• Poder

    Thursday, 28-Mar-2024 13:55:58 -03

    entrevista da 2ª

    Preocupação com tempo de prisões temporárias é do STF, diz Jardim

    DANIELA LIMA
    EDITORA DO "PAINEL"

    29/05/2017 02h00

    Alan Marques - 2.jun.2016/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 02.06.2016. O ministro da Transparência, Torquato Jardim, dá entrevista sobre o aumento dos servidores e pauta de votações na Câmara, no Palácio do Planalto. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
    O ministro Torquato Jardim, que passa a comandar a pasta da Justiça

    Alçado ao Ministério da Justiça no auge da tensão entre o presidente Michel Temer e os operadores da Lava Jato em Brasília, Torquato Jardim não esconde a que veio. Horas após sua indicação, em entrevista à Folha, disse que "vai avaliar" mudanças no comando da Polícia Federal.

    O novo ministro também defendeu que outras associações do Ministério Público Federal, além da ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República), façam listas para disputar o comando da PGR (Procuradoria-Geral da República), hoje nas mãos de Rodrigo Janot.

    Torquato falou à reportagem neste domingo (28), por telefone, de dentro da van com a comitiva presidencial após viagem para vistoriar áreas de enchentes em Alagoas. Prometeu ouvir Michel Temer em tudo.

    Ele é ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), corte que julga daqui oito dias ação que pode levar à cassação do presidente. Em resposta enviada por sua assessoria, disse que o julgamento "será técnico".

    *

    O sr. assume o Ministério da Justiça no momento de maior tensão na relação entre Michel Temer e a PGR. Como pretende atuar?

    Torquato Jardim - Primeiro eu vou ouvir o presidente, saber a avaliação que ele faz desse quadro e descobrir qual será o papel do ministro da Justiça. De minha parte, sempre tive uma relação muito boa com a Procuradoria-Geral da República, um diálogo muito franco, já no Ministério da Transparência. Tenho amigos, ex-alunos e ex-professores lá. O diálogo é sempre o melhor caminho.

    O sr. pretende mexer no comando da Polícia Federal?

    Eu vou avaliar. Vou ouvir a recomendação do presidente, de outras personalidades que conhecem o assunto, fazer o meu próprio juízo de valor e decidir. Não vou me precipitar nem antecipar nada.

    Que avaliação o sr. faz hoje do trabalho da PF?

    Eu não tenho nenhuma avaliação.

    Como o sr. recebe as críticas de entidades, como a associação de delegados da PF, à sua nomeação?

    Não li nada, não sei.

    Divulgaram nota dizendo receber as notícias de troca no ministério com preocupação.

    Estou em Maceió, vim com o presidente vistoriar a área de enchentes. Não li nada. Preciso conhecer as notas para poder falar.

    O sr. foi nomeado para melhorar a interlocução do governo com os tribunais superiores?

    Historicamente o Ministério da Justiça sempre foi o canal de comunicação do Executivo com o Judiciário. De modo que esse papel dentre todos os que tenho que desempenhar é o que menos me preocupa. Tenho 40 anos de experiência, advoguei em todos os tribunais. Fui assessor do STF, ministro do TSE. Eu conheço a lógica da magistratura.

    Mesmo em meio à essa grave crise política?

    O que interessa, em primeiro lugar, é a economia. A crise não é política –a mídia transformou em crise política–, mas econômica.

    Em segundo lugar, a parceria do Executivo com o Congresso está intocada. Serão votadas todas as reformas, trabalhista, da Previdência, o financiamento das dívidas dos municípios.

    Isso passando, a agenda econômica avança. A questão é econômica e essa é uma área que está muito bem conduzida.

    Há um temor de que o sr. esteja sendo nomeado para interferir na Lava Jato?

    Em absoluto. Não tem nada a ver com isso.

    O sr. já fez diversas críticas à operação. Sobre as prisões provisórias, por exemplo.

    Lancei dúvidas clássicas de um advogado. As prisões são legais, isso é certo. O que me preocupa é a fundamentação correta e precisa do tempo de prisão temporária, quanto ela deve se alongar. E essa preocupação não é só minha. É do Supremo [Tribunal Federal]. Mais de um ministro já falou sobre isso.

    Como o sr. espera que se desenrole a disputa pela sucessão de Rodrigo Janot no comando da PGR?

    Temos oito colegas que se candidataram, vão fazer debates, percorrerão o Brasil e receberão votos para compor a lista [tríplice, encaminhada ao presidente]. Diante disso, nós vamos estudar a melhor solução. Não sei também se outros ramos do Ministério Público não farão listas para o comando da PGR.

    O Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar? Eles farão listas? O que se tem hoje é o processo feito por uma associação.

    O sr. espera que outras entidades apresentem nomes para esse processo, é isso?

    É provável. Há movimentos nesse sentido.

    E isso seria bom?

    Sim. Muito salutar. Quanto mais pessoas interessadas em participar, melhor.

    O sr. não teme tratar desses assuntos em meio a uma crise tão aguda entre o governo e o Judiciário?

    Eu discordo das premissas da sua pergunta. Não conheço tensão entre o Executivo e o Judiciário.

    É a primeira vez que temos um presidente alvo de inquérito no STF.

    Então vamos esperar a decisão do Supremo.

    Como jurista, a situação de Michel Temer não o preocupa?

    Não, não.

    O sr. vê risco de o presidente não conseguir concluir o mandato?

    De jeito nenhum. A questão é econômica, não é política. Se passam as reformas no Congresso, nas próximas quatro ou cinco semanas, tudo será resolvido.

    O sr. foi ministro do TSE. A corte está sob forte pressão. Temer será cassado?

    O julgamento no TSE será técnico. Os ministros decidirão com base no que está nos autos. Tem a acusação e a defesa, a inicial e a contestação, como em qualquer ação. No mais, é especulação. A inicial é referente à 2014 e o que será observado são os fatos e provas que ali estão.

    Como foi o convite?

    Tranquilo. Eu e o presidente nos conhecemos há mais de 30 anos. Ele disse da necessidade de uma otimização administrativa no ministério. Em seguida, fez o convite para que o [Osmar] Serraglio vá para a Transparência.

    Ele é mestre em direito público, professor... Tem a formação básica [pausa]... Tem a formação clássica para ocupar o ministério. E eu recebo essa responsabilidade com muita tranquilidade. Sei que a tarefa é enorme, mas nada me assusta.

    -

    Raio-x

    Nascimento
    12 de dezembro de 1949

    Formação
    Advogado, pós-graduado na Universidade de Michigan

    Cargos ocupados
    Ministro do Tribunal Superior Eleitoral
    (1988-1996), presidente
    do Instituto Brasileiro
    de Direito Eleitoral
    (2002-2008) e ministro
    da Transparência (2016-2017)

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024