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    Lava Jato

    Foi o pior dia da minha vida, diz ex-executivo em palestra sobre a prisão

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    27/09/2017 02h00

    Estelita Hass Carazzai/Folhapress
    O empresário Otávio Azevedo, ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez, concede palestra sobre a vida no cárcere, durante evento em Curitiba nesta terça (26). Ele passou sete meses preso pela Operação Lava Jato. Crédito: Estelita Hass Carazzai DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
    O empresário Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez

    O empresário Otávio Marques de Azevedo sobe ao palco; a tornozeleira, escondida embaixo da calça social. Desde que foi preso pela Lava Jato, esta é a primeira vez que o ex-presidente da Andrade Gutierrez fala em público –agora, sobre a vida no cárcere.

    "Foi o pior dia da minha vida", lembra, sobre a prisão, em 2015. Aos 66 anos, o executivo, que foi presidente da Telebras, fala sobre o futebol na cadeia, as orações, a comida dividida e o "frio para danado" na prisão em Curitiba, onde passou sete meses.

    Ele foi convidado para falar sobre "efeitos da prisão", durante o Encontro Estadual dos Conselhos da Comunidade. Os conselhos atuam dentro dos presídios para atender demandas dos presos.

    Azevedo emociona-se algumas vezes. "Você entra de um jeito e sai de outro; não melhor ou pior, mas diferente". É a última pergunta da plateia que mais o abala: "Eu não vi, na sua fala, um arrependimento pelo que o senhor fez pelo Brasil. O senhor tem algum?".

    Parte dos ouvintes aplaude a pergunta. Ele respira fundo e responde: "Frases de efeito não compram arrependimento. Eu não tenho nenhum tipo de atitude bonita. Não vou chegar aqui, me ajoelhar e dizer: 'Eu me arrependi'. São meus atos, é o que eu faço no dia a dia que pode dizer se tenho arrependimento ou não".

    Na palestra, o empresário afirma que "pagou, paga e está pagando" pelo que fez, e que exercia uma posição de liderança na Andrade Gutierrez "que tinha determinadas obrigações". Ao final, provoca: "Essas palmas que você [ouvinte] recebeu, muitas vezes, vêm para mim em forma de vaia. Porque aparentemente o egresso tinha mesmo é que desaparecer."

    Mais cedo, conversando com jornalistas, foi enfático: "Não tenho nenhum arrependimento". Mas e a delação premiada, em que admitiu e apontou crimes de corrupção? "Eu discorri sobre situações que eu vivi."

    Organizadora do evento, a advogada Isabel Kugler Mendes diz que o executivo é parte de uma nova população carcerária, que tem "outro perfil". Em público, defende Azevedo: "Algumas pessoas estão pagando não pelo que fizeram, mas por aquilo que eram responsáveis". O empresário, com os olhos marejados, a abraça.

    Depois de fazer um acordo de delação, Azevedo saiu da prisão, em fevereiro do ano passado, e estruturou uma assessoria empresarial.

    Ele foi condenado por corrupção e lavagem em obras da usina nuclear de Angra 3.

    O executivo ficará até o final do ano em regime semiaberto. Depois, passará dois anos em regime aberto, se apresentando à Justiça. Só então poderá ser considerado livre.

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