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    Lava Jato

    Procurador diz que Janot agiu 'com o fígado' no caso JBS

    CAMILA MATTOSO
    DE BRASÍLIA

    17/10/2017 14h05 - Atualizado às 17h41

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 16-09-2017, 12h00: O procurador Angelo Goulart Villela, que foi envolvido na operação decorrente da delação da JBS e chegou a ser preso, durante entrevista exclusiva à Folha. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***ESPECIAL*** ***EXCLUSIVO***
    O procurador Ângelo Goulart Villela em entrevista em Brasília

    O procurador da República Ângelo Goulart Villela, 37, disse na manhã desta terça-feira (17) que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot "agiu com o fígado" no caso da JBS.

    Em depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), Villela chamou Janot de 'arqueiro inconsequente'.

    Villela repetiu nesta terça declarações que deu à Folha em entrevista em setembro. Para ele, todo o processo de colaboração premiada foi uma trama do ex-procurador-geral com o objetivo de derrubar o presidente Michel Temer e impedir a nomeação de Raquel Dodge para substituí-lo no comando da PGR.

    Nesta terça, complementou dizendo que o ex-procurador-geral "agiu com o fígado em relação a mim" por ter se sentido traído ao achar que havia "bandeado" para o lado de Dodge.

    Alvo da Operação Patmos, de 18 de maio, Villela ficou preso por 76 dias e foi denunciado por corrupção passiva, violação de sigilo funcional e obstrução de Justiça.

    O procurador foi gravado pelo advogado e delator da JBS, Francisco Assis e Silva, em um jantar, no início de maio, na casa do advogado Willer Tomaz, também denunciado pelos mesmos crimes de Villela.

    Em delação, o empresário Joesley Batista afirma que o procurador teria recebido uma "ajuda de custo" de R$ 50 mil por mês para vazar informações, com o advogado como intermediário. Depois, porém, afirmou não saber se o dinheiro chegava ao procurador.

    O procurador admite ter mandado um áudio de uma reunião fechada do Ministério Público, mas nega ter recebido propina e diz que tudo que fez foi para ter sucesso na negociação de uma delação com a JBS.

    Villela sugeriu ainda que o ex-procurador-geral fez uma espécie de cena quando pediu a prisão do ex-procurador Marcello Miller, no último dia de sua gestão.

    Miller virou pivô de uma crise na delação da JBS, que culminou na suspensão de benefícios para os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud.

    O ex-procurador é suspeito de ter atuado na defesa da empresa quando ainda tinha cargo no MPF, o que, para Villela, era de conhecimento de Janot.

    "A vontade de Janot de prender Miller era tão legítima quanto nota de R$ 3", disse em depoimento à CPMI. A prisão de Miller foi negada pelo ministro do Supremo Edson Fachin. Joesley Batista e Ricardo Saud foram presos.

    Para justificar suas ações, Villela contou que a PGR fez negociações para a delação premiada da Odebrecht na calada da noite.

    "Francisco não queria se expor no Ministério Público. Quando se tem um candidato à delação que tem receio que a ida possa causar especulações de delação, é comum o Ministério Público propor outras coisas. Vamos citar o caso da Odebrecht. As negociações da Odebrecht aconteceram na calada da noite, fora do expediente", relatou.

    "Não é comum, mas quando o candidato coloca um empecilho com receio de ser identificado, não é incomum você topar conversar em outro lugar", acrescentou.

    Na entrevista à Folha, ele disse que já havia visto práticas "muito piores" do que as que ele teve.

    "Aliás, os fatos que estamos vendo atualmente no noticiário já até extrapolam o tipo de padrão que era do meu conhecimento. Não quero generalizar o MPF, mas estou falando da cúpula da PGR", relatou à época.

    O depoimento de Villela começou por volta de 10h30 –ele chorou durante a sessão ao falar da sua prisão.

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