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    Lava Jato

    Janot diz que não age por coragem, mas por medo de errar e decepcionar

    DE BRASÍLIA

    05/09/2017 15h30

    Pedro Ladeira - 4.set.2017/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 04-09-2017, 19h00: O procurador geral da república Rodrigo Janot durante pronunciamento à imprensa para falar sobre uma possível revisão do acordo de delação premiada da JBS. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot

    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta terça-feira (5) durante sessão do CSMPF (Conselho Superior do Ministério Público Federal) que o pronunciamento sobre a revisão do acordo de delação da JBS, feito nesta segunda (4), foi um dos momentos mais tensos de sua carreira. Ele disse também que não age por coragem, mas por "medo de errar" e decepcionar a instituição.

    Janot deixa a PGR (Procuradoria-Geral da República) no próximo dia 17, depois de quatro anos à frente do Ministério Público Federal.

    "Alguém disse: 'Você é um homem de muita coragem'. Eu pensei: 'Será que sou?' Eu pensei que não tenho coragem nenhuma, eu tenho é medo, e o medo nos faz alerta", disse.

    "Medo de quê? De errar muito e decepcionar as instituições. As questões que enfrentei, enfrentei por medo de errar, de me omitir, de decepcionar minha instituição mais do que por coragem de enfrentar os desafios", afirmou Janot.

    O procurador-geral será substituído no cargo por Raquel Dodge, nomeada no mês passado pelo presidente Michel Temer. Dodge também é conselheira do CSMPF e estava na sessão.

    No pronunciamento desta segunda, quando anunciou a abertura de uma investigação que pode cancelar os benefícios do acordo de delação da JBS, Janot abriu sua fala com uma citação em inglês: "The only easy day was yesterday" (o único dia fácil foi ontem, em tradução livre).

    Na sessão do CSMPF desta terça, o procurador retomou o tom de dificuldade e disse se sentir em uma montanha-russa, com altos e baixos.

    CASO JBS

    A PGR abriu procedimento para revisar os acordos de três dos sete delatores do grupo J&F, que controla a JBS: Joesley Batista, um dos donos, Ricardo Saud e Francisco de Assis.

    Para Janot, há indícios de omissão de informações sobre práticas de crimes no processo de negociação do acordo. O problema surgiu após os delatores entregarem à PGR, na semana passada, novos áudios.

    Em um deles, de cerca de quatro horas, entre Joesley e Saud –que aparentemente não sabiam que estavam se gravando–, há citações a integrantes da PGR e do STF (Supremo Tribunal Federal).

    "Áudios com conteúdo gravíssimo foram obtidos na quinta-feira [31]. A análise de tal gravação revelou diálogo entre dois colaboradores com referências indevidas à PGR e ao Supremo", disse Janot na segunda-feira.

    "Tais áudios também contêm indícios, segundo esses dois colaboradores, de conduta em tese criminosa atribuída ao ex-procurador Marcello Miller, que ao longo de três anos foi auxiliar do gabinete do procurador-geral."

    O procurador-geral informou que há suspeitas de que Miller tenha ajudado a JBS a confeccionar uma proposta de colaboração.

    Na gravação, Saud diz que já estaria "ajeitando" a situação do grupo J&F com Miller e que o então procurador estaria "afinado" com eles.

    Em um trecho, os delatores falam que esperavam que Miller facilitasse o caminho junto à PGR, "inclusive sugerindo futura sociedade em escritórios de advocacia em troca no processo de celebração dos acordos de colaboração premiada", informou a Procuradoria.

    Miller pediu sua exoneração do Ministério Público Federal em fevereiro e saiu em 5 de abril. Logo depois, foi trabalhar como sócio no escritório Trench, Rossi e Watanabe, em São Paulo, contratado para fazer o acordo de leniência (de pessoa jurídica) da J&F. Miller e o escritório foram chamados a prestar esclarecimentos à PGR.

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