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    Lula se matou como símbolo, diz FHC em debate sobre crise no Brasil

    JOELMIR TAVARES
    DE SÃO PAULO

    14/12/2017 21h56

    Marlene Bergamo/Folhapress
    PODER - Sao Paulo - SP - Lançamento do livro: Brasil, Brasileiros - Por que Somos assim?, organizado e publicado pela Fundaçao Astrogildo Pereira e pela Verbena Editora. Na foto, dialogo entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque.14/12//2017 Foto: Marlene Bergamo/FolhaPress -017
    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em evento na fundação que leva seu nome

    Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tem dito que não gostaria de ver Lula (PT) preso e que seria "chato" um ex-presidente ir parar na cadeia, mas deu a entender nesta quinta-feira (14) que o petista já teve seu maior castigo: está morto politicamente, na visão do tucano.

    "O Lula, ele mesmo se matou, como símbolo. De tudo que ele representava, de novo, de puridade, não sei o quê. Como é que vai representar hoje, com tantas evidências na outra direção?", afirmou.

    Condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro no caso do tríplex em Guarujá (SP), Lula teve o julgamento de seu recurso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região marcado para o dia 24 de janeiro.

    Para o tucano, "o que está aparecendo" sobre o adversário contraria "a esperança de uma nova ética, de um novo tipo de comportamento" que o petista dizia significar. "[Lula] se matou no sentido político", disse FHC em debate na fundação que leva seu nome, na região central de São Paulo.

    Debate, não, corrigiu o ex-presidente antes de iniciar sua fala. "Porque isso pressupõe que um esteja contra o outro ou tenha alguma divergência. E eu não tenho", disse, dirigindo-se ao colega de mesa, o senador Cristovam Buarque (DF), pré-candidato do PPS à Presidência da República em 2018.

    Os dois conversaram sobre a crise brasileira e o futuro do país durante o lançamento de "Brasil, Brasileiros — Por Que Somos Assim?", livro organizado pelo senador com os pesquisadores Francisco Almeida e Zander Navarro.

    Na saída do evento, FHC disse que o Brasil vive um momento "em que é preciso que haja liderança". "Se o PSDB for capaz de exercer a liderança, muito bem. Se não for, alguém outro vai exercer", afirmou ele, que no sábado (9) discursou em defesa da pré-candidatura ao Planalto do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

    O ex-presidente minimizou os levantamentos de intenção de voto, falando que eles "não significam muita coisa" e que a eleição ainda está distante. Com 6% na pesquisa Datafolha divulgada no início do mês, Alckmin aparece muito distante de Lula, que lidera com 34%.

    IRA X URNA

    Durante a conferência, em autocrítica à classe política, o ex-presidente disse que a crise de confiança nas lideranças é grande "porque se quebrou o encanto".

    "Tem que reencantar. E não no mau sentido, de mistificar, mas no sentido de as pessoas poderem verificar que efetivamente você acredita e você cumpre aquilo que você está propondo."

    Para Cristovam, a superação do problema de representatividade depende da coesão entre os cidadãos e da mudança de comportamento dos políticos. "A grande raiva, a ira, não é o estelionato apenas que houve em 2014 [na reeleição de Dilma Rousseff]. A grande raiva é a distância entre os privilégios, mordomias, vantagens, desprezo da elite dirigente, e o povo", afirmou.

    Segundo o senador, a divisão da sociedade brasileira é movida hoje pela "ira". E o sentimento, diz, "não combina" com eleição. "A urna que sai da ira em geral leva a desastres. Mas hoje nós estamos caminhando para isso."

    'POBRE MATANDO POBRE'

    Ao apontar a segurança pública como um dos principais problemas hoje no país, Fernando Henrique disse que a criminalidade preocupa mais a população "nas zonas pobres. É pobre matando pobre, em grande quantidade".

    "Segurança hoje não é segurança para nós, é segurança para o povo", afirmou à plateia de convidados no auditório da fundação. "Quem tem medo de morrer não somos nós. Quem tem medo, no dia a dia, de morrer é onde há crime."

    Para o tucano, se o discurso do combate à violência "for apropriado pelos autoritários, eles ganham". "Não pode deixar, porque não resolve matando. É pior", disse, sem citar nomes. Também nesta quinta-feira (14), o pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSC-RJ) prometeu dar "carta branca" para a PM matar, caso seja eleito. "Policial que não atira em quem atira nele não é policial", afirmou o deputado federal.

    A saúde pública, na opinião do ex-presidente, é equivocadamente apontada como "o que vai pior" no Brasil. "Isso não é verdade. Quem não usa acha que é ruim, quem usa não reclama tanto. Eu digo sempre: eu uso SUS, eu vou ao hospital do SUS", afirmou. "Bem ou mal, hoje existe o SUS."

    Ao falar de educação, bandeira de atuação do senador Cristovam, FHC mencionou a diminuição do analfabetismo e a inclusão escolar como avanços ocorridos nos últimos anos.

    "Quando eu estava no governo, entre os negros 25% estavam fora da escola. Hoje se aproxima dos 98% os que estão na escola. [Dizem:] 'Ah, mas a escola é uma porcaria'. É verdade. A qualidade deixa a desejar."

    Marlene Bergamo/Folhapress
    PODER - Sao Paulo - SP - Lançamento do livro: Brasil, Brasileiros - Por que Somos assim?, organizado e publicado pela Fundaçao Astrogildo Pereira e pela Verbena Editora. Na foto, dialogo entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque.14/12//2017 Foto: Marlene Bergamo/FolhaPress -01
    Cristovam Buarque e Fernando Henrique Cardoso no lançamento do livro organizado pelo senador

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