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    Lava Jato

    Rebelião ameaça dar menos votos a Temer na segunda denúncia

    DANIEL CARVALHO
    RANIER BRAGON
    DE BRASÍLIA

    20/10/2017 02h00

    Depois de vencer na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) com dois votos a menos que na primeira denúncia, o presidente Michel Temer tentará evitar um resultado politicamente negativo na sessão da próxima quarta-feira (25), quando a Câmara votará a segunda acusação da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra ele.

    Aliados do presidente correm contra o tempo para conter a perda de 20 votos em relação à análise da primeira denúncia, em agosto, quando 263 deputados ficaram ao lado do peemedebista.

    A ameaça de rebelião resultaria em um placar próximo de 240 votos, menos da metade do número total de deputados (257 de 513).

    Um resultado assim barraria com folga a tramitação do caso (Temer precisa apenas de 171 deputados), mas representaria um sinal de enfraquecimento político para os pouco mais de 14 meses que lhe restam de mandato.

    Na CCJ, o governo conseguiu aprovar o parecer contrário ao prosseguimento da denúncia com um placar mais tímido do que aquele da primeira acusação. Foram 39 votos a 26 na quarta-feira (18) ante 41 a 24, em julho.

    O PSD deu 22 votos contrários à primeira denúncia. Agora, o líder da bancada do PSD, Marcos Montes (MG), afirma haver o risco de Temer perder de três a sete dos votos favoráveis a ele.

    A legenda do ministro Gilberto Kassab (Comunicações) tem, ao todo, 39 deputados. "Há tendência, sim, de perder alguns votos, há uma insatisfação que cresce e uma pressão muito grande das bases, as circunstâncias mudam de acordo com o passar do tempo", afirma Montes. Uma das viradas de posição é do deputado Éder Mauro (PA).

    "Sou policial há 30 anos, delegado de polícia. A primeira denúncia foi feita com base em uma gravação não oficial, sem autorização da Justiça. Ou seja, pra mim, clandestina", afirma Mauro.

    Ele se refere ao encontro do empresário Joesley Batista (JBS) com Temer. "Nesta, há inquérito policial, perícia, grampo autorizado pela Justiça e delação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, por isso decidi votar a favor."

    Um dos elementos que embasam a segunda denúncia é a delação do operador financeiro Lúcio Funaro, que implica Temer e outros políticos ligados ao PMDB.

    Desta vez, Temer é denunciado sob acusação de obstrução de Justiça e participação em organização criminosa, acusação que recai também sobre os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil).

    QUEIXAS

    O PR, que na primeira denúncia deu 28 votos a Temer com três abstenções, ajudando o Planalto, pode deixar de entregar de dois a quatro votos. O partido tem 37 deputados. "Muita gente recebeu queixas dos eleitores", diz o líder José Rocha (PR-BA).

    Mas a lista de reclamações vai além da pressão eleitoral —inclui cargos prometidos e não liberados, emendas parlamentares represadas e questões menores, como pendências envolvendo a licença de rádios nos municípios.

    No PSDB, o governo conseguiu a fidelidade dos deputados ligados ao senador Aécio Neves (MG), após se tornar fiador da manutenção do mandato do mineiro. Mas ainda não obteve sucesso para atrair a ala ligada ao governador Geraldo Alckmin (SP), apesar dos esforços recentes.

    O governo quer concluir o mapeamento de votos e insatisfações neste final de semana. O entendimento de auxiliares do presidente é que os 263 votos obtidos na primeira denúncia têm de ser, no mínimo, mantidos.

    Para ajudar, o governo vai novamente exonerar os ministros que têm mandato na Câmara. Temer também segue na maratona de encontros individuais com deputados em seu gabinete. Só nesta quarta (18) foram 14.

    A oposição quer aproveitar o clima de tensão entre Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para aumentar o desgaste do presidente da República. Deputados contrários ao governo pretendem protelar o início da votação para à noite, quando as TVs têm mais audiência.

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