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    ANÁLISE

    Indicada sob dúvidas, Dodge tem desafio de manter biografia intacta

    LEANDRO COLON
    DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

    29/06/2017 02h00

    Zanone Fraissat - 29.mai.2017/Folhapress
    A subprocuradora Raquel Dodge, escolhida por Temer
    A subprocuradora Raquel Dodge, escolhida por Temer

    A indicação da procuradora Raquel Dodge para a sucessão de Rodrigo Janot na chefia da Procuradoria-Geral da República naturalmente vem carregada de questionamentos.

    Dodge foi a segunda colocada na lista tríplice da categoria, ou seja, não seria a preferida número um dos colegas. É considerada adversária de Janot dentro da PGR e tem o nome vinculado nos bastidores a figuras próximas de Michel Temer, como o ministro Gilmar Mendes e o ex-presidente José Sarney.

    Afinal, ela vai assumir o papel de engavetadora da Lava Jato e das investigações contra o presidente que a indicou para o cargo mais importante de sua carreira?

    É precipitado, para não dizer injusto, qualquer tipo de julgamento prévio sobre sua conduta no cargo de comandante do Ministério Público Federal.

    Dodge terá pela frente um desafio único: expor-se a um país impactado pelas revelações de corrupção na alta cúpula da política, "melando" todo um trabalho feito nos últimos três anos, ou manter intacta sua biografia, cujo ápice foi a investigação do "Mensalão do DEM" em 2009, que desmantelou um esquema de roubalheira no governo de José Roberto Arruda no Distrito Federal.

    É também um equívoco apostar que ela assumirá a chefia da PGR sem apoio da categoria. Dodge tem história e respeito dentro da Procuradoria.

    Na eleição interna da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), obteve 587 votos, ante 621 de Nicolao Dino, uma diferença pequena e que mostra uma categoria dividida.

    Ela tem respaldo de boa parte dos colegas –até porque não está escrito em nenhum lugar que Temer deveria ter respeitado a ordem de escolha. Se assim fosse, nem lista tríplice haveria, mas um único nome seria levado ao Planalto.

    Recentemente, Dodge disse à Folha ter "compromisso de integral e plena continuidade do trabalho contra a corrupção da Lava Jato, [operações] Greenfield, Zelotes e todos os demais processos em curso, sem recuar, nem titubear".

    Ela tem o direito e o dever de corrigir equívocos e abusos (que não são poucos) do Ministério Público Federal, mas será cobrada pela garantia que tem dado de assegurar o "compromisso" com a investigação contra a corrupção no país.

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