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    Governador de MT disse que não ia 'remexer' gestões anteriores, afirma delator

    BELA MEGALE
    LETÍCIA CASADO
    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    25/08/2017 16h52 - Atualizado às 21h03

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB)
    O governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB)

    O ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) disse em acordo de delação premiada que Pedro Taques (PSDB), atual governador do Estado, se comprometeu a não "remexer" nos erros dos governos anteriores –o dele, Barbosa, e o de seu antecessor, Blairo Maggi (PP).

    Segundo o delator, o acerto foi feito em uma reunião durante a campanha de 2014 em que os três estavam presentes na casa do então prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), que também participou do encontro.

    "Pedro Taques pediu ao colaborador para não investir na campanha de Ludio [Cabral, candidado ao governo de Mato Grosso pelo PT], sendo que se o colaborador não investisse, ele [Pedro Taques] não iria ficar remexendo nos erros cometidos nas gestões anteriores, tendo o colaborador concordado que Blairo Maggi tinha interesse nesse acordo, pois sabe que fatos ocorridos na gestão do colaborador foram realizados para quitar despesas deixadas por Blairo".

    Barbosa relatou também que em outra reunião com Mendes, na qual ele falou em nome de Pedro Taques, foram solicitados R$ 20 milhões para a campanha do tucano. Isso reforçaria a postura de Taques de não vasculhar as gestões anteriores.

    ARRECADAÇÃO

    O ex-governador disse que chegou a conversar com o próprio Taques na época da campanha e que o questionou sobre o auxílio pedido por Mauro Mendes.

    Barbosa afirmou que posteriormente o responsável pela arrecadação da campanha de Taques deixou de ser Mauro Mendes e passou a ser o empresário Alan Malouf. Em nova reunião com ele e com Taques, o então candidato a governador agradeceu a atuação de Barbosa destacando que a campanha do rival estava financeiramente "tímida".

    Posteriormente, o delator narrou um novo encontro com Taques, com o ex-secretário do Estado e ex-diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, e outros presentes, quando foi dito que a campanha já tinha arrecadado muitos recursos.

    O pedido de R$ 20 milhões foi suspenso, mas foi solicitado que ele colaborasse para a campanha do tucano com R$ 2 milhões, além de 1 milhão de litros de combustível. Barbosa concordou e combinou que Pagot passaria em seu gabinete para executarem o acerto. O fato, porém, acabou não acontecendo.

    J&F

    Barbosa trouxe informações que não aparecem no acordo de colaboração da J&F, empresa controladora da JBS, em relação a pagamentos ilícitos a Pedro Taques (PSDB), atual governador do Estado.

    No seu relato, Barbosa afirmou que um dos donos da J&F Wesley Batista, que também é delator, disse a ele que "já havia ajudado Pedro Taques na campanha ao Senado [2010] com valores através de uma offshore".

    A conversa ocorreu em um encontro entre o empresário e Barbosa em São Paulo em 2014, segundo o ex-governador. Nessa conversa, ele teria solicitado que parte dos valores de propina devidos ao governo de Mato Grosso fosse repassada à campanha do tucano daquele ano.

    O então governador afirmou que tinha combinado com o ministro Blairo Maggi (PP), que o antecedeu no cargo, e com o então prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, um dos responsáveis pela captação de recursos para a campanha do tucano, que auxiliaria financeiramente o pleito de Taques de maneira oculta, já que oficialmente apoiou o candidato Lúdio Cabral, do PT.

    O motivo do apoio a Taques era que ele e Blairo tinham receio de o tucano vasculhar suas gestões como governadores, segundo o delator.

    Barbosa pediu a Wesley que repassasse R$ 4 milhões dos R$ 12 milhões de crédito de propina que tinha com o grupo.

    O ex-governador disse que soube que o empresário foi a Cuiabá tratar do assunto com Taques e que "acredita que o valor de R$ 4 milhões tenha sido pago, pois o débito do declarante perante Wesley de R$ 12 milhões passou para R$ 8 milhões".

    Por meio de nota, a J&F informou que os colaboradores já apresentaram informações e documentos à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério Público Federal no âmbito da investigação em curso e que estão sendo tratados dentro dos trâmites legais. Os colaboradores continuam à disposição para cooperar com a Justiça.

    OUTRO LADO

    Por meio de nota, o governador Pedro Taques afirmou que não tem conhecimento do teor da delação de Silval Barbosa e que ele se utilizou do acordo "para fazer vingança pessoal ou comércio para atender interesses outros".

    Disse ainda que foi adversário do ex-governador nas duas eleições que disputou, sendo a primeira para senador, em 2010, e a segunda para governador, em 2014. Destacou que atuou por 15 anos no Ministério Público Federal e que "tem uma história de combate ao crime e aos criminosos".

    "Como governador, seu primeiro decreto determinou a suspensão de pagamentos e auditagem de todos os contratos da gestão anterior. Talvez por essa razão o ex-governador atribua a Pedro Taques a responsabilidade pelas ações judiciais e operações policiais que levaram à prisão não apenas de Silval Barbosa, mas de sua esposa e um de seus filhos", disse a nota do governo.

    Luiz Antonio Pagot diz que as acusações feitas por Silval Barbosa não procedem.

    "O ex-governador me colocou em reuniões que nunca estive, em programas de governo que não participei (por exemplo o MT Integrado executado em seu mandato, programa que critiquei por projetos de má qualidade e de preços exagerado). Na época não fazia parte da administração estadual. E, ainda nominou procedimentos de acordos de bancos com empreiteiras que não fizeram parte do escopo da Secretaria de Infraestrutura a qual fui gestor de 01 de janeiro de 2013 à 30 de junho de 2015. Qualquer ação de edificações públicas, habitações populares e rodovias (incluindo pontes, recuperação e pavimentação) neste período ou seja 613 obras fui responsável. Fora deste período é confusão mental", disse Pagot à Folha.

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