• Poder

    Friday, 03-May-2024 02:12:32 -03

    Lava Jato

    Contrato falso com Joesley bancou seu silêncio, diz delator; veja vídeo

    DE BRASÍLIA

    14/10/2017 12h40

    Em depoimento em 22 de agosto, o operador financeiro Lúcio Funaro deu sua versão para os pagamentos da JBS que, segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), serviram para comprar seu silêncio na cadeia.

    Ele revelou que, quando as investigações da Lava Jato começaram a se aproximar dele, no final de 2015, assinou um contrato fictício de R$ 100 milhões com Joesley Batista, dono do frigorífico, para esquentar notas frias que ele já havia emitido para a JBS. O depoimento foi registrado em vídeo e obtido pela Folha.

    Como o contrato tinha de parecer mais antigo, caso fosse submetido a uma perícia da Polícia Federal, ele e Joesley assinaram e rasgaram os originais, ficando só com cópias –porque "com o xerox a PF não tinha como" atestar a data de assinatura. Foi com base nesse contrato, que também embutia um serviço prestado à JBS e ao grupo Bertin, segundo Funaro, que Joesley começou a lhe pagar quantias mensais depois que ele foi preso, em julho do ano passado.

    "A função do contrato o que que era? Dar origem ao que já tinha sido emitido de notas do passado e me dar o direito de ter um documento, um título executivo do valor que ele [Joesley] me devia por serviços prestados, entre entes privados, que era o caso do acordo dele com a Bertin", disse Funaro.

    "Ficou claro para mim o seguinte: 'Eu [Joesley] estou pondo aqui no papel que eu te devo, dos negócios que você fez para mim, para te assegurar que se acontecer alguma coisa com você, você ter os recursos aí disponíveis, porque é só você executar o contrato'", contou o delator. "A gente rasgou os contratos originais e só ficamos com cópia que era para, em caso de perícia no documento, ninguém conseguir saber a data em que aquele documento foi redigido."

    O que diz Funaro
    Trechos do depoimento à PGR

    DENÚNCIA CONTRA TEMER

    Os pagamentos da JBS a Funaro dão base à segunda denúncia da PGR contra o presidente Michel Temer, sob acusação de obstrução da Justiça. A denúncia afirma que Temer avalizou os pagamentos feitos por Joesley para que Funaro ficasse quieto na prisão.

    "Um dia, o Francisco de Assis [que era diretor jurídico da JBS] estava no meu escritório. Como ele sabia, como o Joesley também sabia e o Wesley [Batista] também sabia que eles eram meus devedores, eu apresentei o Francisco de Assis para o meu irmão [Dante Funaro] e falei para o meu irmão: 'Se acontecer alguma coisa comigo você procura o Francisco de Assis na JBS ou o Joesley e vê o que você vai precisar de dinheiro e vai pedindo para eles, que eles vão te dar referente a um contrato que eu tenho aberto com eles um valor a receber'", relatou.

    "Aí, o Dante procurou o Francisco, e o Francisco falou que queria pagar em dinheiro vivo, e aí o Dante se acertou com ele, combinaram a logística, e ele entregou uma primeira parcela de R$ 600 mil no mês de julho [de 2016]. No mês de agosto ele entregou outra parcela de R$ 600 mil."

    Funaro disse que teve um desentendimento com seu irmão e, então, pediu que sua irmã, Roberta, passasse a receber o dinheiro em nome dele. "A Roberta então vai no final do mês de abril [deste ano] e pega o dinheiro na JBS, R$ 400 mil, referente a maio. Ela recebeu do Ricardo Saud [executivo da JBS] naquela ação controlada da Polícia Federal [que flagrou o pagamento e levou a irmã de Funaro à prisão]."

    "[O pagamento da JBS] Me deixava tranquilo porque eu tinha uma filha pequena, que tinha seis meses de idade, toda a parte da minha defesa também estava sendo paga", disse o delator à PGR.

    A Procuradoria quis saber se, sem os pagamentos, seu ânimo para delatar Joesley e políticos mudaria. "Mudaria, porque eu não achava justo o cara [Joesley] ter combinado comigo. Sempre o que eu falei para ele eu cumpri [...] Está me devendo e pôs a minha irmã no problema. Mas isso aí certamente acirraria meus ânimos [para delatar]", respondeu Funaro.

    Reprodução
    Contrato falso com Joesley bancou seu silêncio, diz delator
    O operador financeiro Lúcio Funaro durante depoimento em agosto

    (REYNALDO TUROLLO JR., TALITA FERNANDES, DANIEL CARVALHO, LETÍCIA CASADO, CAMILA MATTOSO E LAÍS ALEGRETTI)

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024