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    Procurador afastado acusa advogado de traição ao defender Joesley

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    12/10/2017 02h00

    Marcus Leoni/Folhapress
    O criminalista Pierpaolo Bottini, que diz que abandonou caso por conflito com outro cliente
    O criminalista Pierpaolo Bottini, que diz que abandonou caso por conflito com outro cliente

    O procurador afastado Angelo Goulart Vilella apresentou uma notícia-crime contra o advogado Pierpaolo Bottini por renunciar à sua defesa para atender o empresário Joesley Batista, da JBS, que o havia delatado.

    Vilella acusa Bottini de ter usado informações confidenciadas a ele na condição de seu advogado logo após ser preso, em maio, em favor de Joesley, cuja defesa o criminalista assumiu dias depois.

    A peça foi recebida pelo Ministério Público do Distrito Federal em 27 de setembro e, segundo a assessoria do órgão, está em análise pela promotoria, que pode levá-la adiante e instaurar inquérito, ou arquivá-la se não considerar a acusação procedente.

    Bottini disse "desconhecer a acusação e vê com surpresa as ilações".

    Segundo a advogada Letícia Ferreira, que representa Vilella no caso, o procurador estuda paralelamente entrar com uma representação contra Bottini na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) com a mesma queixa.

    Ele aponta infração ética e disciplinar por suposta violação de sigilo profissional.

    Acusado de receber mesada de R$ 50 mil da J&F para repassar informação privilegiada a Joesley Batista, Vilella ficou 75 dias no Batalhão da Polícia Militar na Papuda (DF).

    Foi preso no dia 18 de maio e, na mesma data, outorgou procuração a Bottini. No dia 25, o criminalista renunciou à sua defesa e, dias depois, assumiu a de Joesley.

    Na peça, o procurador relata que, no intervalo daquela semana, Bottini e dois advogados de seu escritório também contratados, João Antônio Sucena Fonseca e Márcio Martagão Gesteira Palma, peticionaram nos autos do inquérito em seu favor e o visitaram na Papuda "diversas" vezes.

    PATROCÍNIO INFIEL

    Na notícia-crime, Vilella acusa os advogados do crime de patrocínio infiel "ou, quiçá", tergiversação.

    A primeira tipificação enquadra o advogado que "trai" o interesse do cliente. Tergiversação ocorre quando o advogado "defende, na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias". Em ambos os casos, o Código Penal prevê pena de seis meses a três anos de detenção e multa.

    O procurador sustenta, na peça, que a Bottini e aos dois advogados "foi fielmente confiado um mandato para que defendessem –com lealdade e honestidade– os interesses do noticiante".

    As conversas na Papuda, acusa o procurador, "serviram em verdade para os noticiados [advogados] obterem a versão dos fatos contados pelo noticiante [Vilella] e serem os mesmos utilizados, estrategicamente, em favor dos novos clientes dos noticiados, Joesley e Wesley Batista".

    Vilella argumenta que traçou com Bottini a estratégia de desconstruir a delação dos executivos da J&F, "inclusive com o compartilhamento de informações sigilosas e essenciais à sua defesa aos seus patronos".

    Os então defensores, porém, "traindo-lhe a confiança, passaram a advogar em defesa dos interesses de seus algozes, atuando pública e ativamente no sentido (contrário) de reforçar e manter referidas manifestações que agora são objeto de desconsideração em face de suas incongruências e ausência de veracidade".

    OUTRO LADO

    O advogado Pierpaolo Bottini negou, em nota, que tenha usado informações sigilosas confidenciadas pelo procurador Angelo Goulart Vilella em favor de Joesley Batista, da JBS.

    Ele disse "desconhecer a acusação" e afirma que "vê com surpresa as ilações".

    Segundo Bottini, houve apenas uma reunião dele com o procurador, durante a qual o criminalista "identificou, no decorrer dessa conversa, um conflito com outro cliente, um parlamentar, de forma que decidiu não advogar no caso e renunciou no mesmo dia. O teor da conversa foi mantido em sigilo".

    Bottini disse que, "posteriormente, advogou para executivos da J&F, em questões sem qualquer relação com o procurador, nos termos do código de ética da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)".

    A delação do empresário levou à prisão por 75 dias do procurador, acusado de receber propina em troca de informação privilegiada do Ministério Público Federal.

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