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    Lava Jato

    Ex-secretário de Cabral endossou obras sob suspeita

    ITALO NOGUEIRA
    DE DO RIO

    26/11/2017 02h00

    José Lucena/Futura Press/Folhapress
    RIO DE JANEIRO,RJ,23.11.2017:OPERAÇÃO-LAVA-JATO-RÉGIS-FICHTNER - Ex-chefe da Casa Civil do Rio Régis Fichtner chega à sede da Polícia Federal, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), após ser preso na manhã desta quinta-feira (23). A operação, que é mais uma fase da Lava Jato no Rio de Janeiro, foi batizada como C'est Fini, que em francês significa "é o fim". A ação desta quinta-feira é um desdobramento das investigações da Operação Calicute, desencadeada em novembro do ano passado e que prendeu Sérgio Cabral. (Foto: jose lucena/Futura Press/Folhapress) ***PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS***
    Ex-chefe da Casa Civil do Rio Régis Fichtner chega à sede da Polícia Federal

    A audiência pública sobre a reforma do Maracanã já se aproximava da terceira hora quando um grupo de manifestantes expôs toda sua insatisfação com a possibilidade de demolição do antigo Museu do Índio para dar mais espaço ao estádio.

    Os índios lançaram um saco de fezes contra a mesa das autoridades, onde estava o ex-secretário da Casa Civil Régis Fichtner.

    Braço-direito do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), ele permaneceu impassível, e seguiu com a audiência pública, sem ter se sujado. "Cancelar a audiência seria um atentado contra a democracia", disse, à época.

    Procurador do Estado concursado desde 1990, Fichtner foi por muitos anos a face pública em defesa de decisões polêmicas da gestão Cabral. Com mestrado e doutorado em Direito Civil pela USP, Universidade de Freiburg (Alemanha) e Uerj, as credenciais do ex-secretário serviam para dar "verniz jurídico" às decisões administrativas.

    Os dois se conheceram graças a Susana Neves, ex-mulher do peemedebista, com quem o ex-secretário estudou na PUC-Rio. Em 1997, se tornou assessor do então presidente da Assembleia Legislativa do Rio. A partir daí, acompanhou o peemedebista nos cargos em que ocupou.

    Discreto, Fichtner era amigo de Cabral, embora tivessem temperamento completamente distintos. Foi graças ao ex-secretário que o ex-governador conheceu sua mulher, Adriana Ancelmo, ao empregá-la na Procuradoria da Alerj na década de 1990. Ela conheceria Cabral no elevador do Palácio Tiradentes.

    A relação com a antiga funcionária e ex-aluna na PUC se tornou tensa após o início da gestão Cabral. Recém empossado, em 2007, Cabral ouviu Fichtner sobre a nomeação para desembargador do Tribunal de Justiça.

    Advogada, Ancelmo bateu o pé e reivindicou para si a atribuição de indicar o nome. Para prestigiá-la, segundo amigos, aceitou a imposição da ex-primeira-dama, escolhendo o então defensor público Marco Aurélio Bezerra de Mello.

    O conflito se repetiu em 2011, quando Fichtner, dessa vez, ganhou a queda de braço. Garantiu o apoio de Cabral ao cunhado Marco Aurélio Belizze numa vaga no STJ (Superior Tribunal de Justiça), que superou a disputa nos bastidores com Rodrigo Cândido de Oliveira, à época sócio de Ancelmo.

    Preterida, ela se separou de Cabral, para meses depois reatar a união.

    Seu bom relacionamento no meio jurídico vem levantando a hipótese de que uma eventual delação premiada seja a "ponte" da Lava Jato para o Poder Judiciário, ainda intocado pelas investigações. Pessoas próximas negam essa possibilidade. Em depoimento, ele refutou as suspeitas contra ele.

    Fichtner sempre foi uma espécie de "solucionador de problemas" na gestão peemedebista. Caíram em seu colo grandes contratos, como da obra da linha 4 do metrô, concessão do Maracanã e manutenção de frota de viaturas da Polícia Militar.

    Todos tinham em comum cifras milionárias, polêmicas jurídicas e, atualmente, estão sob investigação. Os empecilhos legais por vezes indicados por Fichtner lhe garantiram a alcunha de "dr. Certinho" na administração.

    As soluções para os pepinos de Cabral não se limitavam ao governo. O escritório da família –do qual se afastou enquanto esteve no governo– também atuava, de graça, na defesa do peemedebista e outros aliados em ações populares e de improbidade administrativa. O serviço foi interrompido em fevereiro.

    O escritório da família Fichtner tem 34 anos de atuação e é considerado referência nas áreas de arbitragem e contencioso. Atua também na área ambiental.

    O pedido de prisão contra Fichtner atribui a ele a entrega de R$ 1,6 milhão em dinheiro vivo do esquema Cabral. O ex-secretário refuta as acusações. Diz que tem como provar que perdeu dinheiro no período em que esteve no governo.

    De fato, seus bens caem de R$ 9,1 milhões em 2007 para R$ 8,7 milhões em 2013. Ele deixou o governo junto com Cabral, em abril de 2014. Neste ano, seu patrimônio saltou para R$ 25,2 milhões.

    Este acréscimo se deve aos R$ 16 milhões de honorários que ganhou logo ao voltar para o escritório. A Procuradoria suspeita que o repasse se deva a uma espécie de contrapartida pelos benefícios auferidos pela banca enquanto ele esteve no governo.

    Fichtner afirma que se deve ao pagamento de serviço prestado em 2001, quando ainda estava no escritório, quitado 13 anos depois em razão de longa briga judicial.

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