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Plenário da Câmara dos Deputados em sessão da reforma política |
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Poder
Thursday, 14-Nov-2024 19:07:16 -03ANÁLISE
Reforma política se resume a remendo eleitoral
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA22/09/2017 02h00
Desde a Constituição de 1988, o Congresso tem sido campo fértil de tentativas de reforma política. Neste ano, lançou-se uma cruzada por mais uma.
Bem no início dos debates, o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), veterano de outras empreitadas que falharam, afirmou em um tom não muito otimista que se resignava a embarcar em mais uma. "Vai que cola."
Após incontáveis reuniões, conchavos, audiências públicas, debates, análises, bate-bocas, adiamentos e tentativas frustradas de votação, a resposta é: não colou.
A duas semanas do prazo final para que tudo seja aprovado pelo Congresso e promulgado ou sancionado –caso contrário não vai valer nas eleições de 2018–, o balanço é decepcionante.
Se muito, deputados e senadores conseguirão emplacar apenas três mudanças de algum relevo:
1) Uma regra para tentar barrar a proliferação de legendas nanicas, mas que foi bastante amenizada em relação à proposta original e que terá o efeito desejado por alguns, o de reduzir as atuais 35 legendas do país para menos da metade, lá pela década de 2030 em diante.
2) A proibição da coligação entre partidos (excrescência que une legendas sem nenhuma identidade ideológica ou pragmática, apenas para fins eleitorais) nas eleições de deputados e vereadores. Mas só para valer a partir da disputa de 2020. Ou seja, o atual Congresso considera a medida válida, mas só nos olhos dos outros –no caso, dos vereadores, que terão que implantar o modelo na disputa municipal de 2020.
3) A criação de mais um fundo público de campanha para abastecer os candidatos. Real motivação da atual reforma, já que políticos ficaram sem saber como conseguir dinheiro após o Supremo Tribunal Federal proibir em 2015 que as empresas, as grandes financiadoras do mundo político, continuassem a abastecer as campanhas. Coisa de R$ 3,5 bilhões, sob a autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado.
Aliado a isso, trama-se passar uma série de penduricalhos com o objetivo de beneficiar candidatos e partidos, como regras mais do que generosas para pagamento de multas eleitorais, e medidas polêmicas, como a proibição de divulgação de pesquisas eleitorais na semana anterior à eleição, que já foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 2006.
Temas de maior relevo na opinião de especialistas passaram ao largo dos debates ou foram derrotados. Como o fim da obrigatoriedade do voto e a instituição do modelo eleitoral distrital misto (em que metade das cadeiras do Legislativo é ocupada pelos mais votados nos distritos eleitorais em que os Estados e cidades seriam divididos, e a outra metade, por meio do atual modelo ou por lista de candidatos pré-ordenada pelos partidos).
Em todas as tentativas de reforma política das últimas décadas prevaleceu sempre o improviso, a falta de entendimento mínimo, e tentativas de amenizar as regras de fiscalização e de controle de partidos e candidatos.
Em várias das ocasiões coube ao Judiciário, para o bem ou para o mal, realizar mudanças de mais vulto, como a já citada proibição do financiamento empresarial das campanhas e as regras de fidelidade partidária, em 2008 –que foram abrandadas pela própria Justiça posteriormente.
Uma das explicações dadas para os sucessivos fracassos legislativos nas tentativas de reforma política é a tendência de os congressistas resistirem a mudar um modelo que lhes garantiu o cargo.
Muitos, como o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), defendem uma Constituinte exclusiva para debater a mudança do sistema político. Ou seja, formada por gente que em tese não será afetada pelas mudanças.
Uma coisa é certa: apesar de todo o improviso, amadorismo e falta de objetivos nobres na atual discussão sob o abrigo do Congresso, outras tentativas virão. Vai que cola.
