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    Ex-PTN, Podemos mira de dissidentes do PMDB a nomes da Lava Jato

    DANIEL CAMARGOS
    AMANDA AUDI
    PABLO RODRIGO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    20/08/2017 02h00

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    O senador Álvaro Dias (Pode-PR)
    O senador Álvaro Dias (Pode-PR)

    Antigo PTN, o Podemos faz uma ofensiva nacional para tentar encorpar a candidatura do senador paranaense Alvaro Dias à Presidência no ano que vem. Corteja os procuradores da Lava Jato, flerta com insatisfeitos no PMDB, como a senadora ruralista Kátia Abreu (TO), e namora os prefeitos de Belo Horizonte e Betim (MG), Alexandre Kalil e Vittorio Medioli, ambos do PHS.

    As conversas estão adiantadas em Minas Gerais. Dias viaja o Brasil e esteve duas vezes nos últimos meses com Kalil e Medioli. Contribui para o intento do senador paranaense o racha interno no PHS mineiro, que coloca o prefeito de Betim e o presidente da legenda no Estado, o deputado federal Marcelo Aro, em lados opostos.

    Medioli afirma que não conversa com Aro desde que o presidente do PHS mineiro assumiu o posto de diretor de relações institucionais da CBF. "Ele [Aro] é um impedimento à minha permanência no PHS de Minas", afirma o prefeito de Betim, o mais rico do Brasil, com patrimônio declarado de R$ 352,6 milhões.

    Aro responde que não pretende deixar o comando da legenda em Minas e rebate: "Se ele [Medioli] não está satisfeito, a porta é serventia da casa".

    Kalil, por sua vez, afirma ter simpatia pelo senador Alvaro Dias, mas afirma que no momento não pretende mudar de legenda. O prefeito de BH e o de Betim fizeram uma campanha articulada. Uma empresa de Medioli comprou um apartamento dos filhos de Kalil e o dinheiro da transação foi doado para financiar a campanha do prefeito de Belo Horizonte.

    O convite a Medioli, segundo o presidente do Podemos em Minas, deputado federal Ademir Camilo, é para que o prefeito de Betim seja candidato ao governo mineiro pela legenda. Medioli afirma que só decidirá em março de 2018. "Ainda é prematuro e meu desejo é ficar até 2020 em Betim", afirma.

    O Podemos também ofereceu a legenda para a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) disputar o governo do Tocantins no ano que vem. A postura de defesa da senadora em relação a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) deixou a ruralista desgastada no partido, sendo que o Conselho de Ética do PMDB avalia a expulsão da senadora.

    Abreu, porém, estuda ainda o convite do PDT. Ela já se reuniu com o presidente da legenda, Carlos Lupi e com a ex-presidente Dilma para tratar da mudança. A decisão, segundo a assessoria de imprensa da senadora, ainda não foi tomada.

    Outro rebelde do PMDB que, segundo a direção do Podemos está acertado com o partido é o deputado federal Sérgio Zveiter (PMDB-RJ). Como relator da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Zveiter recomendou a aceitação da denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer e ficou sem clima no partido.

    A proposta do Podemos é que Zveiter seja candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro, mas de acordo com assessoria de imprensa do deputado, a mudança não está fechada. O Podemos conta ainda com o senador Romário, que planeja ser candidato ao governo fluminense.

    O Podemos mira os rebeldes, mas também quer filiar fiéis a Michel Temer. Em Mato Grosso, a sigla articula a filiação do senador José Medeiros (PSD-MT), vice-líder do governo Michel Temer no Senado.

    Os senadores Dias e Romário já se reuniram com Medeiros e articularam o ingresso dele na sigla para disputar o governo ou a reeleição ao Senado. "Está tudo certo com o Podemos, mas preciso comunicar e conversar com o meu grupo político", afirma Medeiros.

    O ex-senador mato-grossense Antero Paes de Barros também foi convidado pelos caciques do Podemos a voltar a disputar as eleições. Outro nome sondado pelo partido no Estado é do atual presidente do Tribunal de Contas do Estado, Antônio Joaquim, que já anunciou a aposentadoria no final do ano para disputar um cargo majoritário em 2018.

    A legenda também convidou Andrea Matarazzo (PSD-SP), candidato derrotado à prefeitura de São Paulo. Mas Matarazzo nega que mudará de legenda. "No momento voltei para minha atividade de industrial, que me ocupa 100% do tempo", afirma.

    PODEMOS

    O sonho do partido é filiar os procuradores da paranaenses da Lava Jato. Dias afirma que seria "a maior honra" a filiação do chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol. "Me sinto constrangido de fazer o convite, mas queria muito."

    Dallagnol, porém, nega a intenção de entrar na política neste momento. A assessoria de imprensa do Ministério Público Federal em Curitiba afirma que nenhum dos procuradores irá se filiar ou concorrer nas eleições de 2018.

    Apesar de tentar parecer novidade, o partido é um dos mais antigos do Brasil, de 1945 –foi a legenda de Jânio Quadros quando o paulista foi eleito presidente, em 1960. Extinto com o AI-2, durante o Golpe Militar, o PTN foi refundado em 1995 e, no mês passado, mudou o nome para Podemos.

    Seu principal nome, Dias, é uma velha raposa da política: seu primeiro cargo, como vereador em Londrina, foi em 1968. Nesses quase 50 anos, já passou pelo PMDB, pelo PSDB e pelo PV, antes do Podemos.

    No primeiro teste para valer com o nome novo, a legenda não teve unidade. Na votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, no início do mês, nove deputados do Podemos votaram pela rejeição da denúncia e cinco, pelo prosseguimento.

    "Direita e esquerda não vão mudar o mundo. O que move a sociedade são causas", afirma a presidente do Podemos, deputada federal Renata Abreu (SP), ao ser perguntada sobre os diferentes matizes ideológicos dos nomes sondados pela legenda.

    Abreu cita como inspiração o partido Pirata, da Finlândia, o governo de Emmanuel Macron na França e o homônimo espanhol. "Apesar de ser de esquerda [o Podemos espanhol], é interessante por promover a participação direta do cidadão", afirma, em referência ao movimento fundado em 2014.

    O Podemos convocou para preparar um plano de governo nomes como o jurista Miguel Reale, um dos autores da tese que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, e Luís Paulo Rosenberg, economista e ex-diretor de marketing do Corinthians.

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