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    RÉPLICA

    Globo faz jornalismo, não campanha contra ou a favor

    ALI KAMEL
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    05/08/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 02-08-2017, 19h00: Sessão da câmara dos deputados destinada inicia a votação da admissibilidade da investigação contra o presidente Michel Temer no plenário. O presidente da câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) preside a sessão. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Câmara dos deputados durante votação que barrou denúncia de corrupção feita contra Michel Temer

    Após a leitura de "Globo derruba JN, mas perde queda de braço com Temer" (Poder, 4/8), chego à conclusão de que o colunista Nelson de Sá não respeita o jornalismo que o próprio jornal em que trabalha pratica: a Folha de S.Paulo.

    Desde que a crise provocada pela delação da JBS eclodiu em 17 de maio, a Folha tem publicado tudo sobre as acusações contra Temer, num tom bastante crítico.

    Publicou três editoriais, um pedindo a renúncia, outro aconselhando deputados a votar a favor da autorização para que o Supremo julgue a denúncia contra o presidente e um terceiro lamentando a decisão da Câmara.

    No dia seguinte à votação, a manchete do jornal era: "Temer usa máquina, demonstra força e barra denúncia na Câmara". Em página interna, o título era ainda mais forte: "Balcão de negócios com recurso público garante vitória governista".

    Os colunistas políticos também não mediram palavras. Um deles batizou sua coluna assim: "A vitória da mala". A Globo jamais usou em seus telejornais manchetes tão duras, mas também cobriu a crise política iniciada com as acusações contra o presidente Temer, sem nada esconder, com isenção, como fez com as denúncias que envolveram os ex-presidentes Lula e Dilma. Uma prova de que não protege ninguém.

    Nelson de Sá preferiu ignorar tudo isso e dizer que desde o dia 17 de maio a Globo e a Globo News "atiram sem intervalo contra Temer", esquecendo-se do que a própria Folha faz.

    Na versão on-line do artigo, diz que a GloboNews entrevistou Fernando Henrique Cardoso quando este pediu a saída de Temer, mas omite que a Folha publicou artigo dele antes, em 26 de junho, pedindo o mesmo (a entrevista na GloboNews foi no dia 11 de julho).

    O colunista cita um almoço rotineiro do diretor institucional do Grupo Globo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, insinuando uma conspiração inexistente, mas novamente omite que Maia sempre jurou lealdade a Temer e provou isso na votação e nos dias que a antecederam. Que conspiração?

    Destaca, vergonhosamente, que o deputado Sérgio Zveiter, o relator da CCJ na Câmara, cujo parecer foi contrário a Temer, advogou, anos atrás, para a Globo, como se isso, de algum modo, pudesse ser prova de que a Globo influenciou em sua nomeação.

    E por fim pergunta se, vitorioso, Temer reduzirá investimentos publicitários do governo na Globo, como se isso pudesse ter algum algum impacto no compromisso da emissora com a notícia.

    A Globo tem orgulho de seus incontáveis anunciantes, porque são eles que garantem a sua independência: dependendo de muitos não depende de nenhum. Muito menos de governos, a quem nada deve, em nenhuma circunstância.

    E quando o interesse público impõe, a Globo não hesita em cancelar a sua grade de programação, e os seus espaços comerciais, para bem informar os seus espectadores: foi assim no impeachment de Collor e de Dilma, foi assim na votação da denúncia de Temer, com excelente resposta da audiência, interessada no futuro do Brasil.

    Se a Globo foi a única a ter essa atitude, trata-se de um mérito, não de um defeito: o interesse do país em primeiro lugar. A Globo faz jornalismo, não faz campanha, nem contra nem a favor. Em respeito ao público. Por tudo isso, essa coluna de Nelson de Sá, sem base na realidade, destoa do bom jornalismo praticado pela Folha.

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