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    Lava Jato

    Palocci deixa o PT e diz que Lula sucumbiu 'ao pior da política'

    CATIA SEABRA
    DE SÃO PAULO

    26/09/2017 18h47

    Rodolfo Buhrer/Reuters
    Ex-ministro Antonio Palocci, que pediu desfiliação do PT
    Ex-ministro Antonio Palocci, que pediu desfiliação do PT

    O ex-ministro Antonio Palocci enviou nesta terça-feira (26) uma carta à presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), pedindo sua desfiliação do partido. No documento, Palocci reafirma as declarações feitas ao juiz Sergio Moro, segundo as quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizera um "pacto de sangue" com a empreiteira Odebrecht.

    Na carta, Palocci diz ter visto com estranheza o fato de o PT ter aberto um procedimento interno após sua decisão de buscar um acordo de delação, mas não ter feito o mesmo para apurar as razões pelas quais estava detido pela Operação Lava Jato.

    No texto, Palocci diz que tentou trabalhar pelo partido e por Lula, sabendo que seria difícil não cometer "desvios éticos".

    "Sei dos erros e ilegalidades que cometi. E assumo minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo", escreveu o ex-ministro.

    Na carta, Palocci diz ainda ter discutido com Lula e o ex-presidente do PT Rui Falcão a possibilidade de celebração de um acordo de leniência em favor do PT. Ele afirma ainda que um dia a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente da Petrobras vão admitir a "perplexidade que tomou conta de nós após a fatídica reunião no Palácio do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas no mesmo tom, sem cerimônias".

    Ex-ministro diz ter proposto a Lula e a Falcão que colaborassem com a Justiça e se dedicassem à reforma política.

    "Tive oportunidade de expressar essa opinião informal a Lula e a Rui Falcão, então presidente do PT, que naquela oportunidade, transmitia uma proposta apresentada por João Vaccari para que o PT buscasse um processo de leniência na Lava Jato".

    Palocci encerra a carta afirmando que aceitaria qualquer penalidade do partido. "Mas ressalto que não posso fazê-lo neste momento e neste formato proposto pelo partido, onde quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do tapete".

    Ao reafirmar as acusações, Palocci escreveu que são "fatos absolutamente verdadeiros".

    "São situações que presenciei, acompanhei ou coordenei, normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula. Tenho certeza que, cedo ou tarde, o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer no "mensalão", quando, numa importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições do Brasil eram todas realizadas sob a égide do caixa dois, e que era assim com todos os partidos".

    A CARTA

    No texto de pouco mais de três páginas, Palocci não poupa a ex-presidente Dilma Rousseff. Ele ataca a gestão da petista ao afirmar que Lula "dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica do 'tudo pode', do poder sem limite, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé, no cenário entorpecido dos petrodólares que pagaram a tudo e a todos".

    "Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um mau governo, que redobrou as apostas erradas, destruindo uma a uma cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados", afirmou.

    O ex-ministro critica ainda o fato de a defesa de Lula atribuir à ex-primeira-dama Marisa Letícia "até o prédio do Instituto Lula".

    "Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do 'homem mais honesto do país', enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?", pergunta.

    Ao reconhecer suas falhas, Palocci diz lamentar que "nos trabalhos honrados e nos piores atos de ilicitudes" nunca esteve sozinho.

    "Por isso, concluo: continuo a apoiar a proposta de leniência do PT e, após respeitar os prazos legais de sigilo quanto a minha colaboração com a Justiça, terei a disposição de esclarecer e depor perante ao partido sobre todos esses temas", afirma.

    Palocci questiona os critérios de expulsão e diz que os processos internos não deveriam recair sobre ele.

    "Enquanto os fatos me eram imputados e me mantive calado não se cogitava minha expulsão. Ao contrário, era enaltecido por um palavrório vazio. Agora, que resolvo mudar minha linha de defesa e falar a verdade, me vejo diante de um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT".

    OUTRO LADO

    A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse em nota que o ex-ministro Antonio Palocci demonstrou "fraqueza de caráter".

    "A forma desrespeitosa e caluniosa como se refere ao ex-presidente Lula demonstra sua fraqueza de caráter e o desespero de agradar seus inquisidores", afirmou.

    Leia a íntegra da nota.

    NOTA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES

    "A carta divulgada hoje (26) por Antonio Palocci e seus advogados não se destina verdadeiramente ao PT, mas aos procuradores da Lava Jato. É a mensagem de um condenado que desistiu de se defender e quer fechar negócio com o MPF, oferecendo mentiras em troca de benefícios penais e financeiros.

    A carta repete as falsas acusações que ele fez diante do juiz Sergio Moro e que contrariam seus depoimentos anteriores. Em qual Palocci se deve acreditar: no que diz ter mentido antes ou no que mudou de versão agora para se salvar?

    O PT trata de forma igual todos os filiados que enfrentam investigações e ações judiciais. Respeitamos o princípio da presunção da inocência. Ninguém será julgado por comissão de ética partidária antes do trânsito final dos processos na Justiça.

    Palocci decidiu "queimar seus navios", romper com sua própria história e renegar as causas que defendeu no passado.

    A forma desrespeitosa e caluniosa como se refere ao ex-presidente Lula demonstra sua fraqueza de caráter e o desespero de agradar seus inquisidores.

    Política e moralmente, Palocci já está fora do PT.

    Carta de Palocci

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