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    Apartamento de Paula Lavigne e Caetano une políticos e artistas pelo 'Fora, Temer'

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    02/08/2017 02h00

    Sentado no sofá de seu apartamento em Ipanema, em uma noite de maio, Caetano Veloso dedilhava o violão. A melodia acompanhava o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que versava: "Temer tem que cair antes do dia 26 [de junho]. Porque, no dia 26, é o dia em que os procuradores vão escolher o substituto do Janot".

    Temer continua na Presidência e já nomeou Raquel Dodge sucessora do procurador-geral da República. Mas Caetano acabaria tocando ali a primeira nota do movimento de artistas contrários a Temer, que promoveu protestos pelas Diretas Já e vem divulgando a ação "342 Agora" —número de deputados que querem pressionar a votar pela aceitação da denúncia de Janot contra o presidente. A sessão está prevista para esta quarta (2).

    Randolfe e Caetano

    Desde esse papo com Randolfe, divulgado em vídeo nas redes sociais, Paula Lavigne, empresária e companheira de Caetano, tem aberto sua casa para jantares com atores, músicos e políticos.

    "Sugeri que ela reunisse artistas os que apoiaram e os que foram contra o impeachment. O 'Fora, Temer' juntava todos", afirma o senador. Ou "Xô, Vampirão", como preferem os comensais, nome de um samba improvisado por Xande de Pilares também no apartamento de Ipanema.

    Xo Vampirão

    O grupo também se manifestou pelo parecer contrário a Temer do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), relator da denúncia na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), e contra as nomeações de aliados pelo secretário estadual de Cultura do Rio.

    A comunhão de quem estava em lados opostos parece afinada com o discurso da Rede para 2018. No Instagram, Marina, que esteve no apartamento no último final de semana, o resumiu em um vídeo em que disse ter reavivado a "esperança de ver o Brasil unido". À Folha Molon fala em "superar a velha polarização" e "construir soluções que unam o país".

    Os três estão no páreo de 2018 e o partido não esconde o desejo de lançar uma chapa presidencial com Marina e o ex-ministro do Supremo Tribunal
    Federal Joaquim Barbosa —que também se reuniu com artistas na casa de Lavigne, mas disse não ter disposição para a disputa.

    "Ele tem hesitado e nós temos insistido", conta Randolfe.

    CAMPANHAS

    O senador amapaense ficou amigo da empresária após a CPI do Ecad. Hoje, ele se hospeda na casa da empresária quando está no Rio e vão à academia juntos.

    Na época da CPI, em 2012, Lavigne se destacou como uma das lideranças dos músicos por transparência no pagamento de direitos autorais. Daí nasceu a Associação Procure Saber, que ficou famosa por sua posição contrária à publicação de biografias sem autorização prévia do biografado.

    Em 2007, Paula Lavigne atuou no marketing político. Naquele ano, ela foi convidada por Rodrigo Maia, então dirigente do DEM e hoje presidente da Câmara, para criar o programa de TV que reapresentava o partido, antigo PFL, após trocar de nome.

    Maia disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que pensou em Lavigne por achar que ela seria capaz de renovar a linguagem da propaganda partidária. A relação entre os dois se resumiu a esse contrato.

    Horário político DEM 2007

    Hoje, ela aconselha o amigo Randolfe a se comunicar melhor: "Ela até fez um media training comigo. Poucas pessoas conhecem as redes sociais como a Paula, ela tem muita experiência de falar com o sentimento popular".

    Lavigne não quis dar entrevista sobre seu engajamento. Afirma que o movimento dos artistas é amplo e que ela não idealiza sozinha as ações do grupo.

    No caso do "342 Agora", os artistas contaram com a ajuda do Mídia Ninja, do grupo Fora do Eixo. É Lavigne quem dispara a seus contatos do WhatsApp imagens e vídeos para os apoiadores divulgarem em suas redes. A última safra foi na terça (1º) à noite, antecedendo a votação.

    "Isso tudo é feito por mim e dois estagiários. Já, já Caetano arruma outra empresária", ela brinca, por mensagem.

    De acordo com a empresária, o site do projeto registra 300 mil acessos por dia e somou 5,3 milhões de visitas -1,5 milhão delas no dia do lançamento, em 10 de julho.

    Pablo Ortellado, professor da USP e colunista da Folha, escreveu na terça (1º) que a mobilização do "342 Agora" no Facebook, que ele monitora, "desapareceu" nas últimas semanas -a publicação recente de maior relevância teve mil compartilhamentos segundo sua métrica, "pouco" para a rede social.

    Lavigne argumenta que o grupo tem outras ocupações e não possui com estrutura para manter o fôlego da primeira semana. Além disso, diz que projeto conseguiu "andar sozinho" e mencionou o recesso parlamentar, encerrado na segunda (30).

    Seja qual for o resultado para Temer na Câmara, o grupo de artistas já tem reunião marcada para o fim de semana, em que discutirão a "fase dois" do engajamento. Endereço? A casa de Lavigne e de Caetano.

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