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    Lava Jato

    Praça dos 3 Poderes se tornou ágora da promiscuidade, diz Cláudio Lembo

    JOELMIR TAVARES
    DE SÃO PAULO

    20/10/2017 02h00

    Avener Prado - 23.mar.2016/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 23-03-2016: Claudio Lembo, governador do Estado de São Paulo na época dos ataques de 2006. PCC 10 ANOS. (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO) Código do Fotógrafo: 20516 ***EXCLUSIVO FOLHA***
    O ex-governador Cláudio Lembo em seu escritório de advocacia, na região da avenida Paulista

    Distante da política, o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo, 83, se vê como um observador neutro da vida pública nacional. Um dos fundadores do PFL (atual DEM) e filiado desde o início ao PSD, o advogado e professor universitário diz estar "isolado do mundo".

    Mas os olhos sob as espessas sobrancelhas dele seguem acompanhando fatos como o impeachment de Dilma Rousseff (do qual discordou) e a nova aventura eleitoral de Geraldo Alckmin (de quem foi vice). Em 2006, Lembo assumiu o governo após o tucano renunciar para tentar a Presidência. O ex-político falou à Folha em seu escritório, na região da avenida Paulista.

    *

    Folha - Como o sr. vê o Brasil?

    Cláudio Lembo - Perdeu-se a compostura. Nós, eleitores, votamos mal e os políticos se portam mal. Ninguém mais tem honra, respeito a si próprio, à imagem na sociedade.

    Como se chegou a esse ponto?

    É um processo histórico. Nossos políticos sempre foram corruptos, as eleições são muito caras. Quem deformou a eleição foram os marqueteiros. Com as montagens cinematográficas de TV, veio a corrupção generalizada. E os empresários são corruptos tradicionalmente. Desde Mauá.

    E a corrupção permanece depois da campanha?

    Sim. Depois vem o vício. Antigamente o político abria mão do patrimônio para construir a carreira. Hoje ele se torna rico na política. Tudo isso é parte da deformação brasileira.

    Quando concorreu a vice, o sr. identificava isso?

    Não, porque eu vim por um caminho externo. Fui indicado para o Geraldo.

    O sr. participou dessas conversas de campanha?

    Não, nada, nada, nada. O Geraldo é muito fechado. [Ficava tudo centralizado] nele. O tucanato que fez tudo.

    Algum partido está a salvo?

    Não, ninguém. É um inferno generalizado. Você vê: o PT veio como um partido para salvar. Não há nada mais salvático que o PT, na origem. Uma busca da pureza, unindo a Igreja Católica da Teologia da Libertação, os intelectuais da USP, o operário lutador. E deu nisso que está aí.

    O ex-ministro Antonio Palocci comparou o PT a uma seita.

    Pode ser uma máfia, mas não uma seita. Seitas têm um líder religioso. Ali tem uma máfia com um líder mafioso.

    Que seria quem? Lula?

    É Lula. Simpático, porém mafioso. Dominou um grupo.

    A pesquisa Datafolha mostra o petista em primeiro lugar na intenção de voto em 2018.

    Mas no dia seguinte a pesquisa mostrou que o povo quer ele preso! O Brasil é um país muito incongruente [risos], não "fecha". É louco.

    O que o próximo presidente precisaria fazer?

    Primeiro, um grande ministério. Mas aí ele não consegue apoio no Congresso. É aquilo: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E o Congresso está acostumado ao estilo Temer e ao estilo Lula. Com estilo Dilma, cai! [risos]

    O Niemeyer construiu um monstro. A praça dos Três Poderes é a ágora da promiscuidade. O Supremo, o Legislativo e o Executivo, tudo juntinho, todo mundo conversa. O Temer vai falar com o Gilmar [Mendes]. Para quê? Ele é ministro do Supremo, tem que manter imparcialidade total.

    Fala-se que o Judiciário age como um ator político e que o Supremo está politizado.

    Tem agido muito mal, entrando em assuntos que não são da sua competência. O Supremo está fraco, virou uma casa de surpresas.

    O sr. conviveu com Alckmin. De que forma avalia a situação dele na disputa presidencial?

    Difícil. Ele parte de um Estado que não tem penetração no país. São Paulo é muito paulista. Alckmin precisa conquistar o Brasil profundo.

    Como vê as disputas e trocas de farpas dentro do PSDB?

    É próprio do partido. É partido de intelectual, falso intelectual, entende? Eles criam conflitos artificiais e vaidades pessoais muito grandes.

    O sr. já disse que estamos na mãos de "uma burguesia má, uma minoria branca perversa".

    E continuamos. Tudo igual. Uma parte dela foi para a cadeia e a outra parte continua no comando. A elite branca é a dona do Brasil. É hegemônica, é o vértice da sociedade.

    -

    RAIO-X

    Nome
    Cláudio Lembo (83 anos)

    Formação
    Bacharel em ciências jurídicas e sociais pela USP e doutor em direito pela Mackenzie

    Carreira
    Um dos fundadores do PFL (depois DEM), é filiado ao PSD. Foi vice-governador de SP (2003-06) e governador (2006)

    Atuação
    É professor e advogado

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