• Poder

    Friday, 03-May-2024 20:17:49 -03

    Lava Jato

    'Lamentável que um juiz se dê ao papel de fazer política', diz presidente do PT

    TALITA FERNANDES
    LAÍS ALEGRETTI
    MARINA DIAS
    BRUNO BOGHOSSIAN
    DANIEL CARVALHO
    DE BRASÍLIA
    CATIA SEABRA
    DE SÃO PAULO

    12/07/2017 15h23 - Atualizado às 18h36

    Nelson Antoine/Folhapress
    SAO PAULO, SP, 10.06.2017: PT-DIREÇÃO - A senadora Gleisi Hoffmann, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Luiz Marinho participam de cerimônia de posse do diretório do PT estadual durante a manhã deste sábado (10) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Foto: Nelson Antoine/Folhapress)
    A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

    Minutos após o anúncio da primeira condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , 71, na Lava Jato, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), fez ataques ao juiz Sergio Moro da tribuna do Senado. Segundo a petista, é "lamentável" que um juiz "se dê ao papel de fazer política" por meio do Judiciário com o objetivo de excluir o ex-presidente da República da disputa eleitoral de 2018.

    "É uma decisão eminentemente política, sem provas, baseada unica e exclusivamente no juiz Sergio Moro prestar contas para opinião publica. Fato, aliás, que ele vem mantendo desde o início deste julgamento. Ele disse que só poderia condenar se tivesse apoio da opinião pública", disse Gleisi.

    A tese do PT, reverberada pela presidente nacional da sigla nesta quarta-feira (12), é a de que Lula é vítima de uma perseguição política de Moro para que o petista fique fora das eleições de 2018. Ainda segundo Gleisi, prender o ex-presidente neste momento seria "um trauma".

    "Ele [Moro] já tentou fazer isso e sabe o trauma que é", afirmou a senadora. "Prender por quê? Qual o risco que ele [Lula] oferece ao país?".

    Gleisi acusou Moro de "parcialidade" e disse que o Judiciário é "oportunista do ponto de vista político". "É lamentável que tenhamos uma sentença como essa. Isso deixa cada vez mais evidenciado o papel que a Lava Jato tem, em relação ao ex-presidente Lula, que é de criminalizá-lo para impedir que ele faça parte do processo político do país".

    A presidente do PT disse ainda que conversou com Lula por telefone e que ele está "tranquilo" porque sabe que "não deve nada". Segundo a petista, parlamentares do partido viajarão a São Paulo para encontrar com o ex-presidente no fim do dia e a sigla deve recorrer da decisão do juiz de Curitiba em instâncias internacionais.

    Lula foi condenado nesta quarta (12) a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP). A sentença é a primeira contra o petista no âmbito da Lava Jato.

    O ex-presidente não será preso agora. Pelo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal), ele só começa a cumprir a pena se a segunda instância confirmar a decisão de Moro. Lula pode recorrer em liberdade ao Tribunal Regional da 4ª Região, com sede em Porto Alegre. Se condenado em segunda instância antes da eleição de 2018, Lula será enquadrado na Lei da Ficha Limpa, tornando-se inelegível.

    O comando do PT divulgou nesta segunda-feira (12) uma nota em que acusa o juiz Sérgio Moro de prestar "contas aos meios de comunicação e àqueles que não aceitam a trajetória de sucesso de Lula na presidência".

    "A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva representa um ataque à democracia e à Constituição Federal. Embora seja uma decisão de primeira instância, trata-se de medida equivocada, arbitrária e absolutamente ilegal, conduzida por um juiz parcial"," diz a nota, afirmando que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é produto de um consórcio golpista.

    Após visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, afirmou nesta quarta-feira (12) que o petista está indignado com a decisão do juiz Sérgio Moro de condená-lo a 9 anos e meio de prisão.

    Segundo apoiadores, Lula repete, no entanto, que já esperava por sua condenação. Entre seus colaboradores, havia, no entanto, a esperança de que Moro o absolvesse no caso do triplex, reservando a condenação para o processo sobre o sítio em Atibaia.

    "O presidente está indignado como qualquer pessoa se sentiria diante de uma condenação que tem caráter político".

    Na tarde desta quarta-feira, integrantes do sindicato dos metalúrgicos foram à sede do instituto Lula prestar solidariedade ao ex-presidente.

    DEPUTADOS

    Deputados petistas fizeram coro à tese de que a condenação de Lula tem viés político e acrescentam que ela serve para "tirar o foco" da denúncia contra o presidente Michel Temer –em tramitação na Câmara dos Deputados.

    "Fazer isso no dia em que se discute a denúncia contra Temer [na CCJ da Câmara] é uma tentativa de tirar o foco do Temer e jogar o foco no Lula", disse o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP). "É uma decisão política. Não há provas ou testemunhas além do relato do próprio delator. É uma tentativa de excluir Lula das eleições", completa.

    Nesta quarta, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara começou a discutir o relatório a favor do prosseguimento da denúncia por corrupção passiva apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Temer.

