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    Divididas pelo feminismo, Sara Winter e MC Carol querem se candidatar

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    11/12/2017 02h00

    Lucas Lacaz Ruiz/A13/Folhapress e Divulgação
    Sara Winter, evangélica que diz ter se curado do feminismo, e MC Carol, que se descreve como 'negra, favelada e funkeira
    Sara Winter, ex-ativista do Femen, e MC Carol, que se descreve como 'negra, favelada e funkeira'

    Elas têm em comum o desejo de engrossar a participação feminina numa cena política monopolizada por homens —só na Câmara, eles são hoje 89,5% dos 513 deputados, num país onde as mulheres compõem 51,5% da população. E suas semelhanças, ao menos no que concerne à inclinação político-ideológica, basicamente param por aí.

    À direita, Sara Winter, 25, a militante "contra o aborto, a ideologia de gênero, as drogas, a doutrinação marxista, a jogatina e a prostituição". À esquerda, MC Carol, 24, funkeira famosa por músicas como "100% Feminista", de versos como "sou mulher, sou negra, meu cabelo é duro" e "eu que mando nessa porra, eu não vou lavar a louça".

    Sara costumava pensar assim, mas hoje a admiradora e amiga do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) se diz "curada" do feminismo. A paulista de São Carlos ficou famosa por ter fundado, aos 19, uma célula nacional do Femen, grupo ucraniano adepto do "sextremismo" (em oposição ao machismo) e conhecido pelo uso de nudez em protestos.

    Credita sua "conversão" à gravidez que lhe deu Héctor, hoje com dois anos. Agora, além de "temente" a Deus, é auxiliar administrativa no PSC (Partido Social Cristão), pelo qual estuda se lançar candidata à Câmara em 2018.

    Reprodução/TV Folha
    Estudante Sara Winter, 19, primeira integrante do Femen no Brasil, da entrevista ao "TV Folha" no vao livre do Masp, em Sao Paulo. REPRODUCAO/TV FOLHA ***ESPECIAL*** <M> ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***</M>
    Sara Winter quando era integrante do Femen

    "Apaixonada" por Bolsonaro e avessa a deputadas como Maria do Rosário (PT-RS) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Sara vê "uma diferença entre amar e proteger as mulheres e usá-las como instrumento político". "Quando você para pra ler os projetos, você percebe que um homem cristão e conservador sabe muito mais como nos proteger do que parlamentares feministas", afirma.

    Capacidade espelhada na defesa de projetos contra o aborto, que considera uma violação à condição feminina.

    Uma "preocupação", pois, é perceber que "as mulheres com representação efetiva [no Legislativo] são de esquerda, e a impressão que dá é que só mulheres de esquerda se interessam por política". Estudante de relações internacionais em um curso privado a distância, Sara diz que só concorrerá a um cargo público caso se "sinta preparada".

    PRESENÇA INCÔMODA

    "ESTOU PREPARADA!", escreveu no Facebook a niteroiense Carolina de Oliveira Lourenço, vulgo MC Carol. Ainda na rede social: "Pessoal, nem entrei ainda e já estou incomodando. [...] Senhores políticos, nada na minha vida foi fácil. E uma mulher negra, favelada, funkeira na política seria muito menos".

    Adriano Vizoni - 29.ago.2017/Folhapress
    Desfile da marca LAB durante o 44o Sao Paulo Fashion Week, realizado na Bienal do Ibirapuera
    MC Carol durante desfile da marca LAB na São Paulo Fashion Week, em agosto deste ano

    A visita ao gabinete de uma vereadora do PSOL em sua cidade natal motivou o post, conta à Folha a autora de "Meu Namorado É o Maior Otário" e "Delação Premiada". "Um político da cidade resolveu me atacar pelo conteúdo das minhas músicas. A questão é que minhas músicas são justamente a realidade das pessoas que políticos deveriam ajudar, mas eles nem ligam pra quem vive em comunidade."

    O próprio partido tratou de divulgar, no começo do mês, uma nota intitulada "MC Carol flerta com PSOL e recebe apoio nas redes sociais". Daí a enxurrada de agressões virtuais —inclusive as que tentam enquadrá-la justamente em causas que apoia, como a LGBTQ.

    "A direita está pesquisando música por música. Gente, estão falando sobre [seu funk] 'Aponta pro Viado', me acusando de ser homofóbica. Puta que pariu, tudo menos isso!"

    Letra que escreveu, afirma, "pros machões que saem com as gays e depois fingem que não conhecem, tratam mal".

    MC Carol não é filiada ao PSOL, mas pensa em fazê-lo e tentar uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio. "Triste ver que na política tem pouquíssimas mulheres, negros e gays, pessoas que realmente entendem essas pautas."

    Ainda não tem um slogan para eventual campanha. "Mas acho que os versos das minhas músicas já falam por si só... Tipo 'na televisão, a verdade não importa. É negro, favelado, então tava de pistola!'"

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