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    Se Tasso não se afastar da presidência do PSDB podemos implodir, diz tucano

    DANIELA LIMA
    EDITORA DO "PAINEL"

    21/08/2017 18h56

    Pedro França/Agência Senado
    O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE)
    O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE)

    "Não vejo como Tasso Jereissati (PSDB-CE) permanecer na presidência do partido e nós ficarmos no governo. Ou ele se afasta, o que seria um gesto de grandeza de quem percebeu que está em conflito com a visão majoritária, ou podemos caminhar para uma implosão." O diagnóstico é do deputado federal Marcus Pestana (MG), fundador do PSDB e, agora, espécie de porta-voz informal da ala da sigla que defende o apoio ao presidente Michel Temer.

    Aliado de Aécio Neves (PSDB-MG), Pestana diz que erra quem encara a divisão do PSDB como uma disputa entre o senador mineiro e o cearense. "A divergência é real e natural em qualquer partido, mas tem que haver unidade de ação. E isso é conquistado com habilidade, respeito ao divergente. O Tasso é uma pessoa querida e admirada, mas ninguém esperava que nessa presidência interina ele fosse agir contra a posição majoritária", diz.

    Pestana afirma que o presidente interino da legenda tem imposto aos quatro nomes do PSDB que ocupam ministérios no governo uma situação constrangedora. Ele afirma ainda que o cearense desrespeita entendimentos firmados em várias instâncias e avisa que, se Tasso permanecer no comando da legenda, há o risco de uma debandada.

    Leia abaixo os principais trechos da conversa.

    Divisão

    O fato é que agora se cristalizaram dois lados. Ficou insustentável. Sou fundador e estou no PSDB desde 1988. Este é sem dúvida o momento mais grave, com riscos reais de uma implosão. Se o futuro nos une, o presente nos divide.

    Houve uma divisão profunda em torno da participação no governo pós-impeachment e em relação à própria denúncia da PGR contra o presidente Temer. A divergência é real e natural em qualquer partido, mas tem que ter unidade de ação. O Tasso é uma pessoa querida e admirada, mas ninguém esperava que nessa presidência interina ele fosse agir como porta-voz de uma corrente contra a posição majoritária. Sucessivas vezes ele usou a presidência interina para confrontar o posicionamento da maioria. O papel dele deveria ser o de um algodão entre cristais. Dialogar com todos e respeitar as decisões, mas não foi isso o que ele fez.

    Ala fisiológica

    Isso é um absurdo. O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que chegou anteontem ao partido não conhece bem a história pessoal e coletiva dos quadros do PSDB, vem dizer que somos governistas? Veja se Aloysio [Nunes, ministro das Relações Exteriores], Bruno [Araújo, ministro das Cidades] e Imbassahy [secretário de Governo] são apegados a cargos? Eu tenho uma história como tantos outros. Tasso apostou numa perspectiva que é divisionista, não na construção mirando o futuro. Nesse cenário, ou ele abre mão da presidência e aí prevalece a visão da maioria ou teremos uma implosão.

    Até para ele ter liberdade de defender suas ideias e convicções, poderia passar o comando do partido para outro vice-presidente que colasse os cacos, que produzisse um processo de construção de consensos. Não vejo como o Tasso ficar e nós ficarmos no governo. Ou ele se afasta –e seria um gesto de grandeza dele, percebendo que ele está em conflito com a visão majoritária– ou se ele ficar podemos caminhar para uma implosão partidária. Ele tensionou demais.

    O nosso líder [Ricardo Tripoli] passou semanas vendendo para a imprensa que seriam 30 votos a favor da denúncia. Eles perderam por 22 a 21. Chamaram reunião da executiva ampliada. Decidiu-se pela aposta na estabilidade, de olho na aprovação das reformas, das medidas que o país precisa para superar a crise. Esse foi o entendimento da maioria. A unidade tem que ser construída. Ela não é feita com a imposição de uma visão de um presidente, por decreto.

    Proteger o Aécio

    Essa versão é mais uma caricatura que ofende a posição majoritária e é esse desrespeito que está nos levando a esse impasse. Passar para as pessoas que nós, com a nossa história, somos fisiológicos, apegados ao poder... Eu era líder do governo em Juiz de Fora e renunciei para fundar o PSDB. Não tenho apego ao poder.

    Não é um confronto entre Tasso e Aécio, que, aliás, tem sido correto com o Tasso. Eles acertaram essa presidência de transição, deveria ser um momento de baixar a poeira e construir uma unidade real, não retórica.

    Debandada

    Nunca houve esse clima no PSDB. Em 29 anos. Eu torço e vou trabalhar para que não haja debandada, mas realmente a ala majoritária tem sido muito mais discreta. O problema é que os porta-vozes que têm vindo à público têm propugnado posições que não refletem a maioria.

    Vou trabalhar pela unidade. Tenho um vínculo afetivo e estou extremamente constrangido e triste com a nossa situação. Mas não pode a direção do partido hostilizar ministros, a posição majoritária das bancadas. Não será o senador Ferraço, um neotucano, que vai me dizer como defender a história, a memória, a coerência do PSDB.

    A ameaça de fratura é real, para um lado e para o outro. Tenho 29 anos de partido, mas o partido é ferramenta, não é fim em si mesmo. Se não serve mais para o que se acredita, não se tem que ter apego, como se ele fosse uma instituição imune.

    Espero que Aloysio, Marconi, Alckmin, Serra, Paulo Bauer e Tripoli sejam iluminados e dialoguem.

    FHC

    O presidente Fernando Henrique está em outra esfera. Ele tem tido uma postura de conselheiro da República, colocando sua bagagem a serviço do país, mas em um outro plano.

    Temos que buscar as coisas que nos unem. A figura de FHC nos une. Acredito que se houver um debate ele vai enxergar várias incongruências e equívocos nessa estratégia de comunicação [o programa nacional da TV, que criticou o 'presidencialismo de cooptação'].

    Para não ser igual a eles, quero deixar claro que respeito o diagnóstico e as formulações dessa corrente [que defende a ruptura com Temer]. É legítima a divergência. Dela se faz discussão, debate, formação de maioria e deliberação. A partir daí, todo mundo caminha unido. O partido não pode ser usado para constranger e depreciar.

    A divergência, quando tratada de maneira irresponsável, ela imobiliza. Em vez de discutir reformas, retomada do crescimento, gastamos nossa preciosa e qualificada energia num embate interno cheio de irracionalidade e com potencial explosivo.

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