    Segundo o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (CE), "não houve surpresa" na condenação de Lula, porque a "intenção" de Moro era fazer política.

    "A condenação é injusta porque falta materialidade. Nossa expectativa é que a segunda instância reforme essa decisão. Vamos mobilizar o país", afirmou. Para o petista, "não existe eleição democrática" sem Lula.

    "Acho difícil ele ser preso. O país não vai aceitar que uma pessoa seja presa injustamente. Não há eleição democrática sem Lula", completou Guimarães.

    *

    Repercussão da condenação de Lula

    Nota oficial da Direção Nacional do PT

    A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva representa um ataque à democracia e à Constituição Federal. Embora seja uma decisão de primeira instância, trata-se de medida equivocada, arbitrária e absolutamente ilegal, conduzida por um juiz parcial, que presta contas aos meios de comunicação e àqueles que não aceitam a trajetória de sucesso de Lula na Presidência.

    A sentença está baseada exclusivamente em delações premiadas negociadas ao longo de meses com criminosos confessos, e simplesmente validam as convicções contidas na acusação de procuradores do Ministério Público Federal, sem que houvesse a apresentação de provas que justifiquem a condenação nos termos expressos pelas leis brasileiras.

    Lula não está acima da lei, tampouco abaixo dela. O que ocorre é um processo de perseguição que se constitui em uma aberração constitucional; um caso típico de lawfare, em que se utilizam recursos jurídicos indevidos como fim de perseguição política. Em seu caso, busca-se imputar-lhe crimes com base em teorias respaldadas apenas pela palavra de condenados, incapazes de comprovar suas afirmações por meio de documentos ou de transferências bancárias.

    A condenação de Lula é mais um capítulo da farsa capitaneada pelo consórcio golpista que assumiu o País para suprimir direitos sociais e trabalhistas, ampliar o tempo para as pessoas se aposentarem, cortar gastos essenciais em Saúde e Educação e, principalmente, vender empresas estatais importantes como a Petrobras, a Infraero, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Curiosamente, a sentença saiu um dia depois da votação de medidas que retiraram direitos dos trabalhadores, e agora serão esquecidas.

    O PT vai manter sua defesa intransigente a Lula, por acreditar em sua absoluta inocência. Lula é uma liderança reconhecida no mundo pelos avanços promovidos à frente da Presidência. Hoje, mais do que nunca, nos solidarizamos com Lula, e com seus filhos e netos. Além disso, reforçamos nosso pesar pela morte de sua mulher, Marisa Letícia Lula da Silva. Sabemos que haverá Justiça nas outras instâncias do julgamento e que toda a verdade virá à tona. A história será a principal testemunha de sua absolvição e de sua grandeza. Viva Lula!

    *

    Aloizio Mercadante (PT)

    "Depois do golpe, que retirou do governo uma presidenta eleita sem crime de responsabilidade, e do fim da CLT, que acaba os direitos dos trabalhadores, o povo brasileiro tem que estar preparado para tudo, inclusive para essa injustiça que tenta retirar os direitos políticos do presidente com a melhor avaliação da história.

    Um presidente que recuperou a economia, preservou a estabilidade, respeitou o Estado democrático de direito e promoveu uma inédita inclusão social e distribuição de renda. Um presidente que retirou Brasil do mapa da fome, projetou o país internacionalmente e trouxe uma autoestima ao povo brasileiro, que nunca existiu na nossa história.

    O Lula e o Brasil não merecem isso: uma condenação sem prova, que certamente será revertida em outras instâncias da justiça".

    *

    Dilma Rousseff (PT), ex-presidente da República

    A condenação de Luiz Inácio Lula da Silva, sem provas, a 9 anos e seis meses de prisão, é um escárnio. Uma flagrante injustiça e um absurdo jurídico que envergonham o Brasil. Lula é inocente e essa condenação fere profundamente a democracia.

    Sem provas, cumprem o roteiro pautado por setores da grande imprensa. Há anos, Lula, o presidente da República mais popular na história do país e um dos mais importantes estadistas do mundo no século 21, vem sofrendo uma perseguição sem quartel.

    Ontem, com indignação, assistimos à aprovação pelo Senado do fim da CLT. Uma monumental perda para os trabalhadores brasileiros.

    Agora, assistimos essa ignominia que está sendo exercida contra o ex-presidente Lula com o objetivo de cassar seus direitos políticos.

    O país não pode aceitar mais este passo na direção do Estado de Exceção. As garras dos golpistas tentam rasgar a história de um herói do povo brasileiro. Não conseguirão.

    Lula é inocente. E o povo brasileiro saberá democraticamente resgatá-lo em 2018.

    Nós iremos resistir.

    *

    Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

    "Foi evidentemente um julgamento politico. Desde o princípio o Moro agiu como promotor de toga, atuou com presunção de culpa do Lula e agora comprovou isso numa condenação sem nenhuma prova, que beira o ridículo".

    Segundo ele, lideranças de movimentos de esquerda se reunirão hoje para decidir ações de reação à condenação.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024