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    Lava Jato

    Serraglio diz que Temer foi alvo de 'pressões de trôpegos estrategistas'

    CAMILA MATTOSO
    MARINA DIAS
    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    31/05/2017 13h37

    Pedro Ladeira - 8.mar.2017/Folhapress
    O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), exonerado do cargo de ministro da Justiça
    O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), exonerado do cargo de ministro da Justiça

    O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), exonerado nesta quarta-feira (31) do cargo de ministro da Justiça, escreveu uma carta de despedida na qual afirma que o presidente Michel Temer "sofreu pressões de trôpegos estrategistas".

    O agora ex-ministro não detalha a origem e o objetivo dessas pressões, agradece ao presidente e elogia seu substituto à frente do Ministério da Justiça, Torquato Jardim, citando-o como "ilustre jurista".

    "Não posso concluir esta quadra de minha história sem agradecer ao presidente Michel Temer, pela confiança que em mim depositou e porque sei das pressões que sofreu de trôpegos estrategistas", afirmou Serraglio.

    Ele agradece também ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), "que sempre me apoiou, compreendendo as dificuldades em que eu navegava".

    O ex-ministro também faz um agradecimento ao PMDB, partido pelo qual é deputado e "cujos companheiros tanto me prestigiaram" e "aos amigos da Frente Parlamentar da Agricultura e do cooperativismo, em relação aos quais fico seriamente sentido por pouco ter sido possível concretizar em tão breve tempo. Tínhamos muitas esperanças".

    Na carta, ele rebateu as críticas de que não recebia indígenas em seu gabinete, afirmando que os caciques eram uma "presença constante" no local.

    Disse ter criado um grupo de trabalho "para agilizar os processos de demarcação de terras indígenas no âmbito do ministério".

    "A previsão era de que os impasses relativos a este assunto fossem destravados e seguissem para um desfecho com a brevidade que a importância do assunto requer, respeitando o processo legal, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e o que preconiza a Constituição", afirmou.

    Serraglio disse ter feito 347 audiências em seu gabinete no período em que foi ministro. Diz ter recebido 444 representantes políticos, dos quais 11 governadores, 35 senadores, 245 deputados federais de 16 partidos e 93 prefeitos.

    Ele pretendia ler esta carta na cerimônia de transferência de cargo, antes prevista para acontecer no Ministério da Justiça. No entanto, quando soube que ocorreria junto com a posse de Torquato Jardim como seu substituto, no Palácio do Planalto, resolveu antecipar-se e divulgar o comunicado no início desta tarde.

    Serraglio havia sido convidado por Temer a ocupar o Ministério da Transparência, numa troca com Torquato Jardim. No entanto, ele não aceitou.

    O peemedebista voltará para a Câmara, onde tem mandato de deputado federal pelo PMDB do Paraná. A consequência da decisão é a saída definitiva do deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) em razão da delação da JBS. Loures é suplente de Serraglio e assumiu o mandato do deputado após sua ida para o ministério.

    A saída de Serraglio da Justiça já era discutida desde o início da semana passada pelo peemedebista. A gestão dele vinha sendo criticada por auxiliares e assessores presidenciais pela falta de pulso firme e de resposta rápida diante do aumento de episódios de violência pelo país.

    Além disso, havia o receio de que ele fosse citado em delação premiada que tem sido negociada com o Ministério Público Federal pelo fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, apontado como o líder do esquema de corrupção descoberto pela Operação Carne Fraca.

    Em grampo divulgado em abril, Serraglio chamava Daniel de "grande chefe". Ele telefonou em fevereiro ao fiscal, quando ainda era deputado federal, para obter informações sobre o frigorífico Larissa, de Iporã (PR).

    SERRAGLIO NÃO VAI À POSSE DE NOVO MINISTRO DA JUSTIÇA

    Em conflito com o Palácio do Planalto, o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR) não comparecerá à cerimônia de posse de seu substituto, Torquato Jardim.

    A ausência do agora deputado, que se queixa de falta de respaldo do presidente Michel Temer, foi um dos motivos para que não houvesse, depois da posse, a habitual transmissão de cargo entre os ministros, que deveria acontecer no Ministério da Justiça em caráter simbólico.

    A assessoria de Serraglio confirmou à Folha que ele não participará do evento, marcado para as 15h no Palácio do Planalto, com a presença de Temer e de diversas autoridades.

    O deputado irritou o presidente nesta terça-feira (30) ao recusar o convite para assumir o Ministério da Transparência, o que atrapalhou a estratégia do governo de blindar Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor de Temer e alvo de um inquérito da Lava Jato junto com o presidente baseado na delação da JBS.

    Alvo de críticas do governo e aliados, que consideravam sua atuação como ministro "fraca", Serraglio queixou-se de não ter respaldo do Planalto, de ter sido "fritado" em público e avisado de sua demissão somente pelo líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), e não diretamente por Temer.

    No fim de semana, o presidente decidiu fazer uma troca na Justiça e Transparência e nomear Torquato para a primeira pasta, deixando Serraglio com a segunda. O objetivo era mostrar que o governo poderia ter mais influência na Polícia Federal, subordinada à pasta da Justiça e responsável pelas investigações.

    Com a manutenção de Serraglio no primeiro escalão, Rocha Loures permaneceria com mandato de deputado e foro privilegiado, o que é de interesse do governo, visto que uma prisão e possível delação premiada do ex-assessor presidencial pode implicar o presidente.

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