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    Debandada de aliados ameaça futuro do clã Sarney no Maranhão

    THAIS BILENKY
    ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUÍS (MA)

    24/12/2017 02h00

    Alan Marques - 10.jun.2014/Folhapress
    José Sarney e a filha, Roseana, que deve disputar o governo do Maranhão, em momento difícil para o clã
    José Sarney e a filha, Roseana, que deve disputar o governo do Maranhão, em momento difícil para clã

    A eleição de 2018 ruma para ser um divisor de águas na história do Maranhão. Depois de meio século de influência política, o clã Sarney tentará retornar ao Palácio dos Leões vendo sua base derreter e aliados históricos debandarem em razão das derrotas nas últimas duas campanhas.

    Sinal dos tempos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 72, não deve apoiar o nome de José Sarney (MDB) para fazer frente ao que pode se tornar o ocaso de sua era.

    Se concretizada, a aliança com o governador Flávio Dino (PCdoB), 49, que tenta se reeleger, tirará pela primeira vez o PT nacional da órbita do emedebista desde 2002.

    Em uma demonstração de que a família chega a essa encruzilhada sem sucessores à altura, Sarney, 87, precisou convencer seu principal ativo, a filha, Roseana (MDB), 64, a disputar o governo.

    O cenário para ela é adverso. Dos 217 municípios, Dino conta com o apoio de 180 prefeitos. Quadros historicamente ligados a Sarney, como o ex-ministro Gastão Vieira e os deputados Pedro Fernandes (PTB), Cleber Verde (PRB) e André Fufuca (PP) estão com o governador.

    Além de procurar oferecer um sobrenome alternativo, Ricardo Murad (PRP), 61, cunhado de Roseana, lançou-se candidato a governador em uma estratégia para pulverizar a disputa e tentar provocar o segundo turno.

    "Pelo que conheço dele, Sarney é a favor de candidaturas outras, sem ser só da Roseana. Ele sabe que hoje ninguém tem maioria sozinho", disse Murad. "A classe política o idolatra, mas ele não conseguiu impedir o pessoal de sair [de sua base]. Quer uma frase? Todo mundo está onde ele mandou estar: no governo."

    Outros nomes afinados com o ex-presidente prometem surgir até junho, quando Roseana terá de formalizar se é de fato candidata ou não.

    Sua disposição é recebida com cautela. Em 2016, ela ameaçou concorrer à Prefeitura de São Luís e recuou. Naquela como nesta ocasião, a classe política local não vê a mesma determinação de campanhas passadas.

    Secretária da Casa Civil no governo Roseana, Anna Graziella Neiva afirma que a candidatura da emedebista é irrefreável e contesta a debandada de aliados. "Roseana ama o Estado e não abriria mão de lutar por ele. Já não temos mais agenda de tanto que nos procuram. Dos 217 [prefeitos maranhenses], pode botar 217", afirmou.

    No realinhamento pré-eleitoral, o vice-governador Carlos Brandão deixou o PSDB e deve levar consigo parcela dos 30 prefeitos. O partido empossou o senador Roberto Rocha seu presidente estadual e deverá lançá-lo candidato a governador para fazer palanque a Geraldo Alckmin, na disputa à Presidência.

    HERDEIROS

    A rigor, nas palavras, Roseana se despediu da vida pública em 2014. Renunciou ao governo um mês antes de encerrar o quarto mandato, não transmitiu o cargo a Dino, viajou para os EUA com os netos e disse que cuidaria da saúde. Antecipou a volta, meses depois, citada na Lava Jato.

    Sua mãe, Marly, à época afirmou que queria que o caçula, Sarney Filho (PV), assumisse a frente política da família, mas o desejo da matriarca esbarrou no potencial eleitoral do filho. Na avaliação de interlocutores da família, carisma e votos são especialidade de pai e filha.

    A expectativa é que, concorrendo ao governo, Roseana puxe votos para o irmão disputar o Senado depois de 35 anos de Câmara, ao lado do fiel aliado da família Edison Lobão (PMDB).

    Por ora, nenhum herdeiro da terceira geração despontou. O filho de Zequinha, deputado estadual Adriano Sarney (PV), 37, é visto como pouco combativo –lembrado, por exemplo, pelo projeto que instituiu o Dia da Poesia.

    A sua prima distante e colega de Assembleia Andrea Murad (MDB), 36, filha de Ricardo, é, por sua vez, considerada combativa demais. Líder da oposição formada por 5 dos 44 deputados, não teria perfil de Executivo.

    A unir o grupo de Sarney, o discurso de que Dino "persegue" seus adversários é ecoado de parte a parte. "Tem uma coisa nele de muita perseguição. Não libera emenda para quem não o apoia. Quem não gosta do Flávio tem que fingir que gosta", disse Andrea.

    Para Ricardo Murad, Dino não mudou a forma de fazer política dos Sarney. "Não critico a Roseana, critico o modelo que ela recebeu e não teve a capacidade de renovar", afirmou. "E Flávio Dino copia, é igualzinho. A cooptação política, a tentativa de ter todas as alas do seu lado. Pelo voto, faz-se tudo."

    "Quando eu assumi, o Portal da Transparência tinha nota 2 na CGU. Hoje tem nota 10. É um salto de transparência administrativa e cumprimento da Lei de Acesso à Informação", rebate Dino.

    Enquanto os Murad já falam em apoiar Alckmin, da parte dos Sarney ainda insiste em Lula. Os dois ex-presidentes têm boa relação, mas o afastamento entre PMDB e PT após o impeachment de Dilma Rousseff dificulta.

    "A decisão é do diretório, mas a tendência é apoiar Dino. Mesmo que o PCdoB mantenha a candidatura de Manuela D'Avila, se ocorrer segundo turno, eles virão conosco e têm tido lealdade", diz Rui Falcão, ex-presidente do PT.

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