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    Quem seguir politicamente correto vai dançar, diz Malafaia a Alckmin e Doria

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    17/08/2017 12h08

    Anna Virgínia Balloussier/Folhapress
    O pastor Silas Malafaia com o pastor Jabes Alencar, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria nesta quinta-feira (17), na abertura da ExpoCristã, feira do mercado evangélico, em São Paulo
    Silas Malafaia com o pastor Jabes Alencar, Geraldo Alckmin e João Doria, na abertura da ExpoCristã

    Se apostarem no "politicamente correto", podem ir se preparando para "seguir seu caminho" em 2018, pois os valores evangélicos são "inegociáveis".

    Eis a mensagem que o pastor Silas Malafaia passou ao prefeito João Doria e ao governador Geraldo Alckmin, engalfinhados numa guerra de bastidores pelo título de presidenciável tucano na próxima eleição.

    Recado dado —e recebido com gargalhadas e mãos ao alto, em gesto de oração, pela dupla nesta quinta-feira (17), na abertura da ExpoCristã, feira do mercado evangélico.

    A birra maior é com a "ideologia de gênero", disse Malafaia no palco onde Doria e Alckmin sentaram lado a lado, à frente de uma bandeira do Brasil projetada no telão.

    Indigesta para igrejas evangélicas em geral, a ideia prega que masculino e feminino são construções sociais, e não biológicas. Logo, segundo esse raciocínio, ser heterossexual não seria natural à humanidade.

    A inclusão de termos como "ideologia de gênero" e "orientação sexual" no currículo escolar é combatida pela bancada evangélica na Câmara, que também rejeita a possibilidade de alunos transgêneros usarem o banheiro que preferirem (a trans que se reconhece na identidade feminina seria, portanto, obrigada a usar o toalete masculino).

    Declarando-se a favor do "gênero humano", Malafaia afirmou que noções como essas são "uma das maiores engenharias do diabo para destruir a família".

    O líder da carioca Assembleia de Deus Vitória em Cristo lembrou que evangélicos e católicos, somados, representam a maioria da população brasileira —80%, segundo pesquisa Datafolha.

    Nada mais lógico que a vontade do bloco cristão deva ser soberana, disse. "Como maioria num Estado de direito, vamos nos fazer prevalecer e isso é inegociável. [...] Quem quiser fazer graça com o politicamente correto vai embora, segue aí o seu caminho. Não vamos entrar nesta furada de jeito nenhum."

    O pastor Jabes Alencar (Assembleia de Deus Bom Retiro) brincou após o amigo Malafaia encerrar a fala: "Como ele está calmo. O Rivotril não estava vencido".

    Minutos antes, os tucanos tomaram café da manhã com o pastor, chamado de "amigo" pelo prefeito ("tive o privilégio de compartilhar a mesa ao seu lado").

    Malafaia afirmou à Folha que os dois trocam mensagens no WhatsApp. Numa delas, em julho, aconselhou Doria a deixar o PSDB para driblar a batalha interna e disputar o pleito do ano que vem (o tucano respondeu que estava "analisando" o cenário).

    A declaração da liderança carioca ressonou entre os colegas.

    "Não é colocar crente na Presidência, é colocar alguém que defenda nossos valores", disse o pastor Claudio Duarte, famoso por vídeos polêmicos no YouTube, como aquele em que discorre sobre "sexo anal e masturbação no casamento evangélico".

    "Botei filho na escola para aprender português, matemática", e não ideologia de gênero, afirmou.

    O encontro contou com centenas de pastores e foi organizado pelo pastor Luciano Luna e por Geraldo Malta, assessores informais de Alckmin e Doria para o segmento religioso.

    Divulgação
    O pastor Jabes Alencar com o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria nesta quinta-feira (17), na abertura da ExpoCristã, feira do mercado evangélico, em São Paulo
    Pastor Jabes Alencar durante café da manhã com Geraldo Alckmin e João Doria na abertura da feira

    FALTOU TEMER

    A presença de Michel Temer (PMDB) estava confirmada, e sua equipe inclusive já estava posicionada no local, um pavilhão na zona norte de São Paulo. Mas ele desistiu de ir na última hora por "motivos de segurança", resposta que a organização ouviu do staff presidencial.

    O evento recebeu mais pastores do que o inicialmente previsto, abarrotando o salão onde os evangélicos promoveram uma "oração pelo Brasil".

    "Nós somos brasileiros e não desistimos nunca. E feliz é a nação cujo Deus é o senhor", disse o pastor Alencar, que fez as vezes de mestre de cerimônias. Chegada a hora de discursarem, Alckmin e Doria repetiram a última frase.

    O prefeito também soltou um "glória a Deus".

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