A EMENDA E O SONETO
Depois de meses de debate, reforma política deve se resumir, se muito, a alterações eleitorais pontuais. Para valer na disputa de 2018, tudo tem que ser aprovado e estar sancionado ou promulgado até o final da primeira semana de outubroSistema para eleição de deputados e vereadores
COMO É HOJE
Proporcional: cadeiras são distribuídas com base em um cálculo que considera todos os votos dados aos candidatos do partido ou coligação (eleitos e não-eleitos), além do voto na legendaQUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
Distritão: São eleitos os mais votados. Os votos dados aos não eleitos e aqueles dados em excesso aos eleitos são desprezados. Não existe voto em legenda. A partir de 2022, o distrital misto: metade das cadeiras é preenchida pelo mais votado em cada distrito (o Estado -ou cidade, no caso da eleição para vereadores- é dividido em distritos). A outra metade, pelo sistema proporcional: votação em lista fechada de candidatos elaborada pelos partidosCOMO FICOU
Proposta derrotada. Nada mudaSuplente de senador
COMO É HOJE
Candidatos ao Senado escolhem seus suplentes, que na ausência do titular assumem o mandato mesmo sem ter um voto sequerQUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
Suplente seria o deputado mais votado do partido ou da coligaçãoCOMO FICOU
Proposta derrotada. Nada mudaVices
COMO É HOJE
Presidente, governadores e prefeitos são eleitos em chapa com vices, que ocupam a vaga na ausência do titularQUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
Acaba a figura do vice. Primeiro na linha sucessória seria o chefe do LegislativoCOMO FICOU
Proposta derrotada. Nada mudaColigações para eleição de presidente, governadores e prefeitos
COMO É HOJE
Partidos podem se coligar livremente. Não raro, siglas nacionalmente antagônicas, como PT e DEM, se unem nas disputas regionais. O objetivo principal dessas alianças é conseguir ampliar o tempo de propaganda eleitoral do candidato, que é definido de acordo com o tamanho da coligaçãoQUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
Não houve propostaCOMO FICOU
Nada mudaColigações para eleição de deputados e vereadores
COMO É HOJE
Partidos podem se coligar livremente. Não raro, siglas nacionalmente antagônicas, como PT e DEM, se unem nas disputas regionais. O objetivo principal dessas alianças é conseguir o maior número de votos para a chapa. Isso porque as cadeiras do Legislativo são distribuídas de acordo com o número de votos obtidos por candidatos eleitos e não eleitos do partido ou da coligaçãoQUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
Acaba a coligação ampla e irrestrita. Mas mantêm-se a possibilidade de união de legendas com "afinidade ideológica e programática" em federações, que deverão cumprir o mandato de forma unitária nos Legislativos. Na eleição às Assembleias e Câmara municipais essa federação poderá ser fatiada em subfederaçõesCOMO FICOU
Pendente de votação final da Câmara. Após isso, tem que ser ratificada pelo SenadoCláusula de desempenho (ou de barreira)
COMO É HOJE
Partidos com baixo desempenho nas urnas já têm algumas restrições ao seu funcionamento, como uma menor fatia das verbas públicas e do tempo de propaganda partidária e eleitoralQUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
Partidos que não obtivessem em 2018 pelo menos 2% dos votos nacionais para deputado federam perderiam acesso às verbas públicas e à propaganda partidária na TV, mecanismos essenciais à sua existênciaCOMO FICOU
Proposta abrandada (*) aguarda votação final na Câmara. Após isso, tem que ser ratificada pelo SenadoFinanciamento eleitoral
COMO É HOJE
Empresas estão proibidas de doar a candidatos. Recursos vêm de pessoas físicas, do bolso dos próprios candidatos e dos cofres públicos (fundo partidário, que deve chegar próximo de R$ 1 bilhão no ano que vem, além de renúncia fiscal de TVs e rádios para veiculação da propaganda eleitoral)QUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
Criação de um mais um fundo público de R$ 3,6 bilhões, ampliação do limite para doação de pessoas físicasCOMO FICOU
Câmara e Senado têm propostas similares que podem ser votadas nos próximos diasPesquisas eleitorais
COMO É HOJE
Podem ser divulgadas até no dia da eleição. Institutos devem divulgar uma série de informações sobre o contratante e a pesquisa pelo menos cinco dias antes da publicação dos dadosQUAL ERA A PROPOSTA ORIGINAL
É vedada a divulgação de pesquisas eleitorais a partir do domingo anterior à data das eleições. Institutos deverão divulgar informações sobre o contratante e a pesquisas pelo menos 10 dias antes da publicação, incluindo o nome do estatístico responsável, entre outras exigênciasCOMO FICOU
Aguarda votação na Câmara. Após isso, vai ao Senado*Partidos que não obtiverem 1,5% dos votos válidos nacionais a deputado federal perdem acesso às verbas públicas e à propaganda partidária na TV
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