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    Ex-prefeita de Ribeirão Preto apaga postagens e se recolhe após acusações

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    18/12/2017 02h00

    De um lado, Gilberto Kassab demonstra nervosismo. De outro, Kátia Abreu, para acalmar, come um doce. No mesmo ambiente, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes desabafa ao ver um piloto brasileiro ser ultrapassado numa corrida de F-1.

    Já Ricardo Mansur (ex-Mappin e Mesbla) foi apontado como a esperança de boias-frias por ela, que também disse ter gostado de ouvir uma conversa do presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero, com seu antecessor Ricardo Teixeira.

    As situações acima foram narradas pela ex-prefeita de Ribeirão Preto Dárcy Vera (PSD), presa pela operação Sevandija e impedida pela Justiça de concluir seu segundo mandato à frente da administração (2009-2016).

    Entusiasta de tecnologia e usuária assídua de redes sociais, Dárcy postava em seus perfis cada passo de seu governo segundo sua visão de mundo. Frases de autoajuda, passagens religiosas e comentários a partir do noticiário local também eram frequentes até sua prisão.

    Apagou tudo após a deflagração da operação –chegou a afirmar que foi "hackeada"– e suas aparições públicas ficaram escassas, mas o blog alimentado por ela continua disponível na rede e constitui uma espécie de livro aberto da ex-prefeita.

    "Fui hoje a São Paulo, a convite do prefeito Kassab, para assistir a F-1. Muita gente esperançosa pelo fato de o Rubinho [Barrichello] ter decolado em primeiro lugar", postou a ex-prefeita sobre o GP Brasil de 2009.

    E continuou: "Ao meu lado, o secretário de Transportes, Alexandre de Moraes [hoje ministro do STF], fez um desabafo, quando o nosso piloto foi ultrapassado, dizendo 'isso não, Rubinho'. No canto, observei o Kassab coçar a cabeça, sinal de nervosismo. A senadora Kátia Abreu, para acalmar, começou a comer doce", concluiu Dárcy. Barrichello chegou na oitava posição.

    Dárcy foi presa em 2 de dezembro de 2016. Após 11 dias, obteve habeas corpus no STJ, mas voltou à prisão em maio, após a decisão ser revogada.

    A Sevandija resultou em três processos. O que levou a ex-prefeita à prisão envolve suposto pagamento de propina para antecipar honorários à advogada Maria Zuely Librandi.

    Ela atuava no sindicato dos servidores num acordo contra a prefeitura de R$ 800 milhões de perdas decorrentes do Plano Collor. Foram pagos desde 2008 mais de R$ 300 milhões, além de R$ 45 milhões em honorários –pagos em dia, enquanto lixo se acumulava na cidade e hospitais não recebiam repasses. Dárcy seria beneficiária de propina, segundo o Gaeco, do Ministério Público paulista.

    EM TODAS

    Os primeiros anos do governo Dárcy foram os mais pródigos em encontros, como o com o empresário Ricardo Mansur, que se aventurou no setor sucroenergético ao assumir a antiga usina Galo Bravo, que vivia em dificuldades.

    "Fui agradecer pessoalmente o Ricardo Mansur, que imediatamente ao assumir a usina regularizou o salário dos 3.000 funcionários que estava atrasado seis meses", disse. A aventura durou 11 meses e Mansur foi acusado pelos antigos donos de desviar R$ 10 milhões.

    Na capital, onde pleiteava que Ribeirão fosse subsede da Copa de 2014, foi a vez de Dárcy tietar, conforme ela mesma, o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez. Mas não só ele.

    "Outro que gostei de ouvir, numa conversa com o [ex-] presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi o Marco Polo Del Nero." Ambos têm os nomes envolvidos no julgamento do escândalo de corrupção da Fifa (Del Nero foi afastado da presidência da CBF).

    Mas Dárcy também dedicava aos seus posts temas prosaicos, como sentimentos após participar de atos, a rotina fora da administração e até a correção de gafes.

    OUTRO LADO

    Em depoimento à Justiça no último dia 5, Dárcy confirmou ter recebido dinheiro de Librandi, mas negou que fosse propina. De acordo com ela, a advogada emprestou R$ 120 mil para pagar faturas do seu cartão de crédito.

    A ex-prefeita ainda afirmou que vai provar sua inocência e que sua família vive dificuldades financeiras.

    A advogada Maria Claudia Seixas, que defende Dárcy, sempre afirmou que não se justifica a manutenção da prisão da ex-prefeita por ela ser ré primária, ter bons antecedentes, residência fixa e família constituída.

    Librandi disse ter emprestado dinheiro para Dárcy, mas também negou ter pago propina.

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