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    Líder sem-terra é morto em região de chacina no Pará

    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    09/07/2017 15h39

    Justiça Global/Divulgação
    Rosenilton Pereira de Almeida, 44, assassinado na noite de sexta-feira (7/7)
    Rosenilton Pereira de Almeida, 44, assassinado na noite de sexta-feira (7)

    Rosenilton Pereira de Almeida, 44, uma das lideranças de um acampamento sem-terra em Pau D'Arco (867 km ao sul de Belém) foi assassinada na noite de sexta-feira (7) em Rio Maria, cidade a 60 km do assentamento.

    O local já havia sido palco de outro episódio violento em 24 de maio, quando uma ação conjunta de 29 policiais deixou dez mortos no acampamento na Fazenda Santa Lúcia.

    Desde então, cerca de 200 famílias deixaram o assentamento e montaram uma nova ocupação próxima dali —na divisa do terreno da fazenda com um assentamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Rosenilton era uma das lideranças no novo acampamento.

    De acordo com José Batista, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que atua na região, Rosenilton vinha sofrendo ameaças. "Dois dias antes de sua morte, ele foi procurado por pessoas desconhecidas no acampamento. Por isso, decidiu sair de lá e ir para Rio Maria", disse à Folha.

    Rosenilton foi assassinado por volta das 22h após sair de uma igreja em Rio Maria. Segundo a Polícia Civil, ele seguia de moto para sua residência na cidade quando foi atingido a tiros pelo garupa de outra moto.

    A polícia não tem ainda indícios da autoria ou da motivação do crime. Batista afirma que a CPT vem pressionando as autoridades locais para esclarecer se o crime tem ligação com a chacina em Pau D'Arco.

    "Nós sabemos que foi uma execução. Agora é necessário esclarecer as causas e quem encomendou", disse Batista.

    A assessoria da Polícia Civil informou ainda que Rosenilton vive em Rio Maria com sua mulher e uma enteada, que já prestaram depoimento. Ele tem filhos e atua na ocupação da Fazenda Santa Lúcia. Os filhos, porém, ainda não foram localizados.

    Segundo Batista, o procurador-geral de Justiça do Pará irá ao local para acompanhar as investigações sobre o assassinato de Rosenilton e sobre a chacina.

    A morte dos dez camponeses está sendo analisada em quatro frentes de investigação: Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Federal e corregedorias das polícias Civil e Militar. Nenhum dos inquéritos foi concluído.

    O Ministério Público do Estado, contudo, já descarta a tese de confronto, defendida pela polícia. Os 21 PMs e oito policiais civis envolvidos no caso foram afastados de suas atividades.

    Entidades de direitos humanos atribuíram o assassinato de Rosenilton à "omissão do governo federal e do governo do Pará em relação ao massacre de Pau D'Arco" e acusam "o poder do latifúndio na região, que, mesmo após a visibilidade com o massacre, segue fazendo vítimas entre aqueles que ousam lutar pelo direito à terra".

    O texto é assinado pela CPT, Justiça Global, Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos e Terra de Direitos. Segundo a CPT, entre 1995 e 2010 foram registrados 408 casos de conflitos por terras no Pará. Foram 61 vítimas no total e apenas 15 casos foram levados a julgamento, com 24 condenados.

    A reportagem da Folha não conseguiu contato com a Secretaria de Segurança Pública do Pará e com o Ministério Público do Estado neste domingo (9).

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