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    Escândalo do mensalão volta a rondar siderúrgica Usiminas

    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    12/08/2017 02h00

    Lula Marques - 6.jul.2005/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 06-07-2005, 18h30: Escândalo do "Mensalão": o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, no Senado, em Brasília (DF). O publicitário disse que desconhece o suposto "mensalão" pelo qual o PT pagaria por apoio de deputados do PL e do PP. Valério confirmou sua amizade com Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, admitiu que se reuniu com o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu no Palácio do Planalto e atacou sua secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio. Valério não explicou os saques milionários em dinheiro vivo de suas contas bancárias. (Foto: Lula Marques/Folhapress. Digital)
    Delação de Marcos Valério implica Usiminas

    Se a delação do publicitário Marcos Valério, assinada no mês passado, trouxe novamente à tona a ligação entre a Usiminas e o pagamento de caixa dois, as conversas sobre o esquema já vinham sendo reavivadas entre funcionários e investidores desde o ano passado.

    Em março de 2016, o sindicalista Luiz Carlos de Miranda Faria, acusado pela CPI dos Correios de ter sacado R$ 68.541,84 do chamado "valerioduto" em 12 de agosto de 2004, foi eleito para uma vaga no Conselho de Administração da empresa.

    No relatório da CPI que investigou o mensalão, o nome de Miranda aparece entre os eventuais prestadores que sacaram dinheiro da SMP&B, de Valério, sem que tivessem seus serviços comprovados. Em acareação feita pelos parlamentares, o sindicalista foi apontado como entregador para o PTB.

    Na época, os ex-deputados Romeu Queiroz (então no PTB) e Roberto Brant (então no PFL) admitiram terem recebido, em 2004, cerca de R$ 100 mil da Usiminas via Valério para campanhas municipais em Minas.

    Segundo a delação e a investigação da CPI, o contrato de publicidade entre a siderúrgica mineira e a SMP&B abasteceu campanhas, inclusive presidenciais, de 1998 a 2004.

    O relatório da CPI identifica R$ 2,9 milhões em pagamentos da Usiminas à SMP&B, feitos em agosto e setembro de 2004, sem que houvesse comprovação do serviço prestado. Os saques, no período, totalizam quase R$ 2 milhões.

    Miranda, atual conselheiro da Usiminas, foi deputado estadual pelo PDT em Minas e é secretário-geral do Solidariedade no Estado. Um dos fundadores da Força Sindical, ele comandou o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa) por mais de 20 anos -de 1985 a 1994 e de 2000 a 2013.

    À Folha, Miranda afirmou que o valor sacado era uma contribuição da Usiminas com a festa do 1º de Maio realizada pelo sindicato.

    Em 2010 e 2011, ele foi alvo de duas ações civis do Ministério Público do Trabalho acusado de desviar recursos do sindicato e receber doações das empresas da base do Sindipa em troca de fechar acordos menos favoráveis aos trabalhadores.

    Para dar fim às ações, Miranda acertou um acordo com o MPT. Em 2012, se comprometeu a nunca mais concorrer ou assumir cargos no Sindipa.

    Miranda era próximo de Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas à época do esquema e morto em 2011. Concorreu a deputado estadual em 2006 e 2010, quando alcançou a suplência e, mais tarde, o mandato na Assembleia. Atualmente tenta criar um novo sindicato em Ipatinga.

    O fato de Miranda ocupar um cargo estratégico gerou incômodo e questionamento no ambiente interno da Usiminas. Além de compor o colegiado de 11 pessoas que define os rumos da empresa, ele também acompanha o atual presidente, Sérgio Leite, em diversos compromissos institucionais.

    OUTRO LADO

    Procurado pela Folha, Miranda disse que "não conhece Marcos Valério" e que "não cometeu ilegalidade". Afirmou que ficou surpreso ao ser citado na CPI e que sacou a quantia no Banco Rural por orientação da direção da Usiminas.

    "O sindicato recebeu uma ajuda da Usiminas, como sempre fez, para fazer o 1º de Maio. Esse dinheiro foi tirado do Banco Rural e entrou na contabilidade do sindicato, que foi registrada em cartório. Levei toda a documentação à CPI e à Polícia Federal. Eu não tenho dinheiro público, mensalão é dinheiro público, eu não era político", diz.

    Em nota, a Usiminas afirmou que os fatos "ocorreram há cerca de 20 anos, sendo que nenhum administrador da companhia à época é administrador da atualmente".

    Sobre a delação de Marcos Valério, a empresa diz que não teve acesso aos documentos e desconhece a veracidade dos fatos.

    "A Usiminas reitera seus elevados padrões de governança e compliance, que garantem a total observância da legislação brasileira anticorrupção", afirma a nota.

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