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    Lava Jato

    É 'incontroverso' repasse da Odebrecht para ministro de Temer, diz Dodge

    RUBENS VALENTE
    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE BRASÍLIA

    02/11/2017 02h00

    Pedro Ladeira - 26.jun.2017/Folhapress
    O ministro Aloysio Nunes dá entrevista à Folha em seu gabinete, no Palácio do Itamaraty
    O ministro Aloysio Nunes (Relações Exteriores)

    A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou em petição ao STF (Supremo Tribunal Federal) não ter dúvida de que o atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB-SP), recebeu R$ 500 mil da Odebrecht em um esquema para financiar sua campanha eleitoral de 2010.

    "É fato incontroverso que houve o repasse de recursos para a campanha do senador Aloysio Nunes. Resta investigar a origem destes recursos e a finalidade do repasse", escreveu Dodge ao ministro relator do caso no STF, Gilmar Mendes, no último dia 24.

    Não há registro na Justiça Eleitoral de doação oficial da Odebrecht para Aloysio na disputa de 2010 ao Senado.

    O inquérito foi aberto em março a pedido do então procurador-geral Rodrigo Janot como desdobramento do acordo de delação. Dois delatores da empreiteira informaram à PGR sobre o pagamento a Aloysio.

    Um deles disse que repassou os dados sobre Aloysio ao "departamento da propina" da empresa e fez duas entregas, de R$ 250 mil cada uma, para o "representante" do candidato em hotéis da zona sul, não nominados, no segundo semestre de 2010. No sistema de acompanhamento dos pagamentos, Aloysio tinha o codinome "Manaus".

    Ao mesmo tempo em que apontou sua convicção sobre o repasse do dinheiro, Dodge sinalizou que tanto Aloysio quanto o senador José Serra (PSDB-SP) poderão se livrar de parte das investigações abertas. Os dois tucanos são investigados no mesmo inquérito. Sobre Serra, pesam afirmações de delatores sobre pagamentos ilegais em conexão com obras viárias no Estado de São Paulo.

    Dodge afirmou que os crimes atribuídos a ambos e cometidos antes de 2010 não deverão ser mais objeto de investigação porque estariam prescritos –ou seja, o Estado não poderia mais buscar a punição dos supostos autores.

    Segundo ela, o Código Penal "assegura aos senadores Serra e Aloysio prazo prescricional pela metade, pois eles têm idade de 75 e 72 anos, respectivamente". Embora tenha feito a observação, Dodge não pediu o arquivamento das investigações.

    Segundo os delatores da Odebrecht, de 2004 a 2006 houve pagamentos irregulares a campanhas de Serra de pelo menos R$ 9 milhões por meio de Paulo Vieira Souza, conhecido como "Paulo Preto", então diretor da Dersa, estatal paulista do setor viário.

    O cálculo da prescrição apresentado por Dodge, contudo, não atingiria outras partes da investigação, como pagamentos durante a campanha presidencial de Serra em 2010, incluindo 3,8 milhões de euros no exterior por meio de contas indicadas pelo ex-deputado federal Ronaldo Cézar Coelho, e repasses de R$ 4,6 milhões para a campanha à Prefeitura de São Paulo em 2012.

    Na petição ao STF Dodge menciona uma manifestação da defesa de Aloysio que ressaltou que dois dos delatores, em depoimentos que prestaram à Polícia Federal, "declararam que as doações para a campanha" do atual ministro "não foram condicionadas à prática de ato de ofício em favor da empreiteira".

    A existência de um "ato de ofício", ou contrapartida, é considerada fundamental nas investigações para diferenciar corrupção (pagamento de propina em troca de vantagem para a empresa) de caixa dois (crime eleitoral).

    Ao pedir a continuidade das apurações, Dodge indicou que não está convicta sobre "a finalidade do repasse".

    Os delatores que trataram do pagamento a Aloysio foram Carlos Armando Guedes Paschoal, conhecido como CAP, e seu superior hierárquico, Benedicto da Silva Júnior, o BJ.

    Paschoal afirmou que, ao assumir a função em São Paulo, em 2008, foi informado por outro executivo "sobre um esquema de pagamentos de vantagem indevida combinado" com Paulo Preto. Ambos disseram, contudo, que os pagamentos a Aloysio não estavam ligados a esse esquema e que o senador não pediu uma "contrapartida".

    OUTRO LADO

    A defesa do ministro Aloysio Nunes afirmou que "não houve recursos de forma ilícita para a campanha" em 2010. Segundo a defesa, a manifestação de Dodge "se baseia apenas no que dois delatores falam", mas "não há nenhuma comprovação" do pagamento de R$ 500 mil.

    Em petição ao STF em agosto, o advogado de Aloysio, José Roberto Santoro, pediu o arquivamento do inquérito por ausência de "materialidade, tipicidade ou qualquer outro indício que justifique a sua manutenção".

    A petição afirma ainda que o delator Carlos Armando Paschoal "deixou claro que Aloysio 'nunca condicionou a resolução de problemas envolvendo obras da Odebrecht ao pagamento de vantagem indevida ou mesmo a realização de doação eleitoral', o que desde logo retira qualquer possibilidade de imputação diversa daquela de falsidade ideológica eleitoral".

    O senador José Serra não comentará a manifestação de Dodge sobre a prescrição de parte dos supostos crimes. O tucano tem negado irregularidades.

    À Polícia Federal, Paulo Vieira Souza negou ter participado de esquema para pagamento de propina. Em janeiro, a defesa de Ronaldo Cézar Coelho disse que os valores recebidos pelo seu cliente em conta na Suíça eram ressarcimento pelo empréstimo de avião para uso na campanha presidencial de Serra.

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    13.mar.2017
    Rodrigo Janot, então procurador-geral, pede ao STF (Supremo Tribunal Federal) abertura de inquérito para apurar suposto repasse não declarado de R$ 500 mil da Odebrecht para a campanha de Aloysio (PSDB-SP) ao Senado
    > Dinheiro seria em troca de Aloysio interceder em favor da Odebrecht em negociações com a Dersa (estatal paulista)
    > De 2008 a 2010, Aloysio foi secretário da Casa Civil de São Paulo no governo José Serra.

    3.mai.2017
    Em depoimento à PF, Aloysio diz que pediu doações a várias empresas, entre elas Odebrecht, mas negou ter recebido os R$ 500 mil em duas parcelas
    > Segundo o tucano, quem cuidava do recebimento de doações era o coordenador financeiro da campanha, Rubens Rizek. Não soube dizer se Rizek recebeu ou não recursos da Odebrecht. Na Justiça Eleitoral não há registro

    4.ago.2017
    Defesa de Aloysio pede ao STF o arquivamento da investigação
    > Para a defesa, um dos pontos contraditórios é que, primeiramente, o delator Carlos Armando Paschoal, executivo da Odebrecht, disse que os R$ 500 mil foram pagos em junho de 2010. Depois disse que valor foi pago em duas parcelas, em agosto e setembro daquele ano —conforme registros em planilhas da empresa
    > Dois delatores da Odebrecht dizem que não houve "contrapartida" de Aloysio Nunes para o pagamento da quantia

    24.out.2017
    A procuradora-geral, Raquel Dodge, afirma ao STF que "é fato incontroverso que houve o repasse de recursos para a campanha do senador Aloysio"
    > "Resta investigar a origem destes recursos e a finalidade do repasse", escreveu a procuradora
    > Entre outras diligências, Dodge requer que Rizek seja interrogado

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