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    Acusação de comprar votos não faz sentido, diz filha de Garotinho

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    16/09/2017 02h00

    Sergio Lima/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 12-03-15: Deputada Clarissa Garotinho - Final da sessão da CPI da Petrobras durante o depoimento do Dep. Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados.(Foto: Sérgio Lima / Folhapress - PODER)
    A deputada Clarissa Garotinho em sessão da CPI da Petrobras

    A filha do ex-governador Anthony Garotinho, Clarissa Garotinho, diz que a prisão domiciliar de seu pai na última quarta (13) foi ilegal e fruto de vingança do promotor eleitoral Leandro Manhães Barreto, que fez a denúncia de compra de votos à Justiça Eleitoral de Campos.

    Garotinho foi preso na manhã de quarta (13), durante intervalo de um programa que comanda em uma rádio do Rio. Foi a segunda prisão em processo sobre compra de votos nas eleições de 2016 em Campos dos Goytacazes, que era administrada por sua mulher, Rosinha.

    Ele foi condenado a 9 anos e 11 meses em regime fechado pelo juiz Ralph Manhães, da 100ª Zona Eleitoral. Secretária de Desenvolvimento, Emprego e Inovação da Prefeitura do Rio e deputada federal licenciada pelo PRB, Clarissa sustenta que seu pai não cometeu os crimes.

    Folha - A sra. diz que a prisão de Garotinho é ilegal e um ato de vingança. Por quê?

    Clarissa Garotinho - Em 2015, o Garotinho fez uma denúncia contra o promotor de Campos [Leandro Manhães, que fez a denúncia à Justiça] no Ministério Público estadual, uma denúncia de enriquecimento ilícito. E o Ministério Público chegou a abrir um procedimento de investigação criminal contra esse promotor. Ou seja, ele sequer poderia estar atuando nesse processo contra o Garotinho.

    O promotor aproveitou e direcionou uma ação para a 100ª vara. Ele simplesmente tirou o processo de uma vara e jogou para outra vara. Somado a isso, eles conseguiram amparo na Justiça estadual pela briga do Garotinho com o [desembargador] Luiz Zveiter, que tem um comando muito grande sobre a Justiça estadual.

    Lá atrás, quando o juiz deu a primeira sentença, já foi absurda, porque ele condenou em primeira instância e mandou prender. E o que aconteceu foi aquela prisão tumultuada [o ex-governador chegou a ser internado após passar mal na superintendência da Polícia Federal]. Mas quando o processo chegou ao TSE, a prisão foi revogada. Não tem nenhum fato novo para justificar a cautelar. O que o juiz alega é coação de testemunha, a mesma coisa que ele alegou da primeira vez e o TSE derrubou.

    A defesa já recorreu?

    O prazo para recurso ainda está correndo. Mas a sentença tem que ser julgada em segunda instância. Não se pode proibir de trabalhar, esse é o trabalho dele, ele é radialista. Não se pode proibir de ter liberdade de expressão.

    Então, existem absurdas e graves ilegalidades cometidas até aqui.

    Vocês sustentam que ele não cometeu os crimes?

    O juiz pede a condenação do Garotinho por uma suposição de crime eleitoral. Mas o Garotinho não era candidato a nada, a Rosinha não era candidata a nada. E o candidato que eles apoiaram perdeu a eleição no primeiro turno.

    Mas isso não comprova que não houve tentativa de comprar votos.

    Alguém que comete um crime tem que ter algum tipo de benefício. O juiz diz que foram distribuídos vários cheques cidadão [programa social da prefeitura que dá R$ 200 por mês] pela cidade com o objetivo de comprar voto. Como esse voto foi comprado se ele sequer foi para o segundo turno das eleições?

    O juiz diz que houve aumento na distribuição de cheque cidadão no período eleitoral.

    Não houve aumento. O que houve foi o seguinte: a gente está vivendo uma crise econômica nacional, o Rio foi afetado e as cidades que vivem do petróleo sofreram. Houve um contingenciamento geral na prefeitura. Quando a prefeitura teve alívio de caixa, ele retomou. E, ainda que fosse um aumento, ele não criou um programa novo em época de eleição, que é o que a lei veda.

    Durante o processo, o ex-governador foi também acusado de oferecer propina a um juiz.

    Esse é outro processo, que diz que meu irmão teria procurado o juiz para oferecer alguma coisa. Não tem o menor cabimento. Meu irmão nunca fez isso, nunca esteve com o juiz e nunca mandou ninguém falar com o juiz.

    Garotinho será candidato em 2018?

    Não tomou a decisão final, mas já manifestou seu interesse em ser candidato.

    OUTRO LADO

    O juiz Ralph Manhães, que decretou a prisão domiciliar do ex-governador Anthony Garotinho, diz que a organização criminosa acusada de compra de votos em Campos dos Goytacazes continua ameaçando testemunhas e tentando influenciar no julgamento.

    Ele classifica as acusações da família Garotinho como "um delírio para criar fatos" e desviar a atenção dos crimes cometidos. "A gente está julgando os fatos. Eles tentam misturar tudo, citar outras pessoas. Mas não se defendem dos fatos", afirmou.

    Manhães justifica a prisão domiciliar alegando que o grupo incinerou documentos, praticou ameaças a mão armada e auxiliou outros membros a fugir da Justiça. Cita ainda trocas de mensagens de celular insuflando seus seguidores com ofensas a promotores e juízes.

    "O réu vem a todo o tempo praticando atos de forma temerária nesta ação penal, tentando induzir as instâncias superiores e o público em geral com informações sabidamente falsas", escreveu.

    O desembargador Luiz Zveiter afirmou que propôs uma queixa-crime por injúria, calúnia e difamação contra Garotinho, que o acusa de receber propina de contrato superfaturado.

    O procurador Leandro Manhães diz que a ação envolveu oito procuradores, "sendo entendimento de todos que a competência era da 100ª Zona Eleitoral".

    "No mais, este promotor não age por vingança de nada, somente exercendo suas funções, de acordo com a lei", afirmou, em nota.

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