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    Para neutralizar Meirelles, Alckmin prioriza economia

    TALITA FERNANDES
    GUSTAVO URIBE
    DE BRASÍLIA

    08/12/2017 02h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    O governador Geraldo Alckmin dá entrevista após jantar com FHC, Tarso Jereissati e Marconi Perillo
    O governador Geraldo Alckmin dá entrevista após jantar com FHC, Tarso Jereissati e Marconi Perillo

    Pré-candidato tucano à sucessão presidencial, o governador São Paulo, Geraldo Alckmin, tentará se reaproximar do PMDB e neutralizar o apoio a uma eventual candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

    Para evitar a disputa com o ministro, cuja candidatura é considerada de perfil semelhante à do tucano, Alckmin fará ainda uma ofensiva sobre o mercado financeiro, hoje simpático a Meirelles.

    Em entrevista à Folha publicada na última segunda (4), Meirelles fez críticas ao PSDB, disse que o governo não apoiará o tucano e deixou aberta a possibilidade de se candidatar ao Planalto com o apoio do PMDB.

    O tucano irá aumentar os encontros com empresários e investidores e adotará em seu discurso um tom mais voltado à economia, com a defesa de medidas de equilíbrio fiscal e de recuperação da atividade econômica.

    O primeiro passo da nova estratégia do futuro presidente do PSDB, cargo que assumirá no sábado (9), é trabalhar pelo convencimento da bancada tucana pela reforma previdenciária, considerada um trunfo eleitoral para uma candidatura de Meirelles.

    O governador recebeu uma lista de deputados tucanos indecisos e pretende telefonar na próxima semana para pedir apoio à proposta. De uma bancada federal de 46 parlamentares, apenas 22 demonstram interesse em aprovar as mudanças nas regras da aposentadoria.

    Caso a proposta não seja votada, Alckmin teme ser cobrado ao longo da corrida presidencial, sobretudo pelo mercado financeiro, por um desempenho ruim de seu partido na votação da iniciativa.

    Além disso, ele tem reconhecido a aliados e auxiliares que a proposta, caso não seja aprovada, pautará a disputa eleitoral de 2018, o que poderá ser positivo para Meirelles e deverá lhe trazer problemas caso seja eleito.
    desgaste.

    A avaliação de aliados do governador é de que, caso ele consiga reverter votos na bancada tucana, ganhará força para se reaproximar do presidente Michel Temer e, assim, discutir uma eventual aliança para 2018.

    Desde que o governador defendeu o desembarque do partido da Esplanada dos Ministérios, a relação entre Alckmin e Temer sofreu desgaste e estimulou o presidente a trabalhar por um nome como Meirelles.

    O tucano também cogita, após a convenção nacional do partido, reunir-se com Temer para discutir a melhor maneira de o partido deixar os cargos ministeriais e também iniciar um diálogo com vistas às eleições.

    No ano que vem, o PSDB corre o risco de ficar isolado, já que tanto o PMDB quanto o DEM, antigos aliados, consideram candidaturas próprias. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, já afirmou que o PMDB só apoiará um candidato que defender o legado do atual governo.

    *

    AGÊNCIA LUPA

    PSDB lança documento com novas diretrizes, mas segue velhas práticas

    "A participação das mulheres -em sentido mais amplo e, em particular, no PSDB- tem de ser maior"
    Documento "Gente em Primeiro Lugar: o Brasil que Queremos", pág.23

    DE OLHO - De acordo com o site oficial do PSDB, entre os 25 membros titulares da Executiva Nacional em 5 de dezembro, havia apenas quatro mulheres: a deputada federal Yeda Crusius (RS) e a ex-deputada Rita Camata (ES) como vogais; a prefeita de Chapada dos Guimarães (MT), Thelma Oliveira, como tesoureira-adjunta e a deputada federal Mariana Carvalho (RO), como vice-presidente. Na Câmara, havia 51 tucanos. Entre eles, apenas 6 mulheres. No Senado, 12 representantes, nenhuma mulher. O partido ainda tem 6 governadores, todos homens. Nas 27 páginas do novo documento, a palavra "mulheres" aparece duas vezes. Procurado, o PSDB não retornou.

    "Não compactuaremos com a corrupção"
    IDEM, pág. 23

    DE OLHO - Em 26 de setembro, a 1ª turma do STF afastou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato. O tucano havia sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva e obstrução de justiça. Ele teria solicitado e recebido R$ 2 milhões em propina de Joesley Batista, do grupo J&F. Em 17 de outubro, o Senado devolveu o mandato de Aécio. Dos 12 senadores tucanos, 10 participaram da sessão, todos votando pelo retorno de Aécio.

    Quanto às denúncias contra o presidente Michel Temer, o partido ficou dividido. Na primeira, por corrupção passiva, 22 tucanos foram a favor da rejeição e 21 favoráveis ao prosseguimento das investigações. Na segunda, sobre organização criminosa e obstrução, a maioria dos tucanos recomendou que as investigações continuassem: 23 contra 20.
    No Rio, Estado em que tem apenas quatro deputados estaduais, o PSDB também se dividiu. Em 17 de novembro, a Assembleia decidiu soltar os deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do PMDB e investigados por corrupção. Naquele dia, um deputado do PSDB votou a favor da soltura. Dois foram contra, e houve uma abstenção.

    "A carga tributária deve ser mais bem distribuída -recaindo mais sobre a propriedade e a renda, e menos sobre o consumo"
    idem, pág. 20

    CONTRADITÓRIO - Apesar de defender taxações progressivas em suas novas diretrizes, na prática, quando no governo, o partido não adotou alguns dos tributos mais distributivos. O imposto sobre heranças ou doações, ITCMD (Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação), é um dos principais que recaem sobre a renda. De acordo com a Constituição, cabe ao Estado estabelecer uma alíquota de até 8%. Este limite já é um dos menores no mundo. Nos EUA e na Alemanha, a alíquota chega a 50%. Na França, a 60%. Em SP, é de 4%. O governo de Goiás foi o único tucano a adotar a alíquota máxima e progressiva do ITCMD. O PSDB também se posicionou contra o aumento do IPTU, que recai sobre a propriedade, quando o ex-prefeito da cidade de São Paulo Fernando Haddad (PT) tentou aumentar a tarifa para terrenos ociosos e subutilizados. Procurado, o PSDB não retornou.

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