• Poder

    Friday, 03-May-2024 18:51:58 -03

    Lava Jato

    JBS pagou propina a Renan por meio de contrato com o Ibope, diz delator

    DE SÃO PAULO

    26/05/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Senador Renan Calheiros, que participou de reunião com o presidente no último dia 9
    Senador Renan Calheiros, que participou de reunião com o presidente no último dia 9

    O ex-executivo da JBS Ricardo Saud disse em delação premiada que a empresa repassou propinas ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ao ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves por meio de contratos simulados com o instituto de pesquisa Ibope Inteligência em 2014.

    Segundo o delator, naquele ano o Ibope Inteligência emitiu notas fiscais à JBS sem que o instituto tivesse prestado serviços à companhia.

    Em seus testemunhos à Procuradoria-Geral da República, Saud disse que a empresa repassou R$ 35 milhões à cúpula do PMDB no Senado em 2014.

    Desse total, Renan Calheiros teria uma cota de cerca de R$ 10 milhões. Os valores alegados teriam sido distribuídos sob a forma de doações oficiais a diretórios do PMDB, de notas fiscais frias e repasses em dinheiro vivo.

    O delator afirmou que duas empresas teriam emitido notas fiscais falsas à JBS para tentar disfarçar a propina ao senador alagoano: o Ibope Inteligência e a companhia GPS Comunicação.
    Segundo documento apresentado pelo ex-executivo da JBS à Procuradoria, a nota fiscal do Ibope Inteligência foi lançada no dia 21 de julho de 2014, no valor de R$ 300 mil.

    "[O Ibope Inteligência] fazia pesquisa para ele [Renan] e eles pagavam com essas propinas. O Ibope recebia propina. Nunca fez serviço para o grupo [JBS]", afirmou.

    Em seu depoimento, o delator também disse que o instituto de pesquisa foi usado para repassar propina ao ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, que em 2014 disputou o governo do Rio Grande do Norte.

    De acordo com Saud, no caso de Alves a nota fria teve o valor de R$ 380 mil e foi emitida em 26 de agosto de 2014.

    Ao falar desse documento, o ex-executivo da JBS comentou: "o Ibope tem muitas notas frias. Aliás, eles prestaram serviços para eles [políticos], mas quem pagou fomos nós".

    Havia até uma estratégia do Ibope Inteligência em caso de investigações sobre os contratos, segundo o delator.

    "Inclusive, eles mandavam para mim um contrato e um punhado de pesquisas, e falavam: "Você arquiva isso aí direitinho, e se amanhã acontecer alguma coisa, você mostra isso aí", relatou.
    "Nunca fez pesquisa para mim. Pegava uma pesquisa nacional lá 'x' e queria pôr no contrato da gente", completou o ex-executivo da JBS.

    OUTRO LADO

    O Ibope Inteligência afirma que nunca emitiu notas fiscais falsas, nem recebeu qualquer tipo de propina do grupo JBS ou de qualquer outra empresa.

    Em nota, o instituto de pesquisa diz que "é com indignação que tomou conhecimento da acusação de que emitiu notas fiscais falsas".

    De acordo com o texto, "todas as notas fiscais mencionadas são verdadeiras, foram devidamente contabilizadas e estão registradas na Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo".

    O Ibope Inteligência afirma ter recebido R$ 2,8 milhões em pagamentos por serviços prestados ao grupo JBS, sendo R$ 1,4 milhão para pesquisas eleitorais na cidade de Campo Grande (2012), e nos Estados de Alagoas, Goiás e Rio Grande do Norte (2014).

    O R$ 1,4 milhão restante refere-se a pesquisas de mercado para as diversas empresas do grupo JBS, afirma o Ibope.

    Segundo o instituto, além de mentirem, os delatores da JBS "misturaram em seus depoimentos pesquisas eleitorais realizadas para políticos com pesquisas sobre assuntos estratégicos das empresas do grupo".

    O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) diz que é "mentirosa" a afirmação do ex-executivo da JBS Ricardo Saud de que a empresa repassou propina ao congressista por meio de contrato simulado.

    Segundo assessoria de Renan Calheiros, o Ibope chegou a ser contratado pelo PMDB de Alagoas, mas foi pago com dinheiro do partido, e tal quitação está registrada em prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral.

    A Folha não conseguiu fazer contato com o ex-ministro Henrique Eduardo Alves na noite desta quinta (25).

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024