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    Lava Jato

    Delator da JBS relata orientação de Miller ao preparar acordo de delação

    LETÍCIA CASADO
    REYNALDO TUROLLO JR.
    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    11/09/2017 15h10 - Atualizado às 17h35

    Reprodução
    Depoimento do delator Ricardo Saud, da empresa JBS
    Ricardo Saud, um dos delatores do grupo J&F, que controla a JBS

    O delator Ricardo Saud, executivo do grupo J&F, que controla a JBS, relatou em depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República), prestado na quinta-feira (7), que recebeu orientação do ex-procurador Marcello Miller durante a elaboração do acordo de delação premiada da empresa.

    Miller foi auxiliar do procurador-geral, Rodrigo Janot, até meados do ano passado, quando voltou a trabalhar na Procuradoria no Rio de Janeiro. Em 5 de abril, ele foi exonerado do Ministério Público Federal e passou a advogar no escritório Trench Rossi Watanabe, que negociou o acordo de leniência (de pessoa jurídica) do grupo J&F.

    "Marcello Miller ajudou a mostrar o caminho para passar 'do lado do bem' para não passar o resto da vida como 'bandido'. [Saud] mostrou os anexos a Marcello Miller e ele disse ok", relatou o executivo, segundo o termo de depoimento.

    Saud disse que esteve "quatro vezes com Miller, sempre este sem nenhum advogado; que nem sabe o que é leniência [espécie de delação premiada para pessoas jurídicas], tratou apenas sobre colaboração premiada, portanto não participou das negociações da leniência".

    Ainda segundo o depoimento, Saud contou a Miller sobre um encontro que teve com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que havia sido gravado, e sobre outras gravações que pretendia fazer –tudo isso antes de o acordo de delação ser fechado com a PGR.

    "[Saud afirmou] que disse a Marcello Miller que gravaria o [senador] Ciro Nogueira (...); que disse a Marcello Miller que gravou José Eduardo Cardozo; (...) que Marcello Miller disse que aquilo daria cadeia, que iriam para cima dele, depoente, e José Eduardo Cardozo; que depois dessa conversa Marcello Miller saiu da sala e estava mandando mensagens no celular; que achou isso estranho, o fato de mandar mensagens logo após essa conversa; que não mostrou a gravação de José Eduardo Cardozo a Marcello Miller, apenas mostrou um pen drive", diz trecho do depoimento.

    'EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO'

    Ao pedir a prisão do ex-procurador e dos delatores Saud e Joesley Batista, dono da JBS, a PGR destacou que há "indicativo de que Marcello Miller, ainda na condição de procurador da República, teria, em princípio, ajudado os colaboradores a filtrar informações, escamotear fatos e provas e ajustar depoimentos e declarações, em benefício de terceiros que poderiam estar inseridos no grupo criminoso [formado pelos delatores]".

    Na última quarta (6), o escritório Trench Rossi Watanabe respondeu a uma solicitação de informações feita pela PGR e encaminhou documentação interna a Janot.

    "Entre os documentos apresentados constam elementos de que, antes de março do corrente ano, Marcello Miller já auxiliava o grupo J&F no que toca o acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal. Há, por exemplo, trocas de e-mails entre Marcello Miller e advogada do mencionado escritório, em época em que [ele] ainda ocupava o cargo de procurador da República, com marcações de voos para reuniões, referências a orientações à empresa J&F e indícios de tratativas em benefícios à mencionada empresa", escreveu Janot no pedido de prisão.

    Para a PGR, há indícios de que Miller tenha cometido o crime de exploração de prestígio, além da possibilidade de ter sido cooptado pela organização criminosa composta pelos executivos da JBS, "passando, em princípio, a integrá-la".

    Joesley e Saud tiveram prisão decretada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin. O pedido de prisão de Miller foi negado pelo ministro.

    Neste domingo (10), Miller divulgou nota em que afirmou que "jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei".

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