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    Opção antipetista é lógica, mas vai esbarrar no estilo de Alckmin

    IGOR GIELOW
    DE SÃO PAULO

    09/12/2017 14h13

    Ao optar por um antipetismo com tempero vários graus de ardência acima da faixa na qual costuma operar, Geraldo Alckmin faz uma opção lógica, ainda que arriscada, enquanto se consolida como o candidato tucano ao Planalto.

    Consolida é o termo porque Arthur Virgílio, o resiliente prefeito manauara, decidiu levar até o fim sua postulação por prévias, mesmo sob risco de virar o Eduardo Suplicy do PSDB. Mas a chance de Alckmin não ser o presidenciável do partido em 2018 é igual a zero hoje.

    Ao dizer que as "urnas condenarão o PT, que jogou pela janela nossa autoestima" e falar na "audácia dessa turma", Alckmin se dirige ao eleitor que protagonizou as eleições municipais de 2016, quando a onda anti-PT varreu o país na esteira do petrolão e do impeachment de Dilma Rousseff. Como todas as pesquisas indicam, esse eleitorado que rejeita Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido migrou em boa parte para a pré-candidatura de Jair Bolsonaro (PSC, em breve Patriotas).

    Então os tucanos precisam buscar recuperar seu lugar nesse polo. A equação fica complicada porque Bolsonaro não cresceu apenas no antipetismo, mas sim na onda de indignação geral contra a classe política —o fato de ele ser um político por profissão é apenas uma das ironias do processo. E, para esse eleitorado, o PSDB de Alckmin e, principalmente, do enrolado Aécio Neves não se diferencia do PT, do PMDB, PP ou qualquer outra "sopa de letras", como define o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

    Alckmin, aliás, seguiu o conselho dado por FHC em entrevista recente à Folha, de evitar a demonização de adversários cuja base eleitoral pode ser atraída, nem que seja apenas no segundo turno. A lição de Hillary Clinton praticamente chamando os eleitores de Donald Trump de toscos em 2016 é eloquente. A crença em que Bolsonaro desidratará naturalmente hoje é menos consensual entre políticos, mas ainda majoritária e também entra nessa conta.

    O discurso do governador paulista também mirou franjas do eleitorado mais pobre que é lulista, mas não necessariamente petista. O apelo à inclusão social e pelo combate das desigualdade hoje é monopólio quase exclusivo de Lula no imaginário popular, mas o fato de que o tucano é mais popular entre mais pobres do que mais ricos dá esperanças a seus aliados. Mas não é casual o discurso neste sábado de FHC pedindo para o partido se "reconectar com as ruas".

    Há riscos para a tática alckmista. Político conciliador, com imagem de comedimento e recato pessoal segundo pesquisas internas do PSDB, ele terá de apostar na ideia de que é um nome de união nacional em contraposição ao radicalismo que Lula tirou da prateleira desde que foi colocado nas cordas por sucessivos problemas com a Justiça. Mas, com Bolsonaro mordendo pedaços do eleitorado antipetista, o governador teve de falar mais grosso, algo que não lhe é natural em público.

    Como disse FHC, "o marqueteiro não pode mudar muito a pessoa, porque dá errado", numa referência indireta à Dilma de 2014. O desafio dos tucanos é encontrar um ponto de equilíbrio ao condimentar o proverbial chuchu a ser servido à população na campanha. O recente episódio no qual gritou com um político que o atacava durante evento acendeu luzes amarelas entre seus estrategistas: Alckmin berrando impropérios em palanques não soa, digamos, natural.

    Além disso, os discursos da convenção deixaram clara a dificuldade que o partido terá para explicar sua associação com o governo Temer, ainda que caciques como FHC minimizem o problema. O que não dá é criar narrativas alternativas, para usar um eufemismo, como fez Alberto Goldman ao dizer que o PSDB nunca embarcou no governo.

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