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    Moro pede apoio a Temer para prisão de condenados em segunda instância

    WÁLTER NUNES
    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    05/12/2017 23h57

    Marlene Bergamo/Folhapress
    PODER - Premio Brasileiros do Ano, da revista Istoé, com a presença do Presidente Michel Temer, Joao Doria Jr. O Juiz Sérgio Moro, o Ministro Henrique Meirelles, Antônio Carlos Magalhães Neto, Milu Villela, João Carlos Martins, Luciano Huck, Juliana Paes e Isis Valverde são alguns dos premiados. 05/12/2017 Foto: Marlene Bergamo/FolhaPress -017
    Sergio Moro e Michel Temer, em evento em São Paulo, da revista "IstoÉ", nesta terça (5)

    O juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, disse que o combate à corrupção não pode andar para trás e pediu o fim do foro privilegiado para autoridades. "Não são aceitáveis retrocessos", disse Moro.

    O discurso aconteceu no evento Brasileiros do Ano, promovido pela revista "IstoÉ", em que Moro foi o principal homenageado.

    "É necessária a revisão do instituto do foro privilegiado. Primeiro porque ele é contrário ao princípio fundamental da democracia que é o princípio do tratamento igual", disse o magistrado.

    "Eu falo isso com bastante conforto porque eu como juiz também sou detentor desse foro privilegiado e eu não vejo nenhum problema que ele seja retirado dos juízes. Eu não quero esse privilégio para mim", disse Moro.

    Neste momento o juiz foi aplaudido efusivamente pela plateia. O presidente Michel Temer e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, sentados a poucos passos de Moro, não aplaudiram.

    Antes do discurso de Moro, Temer, os ministros Moreira Franco e Henrique Meirelles e o presidente do Senado, Eunício Oliveira, foram os únicos a não se levantar para aplaudir o juiz. Os outros 20 nomes no palco ficaram de pé.

    No mês passado o presidente sancionou medida provisória aprovada pelo Congresso que deu status de ministro a Moreira Franco e assim garantiu foro privilegiado ao aliado.

    Tanto Temer quanto Moreira Franco são investigados pela Operação Lava Jato. No palco ainda havia outros citados por delatores da operação, como o ministro Helder Barbalho, o presidente da FIESP, Paulo Skaf, e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), escolhido como o Brasileiro do Ano na Política.

    Moro também se dirigiu diretamente a Temer pedindo que o governo pressione o Supremo Tribunal Federal a não mudar o entendimento em relação à possibilidade da prisão de um condenado em segunda instância.

    Fez o mesmo com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao dizer que é importante manter investimentos na Polícia Federal. "Me parece que alguns investimentos são necessários para o refortalecimento da Polícia Federal", disse. "Na próxima quinta-feira haverá uma cerimônia em Curitiba em que serão devolvidos para a Petrobras recursos recuperados nesses casos criminais da ordem de mais de R$ 600 milhões", disse. "Então investir no combate à corrupção é algo que eleva a economia."

    Moro também disse que é preciso diminuir o loteamento de cargos públicos e reformar os tribunais de contas.

    Questionado pela Folha sobre defender a Lava Jato ao lado de Temer e outros envolvidos no escândalo, Moro riu. "Vou ficar devendo uma resposta", disse.

    Sobre a revisão pelo STF da possibilidade de rever o cumprimento de pena após decisão em segunda instância, o juiz disse que "ainda acha incerto que vão rever".

    "Outros ministros também podem mudar de posição, então não acho assim tão certo [que revertam o entendimento]", afirmou.

    Perguntado a quais ministros se referia, Moro declinou. "Vou ficar devendo essa resposta."

    Na segunda (4), o ministro Gilmar Mendes, do STF, disse que a prisão após condenação em segunda instância não é obrigatória e que é preciso desconfiar se o Ministério Público tentar ocupar um vácuo de poder.

    Em 2016, o Supremo decidiu que a pena poderia começar a ser cumprida depois que um tribunal referendasse a primeira decisão. Gilmar, naquela época votou a favor da execução provisória da pena, mudou de opinião e agora defende que o réu recorra em liberdade.

    "Seria possível prender-se. Mas não dissemos que era obrigatória a prisão", destacou o ministro durante evento em Brasília.

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