece nas declarações de IR dos irmãos, mas não houve resposta até o fechamento desta edição. Há a possibilidade de o imóvel ter sido comprado por meio de uma das várias empresas offshore declaradas, mas a JBS não esclareceu se isso ocorreu.

    Usar offshore para aquisição de imóveis nos EUA é um caminho usado por brasileiros para reduzir impostos em transações futuras.

    Os irmãos mantêm ou mantiveram, nos últimos dois anos, empresas em paraísos fiscais, como Bahamas, Ilhas Virgens Britânicas e Cayman.

    Em nota à Folha, a JBS não respondeu às perguntas encaminhadas pela reportagem. Informou apenas, que "todos os atos ilícitos" dos irmãos Batista, "conforme a delação, constam dos termos de declaração levados à PGR, nos mais absolutos detalhes, e estão documentados nos autos da delação premiada homologada pelo STF".

    Patrimônio dos delatores

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