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    Lula admite 'fragilidade' e diz que Bolsonaro 'tem direito' a se candidatar

    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA

    19/11/2017 14h10

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo (19) que a esquerda no país está "fragilizada" e que um de seus principais opositores, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), tem o "direito de ser candidato". "O Brasil tem que colher aquilo que planta", declarou.

    "Eu não sou de extrema esquerda e muito menos o Bolsonaro é de extrema direita. O Bolsonaro é mais do que isso e quem convive com ele sabe o que ele é. Não vou dizer porque acho que ele tem o direito de ser candidato, de convencer as pessoas, e o Brasil tem que colher aquilo que planta", disse Lula.

    Segundo o petista, o Congresso Nacional de hoje –com bancadas conservadoras expressivas– é o reflexo do "pensamento político da sociedade brasileira em 2014".

    Em discurso de cerca de quarenta minutos durante o encontro do PC do B, em Brasília, Lula disse que a aliança formada por partidos de esquerda "está mais perdendo do que ganhando" e que é preciso mudar o discurso e a postura para vencer as eleições de 2018.

    "Nós estamos fragilizados na luta para evitar [o desmonte do Estado], porque os congressistas que estão votando para desmontar não têm compromisso conosco. Se a gente não tomar cuidado, vai piorar nas próximas eleições. Toda vez que se fala em mudança, piora. Precisamos pensar no que fazer", afirmou o ex-presidente.

    "Não tenho mais idade de ficar criando o 'Fora, Temer' e ele estar dentro, de ficar criando o 'não vai ter golpe' e ter golpe. Vamos ter que parar de gritar e evitar que isso aconteça mesmo", completou.

    Uma militante da plateia chegou a falar que a solução, neste caso, seria "pegar em armas", em referência aos movimentos contrários à ditadura. Lula respondeu rindo e disse que era melhor "nem falar disso". "Eu não sei usar [armas]".

    O ex-presidente criticou mais uma vez o governo de Michel Temer e classificou o peemedebista e seus aliados como "ururpadores". "O compromisso deles é com o mercado, é atender ao desmonte do Estado", afirmou em referência à reforma trabalhista que, na avaliação do ex-presidente, retira direito dos trabalhadores.

    SEPARADOS

    Lula participou neste domingo do congresso do PC do B, que lançou Manuela D'Ávila candidata ao Planalto. Petistas reagiram mal à iniciativa do partido aliado. É a primeira vez, desde 1989, que PT e PC do B podem disputar a Presidência separados.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 19-11-2017, 12h00: O ex-presidente Lula participa do Congresso Nacional do PCdoB, que lançou a pré-candidatura da deputada estadual Manuela D`Ávila (RS) à presidência da república. Participam também a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, a presidente do PCdoB, deputada Luciana Santos e o governador do MA Flávio Dino, no complexo de eventos Brasil 21, em Brasília. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Lula participa do congresso do PC do B, que lançou a pré-candidatura de Manuela D'Ávila

    Em seu discurso, porém, Lula disse que é "o único ser humano" que não pode desencorajar alguém que quer ser candidato ao Planalto. "É um direito legítimo. Se não fosse a minha teimosia e a do PT, eu não teria chegado nunca à Presidência. Mesmo que não ganhe, se fizer uma campanha ideologicamente organizada, com a militância na rua, vale a pena", afirmou.

    Para ele, "qualquer partido de esquerda que quiser ser candidato, deve lançar", mas é preciso "ir junto para a rua".

    A presidente nacional do PC do B, Luciana Santos, defendeu o "direito de Lula" de sair candidato à Presidência em 2018.

    O PT aguarda uma decisão judicial para bater o martelo sobre a candidatura de Lula. Se o petista for condenado em segunda instância pela Justiça Federal, ele se torna inelegível na disputa de 2018.

    Lula, no entanto, ainda conta com uma liminar –após recurso de sua defesa– concedido por um tribunal superior, como Supremo Tribunal Federal, que o permita concorrer à sucessão de Michel Temer.

    DENÚNCIAS

    O ex-presidente voltou a se defender das denúncias no âmbito da Lava Jato e outras operações. Afirmou que o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o juiz Sergio Moro, de Curitiba, precisam "provar um real da minha vida que não seja legal".

    Sobre o sequestro de R$ 24 milhões em bens dele e de seu filho, Luís Cláudio Lula da Silva, que o MPF em Brasília pediu à Justiça Federal nesta semana, o ex-presidente disse apenas que é preciso "provar" onde ele tem esse dinheiro.

    "Um cidadão que não sei quem é apresentou um pedido de bloqueio de R$ 24 milhões meu. Primeiro ele devia ter a decência de falar onde eu tenho R$ 24 milhões".

    Segundo Lula, os investigadores ficam "inventando mentiras" e agora "não têm como sair delas".

    GLOBO

    Em seu discurso, Lula também voltou a fazer críticas à "TV Globo", afirmando que a emissora tem de ser investigada porque "deve ter feito mesmo" falcatrua para obter contratos de transmissão de eventos esportivos.

    A declaração teve como mote a afirmação do argentino Alejandro Burzaco, ex-executivo da empresa de marketing esportivo Torneos y Competencias, de que algumas das maiores empresas de mídia do mundo pagaram propina a dirigentes esportivos sul-americanos, entre elas a Globo.

    "O empresário argentino disse que a Globo fez falcatrua para ganhar e deve ter feito mesmo. (...) E a Globo já diz: 'Não, eu fiz uma investigação e não tenho nada.' Imagina ela mesmo se investigar?", discursou Lula.

    O ex-presidente afirma ter errado ao não ter feito a regulação dos meios de comunicação em seu governo. "Certamente a família Marinho [dona da Globo] deve estar pensando que estou radicalizando, mas não é censura. Estamos pagando o preço de não ter tido coragem de fazer isso."

    Em nota divulgada sobre o caso, o Grupo Globo afirma "veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina" e que, após mais de dois anos de investigação, "não é parte nos processos que correm na Justiça americana", acrescentando que em "suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos".

    "O Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Os nossos princípios editoriais nem permitiriam que fosse diferente", acrescenta a nota.

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