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    Lava Jato

    Caciques do Senado na mira da Lava Jato terão reeleição difícil

    TALITA FERNANDES
    DE BRASÍLIA

    25/12/2017 02h00 - Atualizado às 14h51

    Pedro Ladeira - 11.jul.2017/Folhapress
    Plenário do Senado; na eleição do ano que vem, dois terços dos senadores serão renovados
    Plenário do Senado; na eleição do ano que vem, dois terços dos senadores serão renovados

    Com o encerramento dos mandatos de dois terços dos senadores, os principais caciques do Senado vão às urnas em 2018 em um cenário adverso: terão de explicar ao eleitor as acusações das quais são alvo, propor saídas para a crise política e enfrentar menor disponibilidade de recursos para financiamento de suas campanhas.

    Dos 54 senadores cujos mandatos chegam ao fim, 21 respondem a investigações no STF em ações da Lava Jato ou desdobramentos.

    Neste quadro, estão nomes de destaque na Casa como Renan Calheiros (MDB-AL), Romero Jucá (MDB-RR), Aécio Neves (PSDB-MG) e o presidente Eunício Oliveira (MDB-CE). Será a primeira eleição geral após o STF ter proibido o financiamento empresarial, em 2015, e depois de a classe política ter sido atingida pela Lava Jato.

    Segundo colocado na corrida presidencial em 2014, Aécio agora enfrenta dificuldades para firmar sua candidatura à reeleição.

    O mineiro enfrentou forte desgaste em 2017 após ter sido gravado pelo empresário e delator Joesley Batista. Foi denunciado pelos crimes de obstrução de Justiça e corrupção passiva e afastado duas vezes do mandato pela Justiça.

    Por meio de sua assessoria, o tucano não confirmou se disputará uma vaga no Senado, mas disse que, na avaliação de seu grupo político, "uma candidatura majoritária é o melhor caminho para que o senador possa responder às acusações de que é alvo e repor a verdade".

    DISTÂNCIA

    Réu no STF por crime de peculato e alvo de inquéritos na Lava Jato, Renan passou a cuidar de sua reeleição desde o início de 2017. Ele se distanciou de Michel Temer e passou a fazer oposição a medidas como as reformas trabalhista e da Previdência.

    Além disso, intensificou as agendas no interior de Alagoas ao lado do governador, Renan Filho (MDB).

    Com a iniciativa, ele pretende minimizar o impacto de recursos mais escassos para a campanha. "Acho que será uma eleição de corpo a corpo. Será preciso gastar sola de sapato e conversar muito com as pessoas. Com menos dinheiro, contará muito o serviço prestado aos municípios nos últimos anos. Teremos que mostrar o que fizemos pelas pessoas", afirmou, por meio de sua assessoria.

    Para se defender das acusações, Renan tem subido o tom nas críticas contra Temer e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso no Paraná. "Acredito que a Lava Jato não será um problema para mim. As pessoas já entenderam que houve excessos e acusações injustas", disse, em nota.

    De olho nas urnas, Eunício tem se voltado a agendas com o governador Camilo Santana (PT), no interior do Ceará. Ao lado de Santana, seu adversário nas eleições de 2014, ele tem reforçado que ajudou a levar obras importantes para a região, como a transposição do rio São Francisco.

    Empresário com patrimônio de R$ 99 milhões declarado à Justiça eleitoral, Eunício não deve ter dificuldade em custear sua campanha.

    O peemedebista afirma que as novas regras trouxeram mais equilíbrio entre os candidatos. "Antes o céu era o limite, o autofinanciamento poderia ser de R$ 1 bilhão, 1 trilhão ou um tostão. Nós botamos o teto. O que aconteceu foi uma evolução."

    Sobre as acusações existentes contra ele na Lava Jato, Eunício diz que ficou "chateado" e que as suspeitas não têm fundamento. Ele é acusado de ter vendido medida provisória. Segundo ele, a delação é infundada. "Tenho convicção de que vai ser arquivado. Eu tenho apenas inquérito, não denúncia."

    CONTROLE

    Outro cacique investigado e que vai disputar a reeleição é o líder do governo no Senado, Romero Jucá. De Estado com número reduzido de eleitores, ele tem controle sobre a política local e não deve enfrentar dificuldades.
    Em sua defesa, vem afirmando que as acusações são "armação" do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

    A Lava Jato coloca em risco ainda candidaturas como a da senadora Marta Suplicy (MDB-SP), mencionada nas delações da JBS e da Odebrecht. A senadora enfrentará dificuldade com seu tradicional eleitorado petista, na Grande São Paulo. Ela trocou em 2015 o PT pelo MDB.

    Outro senador por São Paulo, o tucano Aloysio Nunes, também terá uma reeleição apertada. Ministro das Relações Exteriores, afirmou via assessoria que pretende se desincompatibilizar em abril para se candidatar.

    *

    JÁ TE VI
    Investigados em inquéritos da Lava Jato ou desdobramentos devem concorrer à reeleição no Senado

    Acre
    Jorge Viana * (PT)

    Alagoas
    Benedito de Lira (PP)
    Renan Calheiros (MDB)

    Amazonas
    Eduardo Braga (MDB)
    Vanessa Grazziotin (PC do B)

    Ceará
    Eunício Oliveira (MDB)

    Maranhão
    Edison Lobão (MDB)

    Minas Gerais
    Aécio Neves (PSDB)
    Zezé Perrella (MDB)

    Pará
    Jader Barbalho (MDB)

    Paraíba
    Cássio Cunha Lima ** (PSDB)

    Pernambuco
    Humberto Costa (PE)

    Piauí
    Ciro Nogueira (PP)

    Paraná
    Gleisi Hoffmann (PT)

    Rio de Janeiro
    Lindbergh Farias (PT)

    Rio Grande do Norte
    Garibaldi Alves (MDB)
    Agripino Maia (DEM)

    Rondônia
    Valdir Raupp (MDB)

    Roraima
    Romero Jucá (MDB)

    São Paulo
    Aloysio Nunes (PSDB)
    Marta Suplicy (MDB)

    *Em nota, o senador afirma que seu caso não tem conexão com a Lava Jato por ter sido distribuído do ministro relator do caso, Edson Fachin, para o ministro Gilmar Mendes.

    "Vamos comprovar na Justiça que nossas campanhas foram feitas dentro da lei. O caso agora está nas mãos do ministro Gilmar Mendes. Ele vai investigar as nossas prestações de contas. Teremos a oportunidade de esclarecer a legalidade do financiamento de nossas eleições. Jamais recebemos dinheiro de caixa dois", diz o texto.

    ** Em nota, o senador afirma que seu caso não se trata de Lava Jato e que o inquérito não está mais com o ministro Edson Fachin, relator do caso no STF.

    "Espero que até a eleição [a investigação] esteja encerrada e tudo ficará definitivamente esclarecido. Sou o único caso onde o próprio delator afirma que resisti a receber doação via caixa dois."

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