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    Aliado evangélico de Doria é novo presidente do PSDB paulistano

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    04/11/2017 02h00

    Zanone Fraissat/Folhapress
    SAO PAULO/SP BRASIL. 01/11/2017- Perfil do pentecostal Joao Jorge, novo presidente do PSDB Municipal..(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, PODER)***EXCLUSIVO***
    Vereador João Jorge, novo presidente do PSDB paulistano

    Foi amor à primeira vista, o primeiro encontro entre João e João. "Ele ganhou meu coração. Extremamente simpático. Ele é encantador", diz João Jorge, 58, sobre o xará de sobrenome Doria, 59.

    Era 2015, e o empresário, ainda na batalha para ser o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, convidou o colega tucano para um café em seu escritório na avenida Brigadeiro Faria Lima.

    O evangélico Jorge era então aposta eleitoral de uma das mais poderosas Assembleias de Deus do Brasil, a do Brás, liderada por Samuel Ferreira –bispo paparicado por políticos que vão de Michel Temer (PMDB) a Dilma (PT) e que conversa no WhatsApp com o "amigo Doria".

    Corta para 2017: no fim de outubro, Jorge foi escolhido como novo presidente do PSDB paulistano, com bênção de Doria, que por tabela fez um afago ao "amigo Samuel".

    Com o aliado, já dividiu esfihas do Habib's, após uma reunião da campanha de 2016.

    Agora, compartilham planos políticos. Tendo Jorge à frente do diretório, o prefeito busca ampliar sua base partidária para eventual disputa com o governador Geraldo Alckmin, padrinho político em 2016 e potencial êmulo nas prévias que decidirão o tucano que concorrerá à Presidência em 2018.

    Nada mal para um vereador em primeiro mandato na capital paulista. Jorge foi eleito com 42,4 mil votos (18º melhor desempenho na Casa de 55 membros), após perder a mesma cadeira em 2012 e sofrer consecutivas derrotas para Legislativo e o Executivo na cidade que lhe deu seu primeiro e até então único cargo eletivo –integrou a Câmara de Americana (SP) nos anos 1990.

    "Tive sorte", conta à Folha em seu gabinete, na quarta (1º).

    Por sorte, entenda-se a proteção de Samuel Ferreira. "Como vou dizer sem passar prepotência? Ele gostou da maneira como me comportei." Jorge, que "não perde um culto de domingo", acha que o fato de não ter mendigado apoio em 2012 pegou bem com o bispo.

    "Em 2015, falou: 'Olha, vou te ajudar'. Não pode pedir votos na igreja [o que é proibido pela Justiça Eleitoral], mas ainda assim deu um jeito. Falava: 'Vamos orar pelo João'. E, se tiro foto com ele, meto nas rede sociais'. Isso dava um 'up' na minha campanha."

    Ferreira ganhou papel coadjuvante na Lava Jato graças à amizade com Eduardo Cunha (PMDB). Sua igreja foi acusada de ceder uma conta bancária para o ex-deputado, que nela teria injetado parte de uma propina como se fosse doação.

    Advogado do bispo, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse não haver "absolutamente nenhuma irregularidade" em jogo e que seu cliente "está tranquilo".

    PIZZA COM DORIA

    Os planos de Jorge incluem ampliar a base de 32 mil filiados na cidade e a presença em trincheiras "da esquerda", como sindicatos e universidades. "Precisa parar com isso de que na USP só dá PT, que PSDB é partido de elite. Não é mais."

    Ele engrossa a Frente Cristã em Defesa da Família, com 17 dos 55 vereadores da Casa. Ressalta, contudo, que não fez UM discurso religioso em dez meses Após conquistar a presidência do tucanato local, tuitou sua gratidão: "O apoio, o conselho, o ombro. #bisposamuelferreira".

    Aquele domingo acabou em pizza. Jorge comeu a de marguerita num almoço oferecido por Doria, que de sobremesa serviu sorvete de chocolate da marca Ben & Jerry's.

    Secretários municipais, vereadores e prefeito se enfrentaram no campo de futebol. Doria fez um gol de pênalti, mas seu time perdeu de goleada para o dos secretários, relataram alguns dos convidados.

    Já a rixa no PSDB é levada menos na esportiva. Jorge adere ao ditado "cada dia com sua agonia" para driblar a inevitável pergunta: é time Doria ou time Alckmin? Só num ponto insiste: "Acho hipernatural ele ser candidato. Acha que o prefeito da maior cidade do país, um cara de mídia, não vai pensar na possibilidade?"

    Se vai ou não, o tempo dirá. Mas, no meio evangélico, a impressão é a de que ele não desistiu do páreo. Indício: na semana passada, organizou em casa um jantar para Ferreira, Silas Malafaia e outros pastores. Procurado, Doria afirmou que não gostaria de se "manifestar sobre este tema" e que a reunião "foi familiar".

    Na manhã da eleição do PSDB municipal, Alckmin e ele foram a um culto feminino da Assembleia de Deus Paulistana. Entre centenas de fiéis vestidas de vermelho, o prefeito citou o provérbio da "mulher virtuosa", cujo valor "ultrapassa os das mais finas joias".

    Também cometeu uma gafe: ao saber que o pai do pastor havia morrido, disse que, onde quer que esteja, ele manda mensagens diariamente ao filho. Evangélicos pró-Alckmin tripudiariam sobre o "amadorismo" de Doria: de teor espírita, a fala desceu indigesta na plateia.

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